Registos quase magnéticos sobre quase tudo, sem se dizer rigorosamente nada.
Nota: para todos aqueles que não comentem os posts, a tortura é serem obrigados a adquirir o livro "Desconstrutor de Neblinas", de Domingos Lobo, autografado pelo próprio.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

PELUCHE DE BOLSO

Muhammad, o Urso

O Sudão deve ser um país fascinante para se visitar ou mesmo para se viver. Apesar dos massacres às populações do Darfur, certamente pontuais e fruto de rivalidades clubísticas, os sudaneses mostram-se como um povo extremamente hospitaleiro, sempre prontos a acolher no seu regaço gente de outras culturas, com ideais e religiões diferentes das suas.
Daí que uma professora britânica, e o seu ursinho de pelúcia, tenha trocado as clássicas escolas Londrinas por um modesto colégio em Cartum. Qualquer um de nós o faria, até porque o tempo por lá é excelente e bem mais solarengo que em Inglaterra.
Mas esta aventura no Sudão não correu de feição à professora, tudo por culpa do seu urso de pelúcia. Na escola onde leccionava, decidiu levar o seu companheiro felpudo para a sala de aulas, onde pediu aos seus alunos que o baptizassem. Os alunos, que lhe podiam ter chamado “Teddy”, “Misha” ou “Abdull”, decidiram-se, depois de muito pensarem, chamar-lhe Muhammad. Deveras inovador.
Ora, o nome do Profeta dado a um urso, valeu à professora a saída da escola sob escolta (no Sudão os estrangeiros têm grandes mordomias). Da escola seguiu para uma cadeia local, onde a esperava uma multidão enlouquecida que se prontificava a linchá-la. O julgamento a que foi sujeita valeu-lhe uma condenação de quinze dias de cadeia, isto apesar do ministro da justiça, de seu nome Muhammad (não tem qualquer grau de parentesco com o boneco) ter pedido três anos de prisão e dezenas de chicotadas, para castigar a senhora por incitamento à rebelião.
Neste Islão pacífico é considerada blasfémia grave qualquer representação ou alusão ao Profeta. O simples facto de se dar o nome mais comum entre os muçulmanos a um simples boneco de peluche, quase que significou para a professora britânica uma punição violenta que se podia facilmente transformar em morte. Só que neste mesmo Islão pacífico, não parece ser blasfémia grave que a maioria dos terroristas ostente na sua graça o nome mais sagrado que por lá existe. É certo que entre baptizar um inocente boneco ou massacrar e chacinar centenas de inocentes, o crime do boneco seja incomparavelmente mais grave.
Daí que se o seu destino de férias for o Sudão e quiser levar um urso ou outro boneco qualquer na viagem, para que não tenha problemas com as autoridades sudanesas chame-lhe por exemplo José, que nem lá, nem tão pouco cá, é uma graça considerada sagrada.

Pedro

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

BOLSO ACIDENTADO

Estradas Perdidas

Os acidentes nas estradas portuguesas, que muitas vezes acontecem em zonas sem qualquer perigo e com condições de circulação ideais, sucedem-se e vão fazendo vítimas, umas mortais, outras que ficam com mazelas graves para toda a vida. Fazem-se cada vez mais operações stop para detecção de álcool e drogas nos condutores, bem como para controlar a velocidade, mas apesar do grande número de contra-ordenações, a maior parte cumpre as leis.

Continuam a escrever-se artigos inflamados sobre a mortalidade rodoviária e o Governo anuncia “mão ainda mais pesada” sobre qualquer uma destas infracções. Mas mantém-se, preguiçosamente, que os acidentes resultam do factor velocidade e do factor álcool/estupefacientes. Preguiçosamente, ainda ninguém considerou a hipótese de que, talvez, os acidentes nas estadas portuguesas se devam a duas causas bastante comuns: a inépcia e a falta crónica de civismo.
Tirar a carta, mesmo que seja à oitava tentativa no código e à terceira na condução, é muito fácil. Mas apesar de se superar, com mais ou menos brio, os exames de condução, nem toda a gente está habilitada a conduzir um carro, até porque estacionar de marcha atrás e não ultrapassar o limite de velocidade nas localidades não prepara ninguém para se sentar conscientemente ao volante de um carro. E isto é de facto uma evidência, mas que é terminantemente recusada, justificando-se o grande número de sinistros nas estradas portuguesas sempre com causas externas, e quando não as há, remete-se invariavelmente para o excesso de velocidade.
Como a má condução e a falta de civismo não constituem infracções, os acidentes sucedem-se e as vítimas aumentam. E quando o causador do acidente se “safa” com pequenas escoriações, mas a sua manobra insensata mata um e deixa outro de cadeira de rodas para o resto da vida, o que é que lhe acontece; nada!
As estradas portuguesas estão cheias de condutores que causaram acidentes e mortes por inépcia ou falta de civismo e que continuam tranquilamente a conduzir. Talvez fosse importante repensar alguns aspectos do código da estrada, para que não se tire a carta a quem estacionou em cima do passeio ou foi apanhado a 160 km hora numa auto-estrada deserta; para que não se continue a deixar conduzir quem já provocou acidentes com mortos e feridos, sem contudo ter cometido nenhuma infracção. Talvez o primeiro passo fosse retirar das estradas os condutores perigosos e sem perfil psicológico para estarem ao volante, em vez da caça à multa, que tanto dinheiro dá à polícia e ao Ministério das Finanças.

Pedro

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

EDUCAÇÃO DE BOLSO


Carta Aberta à Sr.ª Ministra da Educação


Cara Maria de Lurdes
Ainda sou do tempo em que o primeiro ano se chamava primeira classe e em que eram os professores a bater nos alunos, quando estes se portavam mal, claro, com uma cana da índia que religiosamente guardavam junto ao quadro preto. Estou velho, portanto. Mas apesar do meu tempo já lá ir bastante longe, decidi congratulá-la pela diminuição em vinte e dois por cento do insucesso escolar. É motivo de celebração, ou não? Se fosse eu, convidava os meus amigos todos, abria uma data de “pêras mancas” e bebíamos até cair para o lado.

Ainda assim, e desculpe acabar-lhe com a animação, esses números podem ser amplamente melhorados. Basta introduzir novos métodos de avaliação. Com tudo o que a caríssima tem feito, se o que lhe vou explanar a seguir for por si equacionado e adoptado para o sistema de ensino, já ninguém se irá admirar nem tão pouco contestar. Da maneira que as coisas estão, já nada espantará.
Uma forma de aumentar o sucesso escolar é acabar com a retenção ou chumbo por faltas, como também por notas ou qualquer outro caso, isto é, um aluno jamais chumbará, a menos que mate um professor. Mas ainda há mais. Repare no seguinte, um aluno que está, por exemplo, no 7º Ano de escolaridade, se for a mais de 20 aulas por disciplina pode passar logo para o 8º ou até mesmo para o 9º Ano, isto porque sabe tanto ou mais que um que lá chega atravessando todas as etapas escolares.
Este método pedagógico pode também contemplar que, um aluno do 5º ano que não falte em nenhum dos três períodos e que tenha aproveitamento para passar para o 6º, possa ficar imediatamente com a conclusão do 9º Ano e pronto para entrar no Ensino Secundário. Não será diferente de dar o 9º Ano a quem dá erros ortográficos grosseiros, não sabe a tabuada nem a raiz quadrada de 12. Até porque os miúdos de 10 anos hoje sabem tantas coisas e bem mais que alguns adultos, uns com cursos superiores.
Hoje o que interessa não é o conhecimento, mas sim a aprendizagem e o “marranço”. Bem sei que de facto os alunos avançariam de ano sem saber nada de útil, mas minha cara Ministra, não é verdade que se não tivermos de provar os conhecimentos, todos nós somos especialistas em tudo e mais alguma coisa?
Que me diz a isto? Brilhante, não? Pense neste meu singelo e indubitável contributo para a beneficiação da Educação portuguesa. Estou convencido que resultará na perfeição.
Os meus melhores cumprimentos
Pedro

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

BOLSO NOTÁVEL

"Exaltação do Prazer" - a minha singela apreciação do novo livro do meu amigo Domingos Lobo

A apresentação desta obra, de permanente busca do mais diatribe, em que se pretende apreender o facto da comunicação na sua escrituralidade, oralidade e clandestinidade remontada ao Século XVIII. O que posso acrescentar de significativo ao livro a que o autor me quer associar? Talvez muito pouco.
Antes de mais, tenho que dizer do muito apreço que me merecem os livros do José Domingos Lobo. Em “Os Navios Negreiros não Sobem o Cuando”, habituou-nos a um rigor descritivo e de análise factual que importa enaltecer.
Produzem-se hoje muitos livros, de aceitação imediata, pela habituação a códigos de leitura que não raro, desaguam em paráfrases conceptuais e temáticas. Bom, ao dizer isto, começo a encontrar uma razão para ocupar o tempo desta apresentação que o autor me concedeu. É que, de facto, é muito agradável ver não só enunciado, mas também praticado, um exercício de investigação e de escrita da história poética portuguesa, que não se fique apenas pelas formas mas que efectivamente se esforce por ir nas provas do acontecimento.
O percurso de indagação que o leitor irá percorrer nesta obra, fala-nos da difusão de ideias pela escrita, da resistência pensada da censura dos censores, da mensagem inculcadora dos arengos. Mas também nos convida a prestar atenção ao não dito, à expressão bem pesada dos silenciamentos.
Em toda a poesia aqui reunida por Domingos Lobo, o prazer da transgressão, na plena acepção da palavra, adivinha-se emancipador. O publicismo e o publicista ganham um espaço próprio numa sociedade em que se anteviam iniludíveis rupturas. Contacta-se com uma publicitação de desejos e de actos que irão desagregar uma cultura comunicacional de estatutos sedimentados.
Nos finais do século XVIII e princípios de oitocentos, talvez ainda não fosse tão duro o questionamento subsequente da liberdade versus responsabilidade, mas hoje sabemos muito bem que esses confrontos se apresentam quotidianamente difíceis. Daí que valha a pena ler este livro, onde o conjunto dos sentimentos e da razão latente nas manifestações da oralidade, da escrituralidade e da clandestinidade contribuiu para uma cultura poética associada a um público e aos seus autores.
No fundo, esta “Exaltação do Prazer” é um livro que reúne variantes formas de actuação alternativa, conjugadas numa rede poética, constituída na base de um círculo de tertúlias, gabinetes de leitura, cafés, teatros, botequins, salões, academias, bibliotecas, passeios públicos e outros locais estratégicos, onde convergia a palavra pública, a semipública e a oficiosa. Trata-se, sobretudo, e reinterpretando o conceito de espaço público liberal de Jurgen Habermas, de abrigar a totalidade das manifestações de individuação e de autonomia do sujeito, que, reivindicando a assunção individual no seio do colectivo social, apagavam a tradicional oposição entre cultura de elite e cultura popular.
Em a “Exaltação do Prazer”, o imaginário é uma diagonal da memória que é também transversal da liberdade, um modo de actualizar o passado no presente. É um acto que, no recorrer da história e na linguagem criadora, emerge como função demiúgica que se articula com a necessidade do recurso à “alquimia” da palavra, no sublime ou no belo em que o actor poético surge como a matriz chave do que pretende comunicar.
Cada contexto apresenta formas e ideias expressamente definidas, onde as figuras simbólicas não dispõem de qualquer sentido equívoco, enquanto matéria nobre que conduz ao desenho de íntimas e voluntárias confidências dos autores, onde o corpo da escrituralidade não consegue escapar aos incontornáveis desejos das memórias e onde o platónico se assume, para exprimir o desejo humano de reduzir os limites da condição, onde a intenção erótica é um aspecto capital do estratagema ou da subtileza que o homem pratica para ultrapassar a animalidade.
A procura do prazer é o sinal de um ser desejoso de negar a sua finitude, mas ao mesmo tempo, de afirmar a sua infinita liberdade de sujeito, como eminente criador de valores, fruidor do conseguido acto de pensar como acto de prazer, em que o erotismo, reconhecido como princípio de existência e de inteligibilidade, de vida e de compreensão, denunciava já, como mais tarde, a hipocrisia das sociedades. Neste sentido, o erotismo incarna a subversão que a sociedade de setecentos procurava reprimir. O discurso da sexualidade associa-se a uma hierarquia de pecados, onde habita o furor místico do êxtase, mas também da frustração, a que certamente os censores não seriam alheios, e que, ao escusarem as obras, materializavam de certa forma, penitências autopunitivas.
Objectivamente, a inovação que estas formas poéticas apresentavam, funcionava como uma legitimidade que entrou em rota de colisão com o padrão mental que forrava o pensamento tradicional, introduzindo conscientemente mudanças matizadas e suaves nos vários sectores da sociedade portuguesa. Na verdade, a combinação de todas estas “cantigas”, que falam de religião, de moral, de poesia, de literatura, e sempre de liberdade, fazem crer, a propósito de desejos reformistas, que a dissemelhança entre eles não é assim tão evidente e pode mesmo dizer-se que a semelhança é algo que não é acidental
A selecção feita pelo José Domingos, materializada no “Exaltação do Prazer”, é completamente alheia ao acaso. A linha cronológica da montagem poética é o primeiro indício da não casualidade, mas bem mais a fundo; e aí se destaca o meritório trabalho de estudo do autor; é perceptível que existe toda a intenção de fazer com que o leitor consiga compreender alguns dos objectivos da sociedade de setecentos: provocar e suster o desenvolvimento; a fabricação de estímulos; a introdução de novos métodos; a abertura a novas fontes de pensamento e reflexão. O denominador comum das pretendidas mudanças, em tão díspares conteúdos, era a combinação dinâmica das novidades e das continuidades, do reformismo e do tradicionalismo, por forma a que respondessem a algumas, “miragens”, do pombalismo: alimentar e moderar o incremento do reino e controlar o seu progresso.
É à luz deste entendimento que não pode ser ignorada a intenção do autor de compilar todo este trabalho de acção comunicacional. Consciente das dúvidas e da polémica que possa suscitar, a pesquisa foi encarada apenas como uma tentativa de aproximação a uma realidade, nem sempre visível, que se escapa e sobre a qual unicamente existem dados na literatura de cordel. Neste quadro, o conceito de novelista assenta que nem luva ao José Domingos, pela articulação ímpar que manifesta entre o escrito, entre o alfabeto, o escolarizado e o analfabeto.
Há aqui todo um exame da história do espaço público na sociedade mais liberal que existia naquela época, exame esse que permite, com efeito, notar que a sua primeira etapa é a prática das Luzes, com uma opinião muito própria dos círculos sociais - burgueses desejosos de confrontar as suas opiniões num espaço de mediação entre o Estado e o espaço privado, numa consciência burguesa que, no século XVIII, permite visualizar radicalismo e originalidade no conceito de opinião pública.
A juntar a outros títulos editados já, apresenta-se hoje mais este: “Exaltação do Prazer” – Antologia Poética Portuguesa, Erótica, Burlesca e Satírica do Século XVIII, poemas que, além da indiscutível actualidade, são acompanhados por prefácio e notas imprescindíveis ao prólogo necessário para a compreensão de cada um dos autores, uma contribuição muito válida e que fará, naturalmente, repensar o medíocre fenómeno mediático de hoje.
Sobrevalorizar ou subvalorizar um passado histórico; agasalhar intimamente as suas marcas e sinais; validar, por via da emoção o prazer da memória no seu lugar da história; prazentear as reminiscências e presentear a poética; alimentar e parasitar a lembrança, essa arte da memória, como eficaz metodologia para fecundar o mito e regenerar a sociedade mesmo que, por vezes, com efeitos perversos. Trabalho duro mas proveitoso o do José Domingos. A “Exaltação do Prazer” quebra os cânones do tradicionalismo rapace e corresponde ao que se espera em pleno século XXI.

ET SIC ITUR AD ASTRA – “e assim se chega às alturas”

Pedro

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

EXCELÊNCIA DE BOLSO

Absolutamente fabuloso... E existem muitas mais destas fotos neste link. São momentos únicos captados pelas objectivas de fotógrafos credenciados... As imagens falam por si... Espero que gostem, tal como eu gostei...

Pedro

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

PACIÊNCIA DE BOLSO

Já não há pachorra para a mediatização foleira do caso Maddie. Se os McCann vão à casa de banho, lá está um flash de máquina fotográfica e o directo de uma qualquer televisão. Já chega! A PJ não diz nada porque certamente nada sabe. Suposições para aqui e para ali, mas nada de concreto. A mediatização tem sido inimiga da investigação, um bom jogo de cintura para quem arquitectou este plano.

Uma última nota, direitinha para o criminalista/ex-inspector da PJ/argumentista/escritor/Presidente da Câmara de Santarém Moita Flores. Como se pode gerir os destinos de uma autarquia que se encontra falida e que necessita de alguém competente à frente dos seus destinos para fazer com que a capital de Distrito "tire o pé da lama", se o Presidente passa a semana a "pular" entre noticiários e programas de entretenimento, mais preocupado com o caso Maddie McCann do que com os seus munícipes?


Pedro

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

TASCA VITRUVIANO


O Vosso tanque General, é um carro forte
Derruba uma floresta esmaga cem Homens,
Mas tem um defeito
- Precisa de um motorista
O vosso bombardeiro, general
É poderoso:Voa mais depressa que a tempestade
E transporta mais carga que um elefante
Mas tem um defeito
- Precisa de um piloto.
O homem, meu general, é muito útil:
Sabe voar, e sabe matar
Mas tem um defeito
- Sabe pensar

Bertold Brecht

terça-feira, 28 de agosto de 2007

BOLSO TINGIDO

Surto de gripe das aves com fim à vista?

A saída de Fernando Santos do comando técnico do Benfica foi um momento de júbilo para sócios e simpatizantes do clube. O chamado engenheiro do penta, mais não fez do que conduzir sofrivelmente o clube de coração de milhões de portugueses, numa época de altos e baixos; mais baixos que altos; onde só por duas vezes se conseguiu ver o glorioso jogar futebol de qualidade – no jogo de apresentação aos sócios em Agosto do ano passado e no jogo com o Boavista no estádio da Luz.
Um losângulo invertido com dois médios defensivos onde um deambulava ora pela direita, ora pela esquerda, uma equipa acanhada que não procurava os espaços e só corria, pouco, quando tinha a bola nos pés. Uma equipa que nunca se estendeu no terreno, que nunca jogou pelas alas, apesar do mago Simão ser um dos melhores do mundo a jogar nesse sistema de ataque. Um fraco Benfica, que durante um ano nunca se assumiu como colectivo/equipa, pois o comandante da nau mais não sabia para bolinar. Havia que perceber quais os jogadores à disposição para depois tentar formar uma equipa. Fernando Santos nunca o conseguiu e, teimosamente, bateu sempre na mesma tecla, o que acabou por lhe ser “fatal”.
Tudo o resto pode não estar certo, que não está, mas a saída de Santos já veio tarde.
Com Camacho; que não faz milagres; o Benfica vai certamente assumir-se como equipa de ataque e, seguindo os que julgam perceber muito de futebol, irá jogar um futebol mais apelativo e espectacular. O balneário das águias terá mais saúde, uma maior consistência e cumplicidade, pois nisso Camacho ganha aos pontos a Santos. O factor psicológico dos jogadores é de grande importância para a fluência do futebol à flor da relva e nisso, Camacho “sabe da poda”.

Pedro

terça-feira, 21 de agosto de 2007

BOLSA CULTURAL



Águas de Agosto

ESTADO DE (DES)GRAÇA


Vivemos tempos perniciosos, confusos, perturbadores. Começamos, porque a globalização capitalista nos exige, a aprender novas línguas, inglesismos rafeiros quase desde o berço, porque a concorrência, o mercado, o Sócrates exigem. Vivemos realidades novas e bárbaras que aceleram, quase até ao absurdo, a nossa desumanização. O capital precisa de máquinas acéfalas não de massa crítica: para isso existem as elites, os berardos (não se riam), o mota, os belmiro, a Ópus Die e toda a tralha seguidista e bajolante.
Não nos basta já que as máquinas nos devolvam, fria e despudoradamente, a noção trágica da nossa pequenez, da nossa insignificância intelectual, que as máquinas nos reduzam a meros artífices de uma realidade tecnológica que nos ultrapassa e, tal como no Admirável Mundo Novo, nos controlará num futuro cada vez mais próximo e assustador: os pequenos títeres deste nosso estreito e misérrimo país, começam também a querer controlar-nos a vidinha, a vigiá-la para melhor nos dominarem. Começam a filmar-nos em lojecas, bancos e nas avenidas das nossas desesperadas cidades (com o pretexto de nos protegerem e quiçá, nos salvarem) para mais facilmente nos apanharem se, por acaso, nos rebelarmos contra o sistema mais do que ele, em sua generosidade democrática, permite.
Vivemos hoje o efémero, o precário, o desabitar dos hábitos, das culturas que nos fundam e das convicções morais e cívicas. Vivemos um tempo de fugas, de instintos cegos e selvagens, do salve-se quem puder, de quotidianos cinzentos, desapossados de sonhos e de esperança regeneradora. Nesta voragem, todos os atropelos são, aparentemente, legítimos, toda a dignidade ultrapassável, toda a ideologia uma utopia de ingénuos, “restos do marxismo que apodrecem no meio de nós”, como o designa esse “fóssil” da direita mais rafeira e ressabiada que é Vasco Pulido Valente.
O romantismo (que com este nosso século conviveu até tarde, pelo menos até aos alvores do “modernismo marineteano”) era a perenidade dos sentimentos e das acções apaixonadas. Amava-se com o corpo a pulsar inteiro, sonhava-se o devir, o homem novo e liberto, um mundo sem senhores nem escravos – livre de exploradores e explorados, pois claro. Utopias, ranço marxista, dirá o “lúcido” ideólogo Pulido. No entanto, tempos generosos, ingénuos talvez, mais sentidos do que pensados (mas os anti-decarteanos não defendem que toda a acção é sentido antes de ser pensada?) mas de avanços iniludíveis para o homem e a sua condição.
Depois dos muros que tombaram, os sentimentos passaram a ser esdrúxulos, os movimentos e as ideias deixaram de ser “sequer a sombra do romantismo ao meio-dia”, como diria o Pessoa. Chegaram os Busch e acólitos, a História, dizem, esboroou-se no estertor das “torres gémeas”, as ideologias passaram a velharias de pataco. Ficamos sós, entregues à voragem dos Financial Times, do PSI 20, do Diário Económico, do Pentágono, dos critérios nominais, da moeda única, do pensamento único. O yupismo saloio, apressado e redutor do cavaquismo, caiu sem dor aparente, desmoronando-se sem dor nem glória face ao serôdio guterrismo, velho à nascença, que durou um Verão e nos deixou nos braços rapaces da direita folclórica e espertota, a servir de mordomo e tapete ao imperialismo e a desembarcar ufano nos salões de Bruxelas. Depois das santanices anedóticas de passagem, eis-nos chegados, como de resto merecíamos, esplendor do xuxialismo socrático. E é bem feito. Um Estado de (des)Graça que os deuses, sempre atentos a este cadinho de mar com terra à vista, nos destinaram para expiação de inenarráveis pecados: é bem feito!



UM LIVRO

ALEXANDRE O’NEIIL – UMA BIOGRAFIA LITERÁRIA


Maria Antónia Oliveira traça, nesta biografia do grande poeta de No Reino da Dinamarca, o retrato impressivo de um tempo português singular e das gerações literárias, artísticas e da esturdia de uma Lisboa remansada mas viva, que o sentiram e, mesmo agrilhoados, o imaginaram e mitificaram.
Lê-se de um fôlego, como se de um romance se tratasse. Um grande livro





UM POEMA

Caixadòclos


- Patriazinha iletrada, que sabes tu de mim?
- Que és o esticalarica que se vê.

- Público em geral, acaso o meu nome...

- Vaio mas é vender banha de cobra!

- Lisboa, meu berço, tu que me conheces...

- Este é dos que fal sozinhos na rua...

- Campdórique, então, não dizes nada?

- Ai tão silvatávares que ele vem hoje!

- Rua do Jasmim, anda, diz que sim!

- É o do terceiro, nunca tem dinheiro...

- Ó Gaspar Simões, conte-lhe Você...

- Dos dois ou três nomes que o surrealismo...

- Ah, agora sim, fazem justiça!

- Olha o caixadóclos todo satisfeito

A ler as notícias...

Alexandre O’Neill – FEIRA CABISBAIXA, 1965



UM FILME

CORAÇÃO BRANCO, CORAÇÃO NEGRO, de Clint Eastwood


Eastewood é John Wilson, um cineasta inteligente e inspirado – baseado na figuar do lendário John Huston – que está decidido a transformar o seu próximo filme, a ser rodado em África, numa aventura pessoal; uma caça ao elefante. Jeff Fahey, Marisa Berenson e George Dzundza encarnam algumas das personagens que o acompanham nesta atribulada e excitante aventura ao coração continente negro. Uma história memorável com um guião da co-autoria de Peter Viertel, que colaborou intimamente com Houston na rodagem de “A Rainha Africana”, em 1950.
José

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

JUDICIÁRIA DE BOLSO

Voltámos a ter o caso do desaparecimento da pequena inglesa a fazer manchetes dos periódicos e a abrir os noticiários das televisões portuguesas. Agora fala-se que Maddie pode estar morta, na sequência de um acidente que se imputa aos pais. A Judiciária não diz nada e bem, mas especula-se um pouco por todo o mundo. Os ingleses criticam, mas podiam olhar para dentro e fazer a conta de quantas crianças a polícia britânica conseguiu resgatar em situações semelhantes.
Não consigo conceber que a memória selectiva dos pais tenha construído uma farsa mental para esconder a dor da morte da filha. É um pouco absurdo ouvir isso na televisão. Se existem casos destes são desvendados rapidamente. Aqui, já lá vão 3 meses e a dor é visível na cara dos progenitores. E não é uma dor de perda total, é sim uma dor de quem não sabe nada sobre um filho, menor e indefeso. É pior não se saber de alguém, que chorar a sua perda...
A Judiciária é, ainda, considerada como uma das melhores polícias de investigação do mundo (e recursos técnicos são mínimos). Neste momento estão a ser "observados" meticulosamente pelos olhos de meio mundo e não podem "ficar mal na fotografia". Aguardemos, porque a verdade virá ao de cima.


Pedro

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

FESTA NO BOLSO (hoje um tema muito "caseiro")

Hoje é dia de Festa. É Agosto e os emigrantes voltam a Benavente para mais uma edição da Festa religiosa em honra de n. Sr.ª da Paz. Largadas de toiros, espectáculos musicais, quermesse, fogo de artifício (e sem este não há festa); enfim, até dia 07 não há um dia sem animação nesta pacata vila. É tempo de férias, de calor, e aí está a Festa. Valha-nos isso, para momentâneamente nos esquercermos das agruras do dia a dia e do estado sitiado do país. Valha-nos isso, porque os arraiais se repetem por todo o país neste "querido mês de Agosto" e a "malta" quer é festas... e "copos", porque "tristezas não pagam dívidas".

Pedro

quinta-feira, 26 de julho de 2007

IMAGINAÇÃO DE BOLSO

Andava a navegar pela net e vi isto:

Salazar
Outrora
Caiu…
Ressuscitou
Agora
Transformado
Em
Socialista…



Está giro... Há malta com uma imaginação... Deveras! É de quem tem pouco para fazer.


Pedro

sexta-feira, 20 de julho de 2007

POLITIQUICES DE BOLSO

Depois de quase uma década sem escrever por aqui, faço-o agora sabendo que só eu irei ler o comentário, mas faço-o na mesma.
António Costa, ex-ministro da presidência do governo PS e do nosso “amigo” Sócrates foi eleito pelos portugueses para liderar os destinos da capital Lisboa. Anda tudo a dormir, só pode! O governo faz o que faz e o PS ainda ganha eleições, ainda por cima na “capital do mundo”!
Se o PS tem liderado a belo prazer, agora, tem caminho aberto para continuar a hecatombe. A Portela será desmembrada e o novo aeroporto ruma para a Ota, ou existem dúvidas? Para quem as tem, aqui fica o registo de que o projecto apresentado à União Europeia para candidatura a fundos europeus para as obras TGV e Aeroporto Internacional, levavam a Ota como único e exclusivo local para descolagem e aterragem futura de aviões.

Pedro

sexta-feira, 11 de maio de 2007

NO BOLSO DO ALGARVE

O país e o mundo estão em alerta e choque (especialmente Inglaterra e Portugal) com o desaparecimento da criança britânica no Algarve. De facto é uma situação preocupante, mas a história não tem os contornos bem definidos. Desde a negligência dos pais a deixarem 3 filhos menores de cinco anos sozinhos num quarto de hotel num país estrangeiro, até ao facto das buscas da polícia se confinarem a uma área de apenas 15 quilómetros. Há coisas não encaixam. Em todo o caso, uma palavra de apreço ao contingente da PJ e GNR para lá destacado. Temos dos melhores investigadores criminais do mundo e parece-me que o “faro” policial está bem apurado. Esperemos que consigam deslindar esta situação e que a menina se encontre bem.
Resta-me deixar por aqui umas perguntinhas:

E se a criança raptada fosse portuguesa e filha de um guardador de rebanhos da beira alta. Será que a investigação e o mediatismo televisivo era igual ao desta infeliz situação?

Se isto não se passasse no Algarve, destino turístico de excelência, com uma família estrangeira em férias, o contingente policial também seria de 30 homens que vasculhariam incessantemente todos os recantos durante oito dias seguidos?

Como acontecem situações destas? Isto não é por acaso e não será um rapto de oportunidade. A criança já andaria debaixo de olho? Se sim, o raptor ou raptores serão ingleses?

Em todo o caso, ainda bem que a comunicação social está a cobrir toda esta situação. O mediatismo exagerado que o caso está a ter (e não é para menos, pena é que hajam 2 pesos e 2 medidas) pode provocar o medo no raptor e fazer com que ele acabe por soltar a menina. Esperemos que isto aconteça e que tudo corra pelo melhor. Quanto à nossa polícia, continuem a apertar o cerco...

Pedro

terça-feira, 8 de maio de 2007

BOLSO DE VOTOS

Não há três sem quatro

O PS dá-se mal com o sistema democrático. Chegado ao poder em 2005, com uma maioria absoluta, conseguida mais por demérito do PSD, que após o furacão desastrado, canhestro e boçal de Santana Lopes, só podia conduzir a esta mediocridade ufana e cinzenta do sócratismo. O partido da rosa pálida (e murcha) já conta com três derrotas sucessivas: autárquicas, presidenciais e regionais da Madeira.
O povo português, que tem memória curta mas algum bom senso e faro para estas coisas de meter o papelinho na ranhura, prepara-se, esperamos, para mandar estes senhores, que têm pugnado por fazer regredir o país a níveis civilizacionais, políticos e económicos próximos do tempo do “Botas” (baixa galopante do poder de compra; escolas que encerram; urgências a saque; precariedade no emprego; polícias cada vez mais vigilantes e dispostos a malhar nos costados de quem ouse indignar-se, etc.) para casa tratar da vidinha à custa do suor próprio, longe das subvenções estatais e dos dinheirinhos dos nossos impostos.
O próximo teste à candura deste PS será a 30 de Maio, com a greve geral que a CGTP prepara para, mais uma vez mostrar a estes senhores que o povo é quem mais ordena.
O povo de França, o povo miúdo, humilhado e explorado, ao qual o Sr. Sarkozy chamou “canalha”, prepara nas ruas das grandes cidades da pátria de Rousseau, um novo Maio 68. A indignação está nas ruas e, se o neo-liberalismo continuar a aguçar o dente cariado, será imparável. Se os tecnocratas de Bruxelas e apaniguados, não escutarem os clamores das ruas, a Europa prepara-se para novas e graves convulsões sociais.
Ao PS, só falta o teste da Lisboa pós- Carmona. A quarta derrota, previsível, desta social democracia de imitadores pindéricos, em que se transformou o partido de Mário Soares, está na calha.


José

segunda-feira, 7 de maio de 2007

BOLSO COM PIADA

A RTP1 passa aos Domingos à noite, num horário acessível, uma série de produção nacional que se chama “conta-me como foi” e que retracta, para já, os anos em que o país vivia sob o regime do Sr. António Presidente do Concelho Oliveira Salazar. Com alguma piada, apesar de naquele tempo as coisas serem bem mais cinzentas do que o mostrado, somos transportados numa viagem no tempo para a altura em que a Assembleia da República se chamava Assembleia Nacional. As situações têm a sua piada, também pela falta de “luz” que assolava o país, e isso está bem retractado, mas acima de tudo mostram a como se vivia naquele tempo, se bem que em Lisboa, local onde decorre a acção, as coisas eram bem diferentes do que se passava por exemplo em Benavente.Contudo, a série foi bem conseguida e a RTP está de parabéns, apesar de algumas falhas, propositadas ou não. A inserção na grelha de programas, logo a seguir aos gatos fedorentos, também mostra que a RTP quer dar dignidade a uma série que também ela tem, para mim, esse estatuto. Era bom que muita gente pudesse passar os olhos pela RTP1 aos Domingos à noite, até porque talvez se aprenda alguma coisa, no entanto o concorrente de peso (para o nível da nossa cultura) chama-se a bela e monstro ou lá o que é; por isso é bem possível que o “conta-me como foi” seja a expressão utilizada às segundas de manhã, por quem não viu a TVI, e não quer perder os detalhes de mais uma novela infeliz da vida não real.

Pedro

sexta-feira, 27 de abril de 2007

VOLTÁMOS, MAS COM O BOLSO ROTO

Já há mais de uma semana que isto por aqui está morto. Depois queremos que isto tenha mais que duas visitas por dia. Impossível! Mas, apesar de isto ter andado morto há uma semana, nem por isso o país tem deixado de fervilhar de polémicas. Todos os dias chovem novos temas. Um país tão pequeno, quem diria que por cá isto tem assim tantos assuntos.
Pois, isto tem estado mesmo morto, porque a malta tem andado ocupada e sem tempo para pensar no blog, mas, voltámos, e vimos cheios de força para o escárnio, para a paródia e para, enfim, para tudo quanto seja dizer mal do que não estiver bem. O outro, que já lá está coitado, cantava que tinha voltado de França, apesar de no dia anterior ainda por lá andar. Pois nós, por cá, não voltámos de França, mas voltámos ao normal e vamos continuar a dar porrada com força em tudo e todos.
Aguardem a próxima semana. Estamos a preparar a reentré, em sigilo, conspirando na sombra, para que o próximo tema que aqui aparecer seja, pelo menos, melhor que este que estou a escrever aqui à pressa só para que isto não fique quase 15 dias sem uma nova entrada. Por isso, perdoem qualquer coisinha, mas de facto, estas duas últimas semanas não foram fáceis, e dêem-nos uma nova oportunidade.

Pedro

quinta-feira, 19 de abril de 2007

VIOLÊNCIA DE BOLSO

No dia em que passam oito anos do massacre de Columbine (EUA), contamos apenas quatro dias sobre as mortes na Universidade da Virgínia (EUA). Se há oito anos, dois jovens decidiram comprar armas na Internet para atirar a tudo o que mexia, acabando por matar doze inocentes antes de se suicidarem, na segunda-feira, morreram trinta e uma pessoas às mãos de Cho Seung Hui.
São dois exemplos, claros, das graves perturbações que a sociedade de hoje provoca nas mentes mais desamparadas. A “Terra das Oportunidades” é pródiga em violência com armas de fogo, talvez porque a venda de armamento é tão liberal como comprar um chocolate, ou talvez por ser uma grande fonte de receitas para os cofres do estado americano. Em todo o caso, estes dois massacres em instituições de ensino, têm origem na facilidade com que hoje se tem acesso a seja o que for que interesse, bom ou mau.
Perturbações Mentais, sempre a mesma “roupagem” para actos irreflectidos e de grave calibre. Por outras palavras, são tontinhos, mas nunca lhes dá para baterem com as cabeças nas paredes (a malta que por cá ateia fogos sofre sempre do mesmo problema).
Ora, se este jovem sul coreano, chamou mártires aos “colegas de profissão” de Columbine, o que fez foi para lhes prestar homenagem? Conclusivamente, permito-me afirmar que a morte assentou bem tanto Eric e Dylan (os adolescentes de Columbine) como a Cho Seung Hui. Só foi pena, já que estavam tão descontentes com a vida, não se terem lembrado de mandarem uns balázios nas próprias cabeças, ao invés de matarem inocentes. Nunca lhes dá para aí.

Os vídeos e as fotografias enviadas para a cadeia de televisão americana NBC são de facto perturbadores, não por serem extrememente violentos, que não são, mas pelo facto de não se perceber o que se passava na cabeça de Cho Seung Hui, e isso é o que nos deixa confusos. Como se chega a um estado mental daqueles?

http://xl.sapo.pt/noticias.html

Pedro

sábado, 14 de abril de 2007

CANUDO FORA DO BOLSO

Algumas anotações curiosas, mas muito privadas.

O nosso primeiro não é engenheiro, ou afinal é, ou parece que é só técnico, ou se calhar é advogado. Bom, parece ser comum que quando alguém se forma em engenharia ganha um nome antes do que lhe foi registado pelos paizinhos. Seja como for, um engenheiro técnico também é engenheiro, ou não?
(primeira anotação privada: será que o Sócrates podia trabalhar na Soares da Costa?)

O homem que governa os destinos do nosso país, parece que terminou a última cadeira; de alvenaria; a um Domingo. As Universidades funcionam aos Domingos? Bom só se forem as privadas. Privadas significam que se tem de pagar altas propinas. O nosso primeiro também pagou para tirar o curso...
(segunda anotação privada: alguém que tenha um curso de engenharia é engenheiro ou licenciado em engenharia?)

Na verdade, a minha inspiração está de rastos. Quase não consigo juntar duas frases e sempre achei que era “bater mais no ceguinho” vir para aqui falar do curso do Sócrates. Mas andava pela net a ver coisas com piada e outras nem tanto e apareceu-me a imagem da t-shirt. Tinha de a colocar aqui e então decidi escrever estas patacoadas sem jeito e sem nexo, até porque sei que os leitores assíduos do conversas estão sempre à espera do meu escárnio.
(terceira anotação privada: a ideia de ler este blog pelo telemóvel aos amigo(a)s é excelente e só mostra que o pessoal que por aqui passa os olhos nos acha piada. Deixem é comentários para isto animar, ou será que não vale a pena?)

Voltando à UNI e ao seu mais aplicado aluno; que até faz exames ao Domingo; resta-me dizer que não considero que seja necessário saber o que é o
externocleidomastoideu para se ser político ou para se ocupar um cargo qualquer importante; o que é preciso, isso sim, é ser-se sério, honesto, trabalhador e colocar os interesses da nação acima dos pessoais.
(quarta e última anotação privada: se o Sócrates trabalhasse numa empresa de fabrico de papas, numa empresa de higiene e papel ou numa oficina de mecânica – seja ela automóvel ou de máquinas agrícolas - , qual seria o melhor cargo para ele ocupar?)

isto está tão fraco que até fico com remorsos em colocar aqui o meu nome, mas cá vai...

Pedro

sexta-feira, 13 de abril de 2007

BOLSO DE POESIA

José Carlos Ary dos Santos, Poeta de Abril

Conheci o Ary dias antes da publicação do seu “Liturgia do Sangue”. Ary tinha feito as últimas revisões e o livro sairia do prelo semanas depois. Nessa noite, uma dessas noites tristes e chuvosas da Lisboa de 1963, estivemos na Trindade a mordiscar cerveja, com a Natália Correia, o Diogo (irmão do Ary), o Vladimiro Franklin, o Dórdio Guimarães, e mais uns putos, como eu fascinados pela verve tumultuosa e o deslumbre de um talento sem freio, desse poeta desafiador de normas em pátria barricada de esquinas com ouvidos nas sombras e preconceitos lorpas. Lembro-me de termos passado pela Brasileira do Chiado e o Ary ter gritado para dentro do café “bichas de sacristia”, para provocar a ira dos pides que, enfastiados de vigília, fingiam reler o “Diário da Manhã” e “A Época”. Passámos na Sá da Costa a cumprimentar o Fernando Assis Pacheco, que perorava, com o ar mais desatento deste mundo, frente ao seu “Cuidar dos Vivos”, debruando o tempo até regressar à banca do nosso Diário de Lisboa.
Caramba! Todos mortos! A todos os acasos do andar pela vida tirou o tapete, deixando-os mergulhar em terra rasa muito antes do último round. Os deuses não perdoam aos poetas a palavra liberta e fecunda que estruma o nosso chão.
Desse grupo, ao tempo ainda sem palavras por dizer, resto eu. Isto, porque os anjos andam cegos e não me descobrem nestas veredas por onde ando a tentar desconstruir os signos, a acender, já sem ânimo, o fogo no lastro das palavras.
Nessa noite de 1963, Lisboa da modorra cinzenta e dos gritos fugazes, com guerra nas colónias e discursos do “botas” na televisão, dizíamos no Rossio, com os náufragos da noite por ouvintes espantados, o “Intróito”, o “In Memoriam”, “Ou Arcanjo ou Ladrão”: poemas? Claro, e belíssimos; hinos nossos seriam.
Depois, vieram os “Adereços, Endereços”, Aristóteles visita de casa de minha avó, “O Objecto”; há que dizer-se das coisas o somenos que elas são. Herança revisitada do humor mais sagaz da nossa língua, a morder a entretela do luso pasmo.
“Insofrimento In Sofrimento”, escrita madura, as raízes mais fundas de uma ternura a explodir em torrente lírica. “Fotos-Grafias”, retratos de deuses, companheiros nossos, gente da boémia, das letras, dos excessos, do sexo, das margens e da esturdia – da vida a trespassar os limites do corpo e da fala. “Resumo”, a assumir a poesia como arma de transformar o mundo, de abrir clareiras ao fechado entendimento de um povo sujeito a 50 anos de temores e silêncios prostrados. E, depois, esse grito maior do nosso contentamento: “As Portas que Abril Abriu”. E “O Sangue das Palavras”, o sarcasmo e a luta, a rebeldia, o desatino, a coragem. De novo uma pausa, a partitura maior de uma escrita sempre a deslumbrar-nos, “VIII Sonetos” de amor e reconhecimento/recolhimento, de lisura, de generosa dádiva.
Estamos ainda os dois no Rossio, a olhar a água chilra das fontes e da chuva. Eu, com dezassete anos tímidos e borbulhas parvas, tu, com muitos livros na barriga, prontos a parir, a partir pelo mundo, com o génio a arder no verbo rasante, na palavra demolidora ou serena, na garganta rouca de gritar as palavras urgentes, ou na suave melodia de um fado desta Lisboa nossa, a despertar: “É da terra sangrenta. Terra braço/terra encharcada em sangue e em suor/que o homem pouco a pouco passo a passo/tira a matéria-prima do amor”.
Até sempre, até breve companheiro. Camarada. Poeta maior de Abril. De Abril e Maio. De todo o tempo. Para sempre. Porque, como tu escreveste e nós sabemos “as entranhas da terra hão-de passar/o tempo da humana gestação/e parir como um rio a rebentar/o corpo imenso da Revolução”.

José

segunda-feira, 9 de abril de 2007

BOLSA DOS DEUSES

Deus e o Irracional Colectivo

A história das religiões está, para o bem e para o mal, intimamente ligada à história das civilizações e, consequentemente, à história da evolução da humanidade.
Não vivemos, por mais agnósticos ou ateus que nos assumamos, fora dos universos do sagrado. As religiões e os seus signos, ocupam papel determinante no imaginário criativo dos povos e é-nos impensável imaginar as diversas vertentes da criação artística alheias ao simbolismo dos referentes mitológicos do sagrado. Por muito que o tentemos contornar, a cultura judaico-cristã e islâmica que nos funda, aparece-nos no léxico mais vulgar, na arquitectura, na toponímica, nos comportamentos que o subconsciente absorveu e hoje integram a nossa cultura e as particularidades de ser e estar e olhar o mundo.
Séculos de convívio com as religiões, sobretudo num povo de diásporas como o nosso, foram-nos moldando o inconsciente colectivo, impregnaram-nos a linguagem, a música, a pintura, a escultura, a implementação sistémica das urbes – os símbolos religiosos e a sua prática são os nossos determinantes civilizacionais, mesmo quando os negamos. Somos o que fomos, herdeiros todos de universos alheios.
Salman Rushdie o autor de Versos Satânicos, entende que “Deus foi o maior erro da humanidade”, afirmando que Deus é uma invenção do espírito humano, um Deus abstruso “que nunca falou com os seres humanos”, uma abstracção, portanto. Mas, apesar de todos os racionalismos contemporâneos, nunca como hoje as questões religiosas foram motivo de debate e de reflexão. Trata-se de uma discussão contínua que poderá, ou não, ressalvar um novo paradigma: Deus e a Fé, deixaram de ser Dogmas, para se tornarem questões de debate e motivos questionáveis sobre os fundamentos da nossa civilização.
Deus, como invenção do Homem, e voltamos de novo às teses de Salman Rushdie, tornou-se no maior erro da humanidade, porque o indivíduo ao criar o Divino para “compreender melhor a sua origem e a razão da sua existência”, para não se achar no “vazio existencial” como refere Sartre, encontrou não a solução para as suas perplexidades mas um vasto campo conflitual. Ou seja, não encontrou solução mas uma pluralidade de problemas que têm servido ao longo dos séculos de caldo de cultura a constantes desaires históricos e para o definhar da humanidade, como hoje se verifica no Iraque. Deus não constrói a bomba, como diz Saramago, mas alguém em seu nome não coíbe de a utilizar.
Assim, Rushdie, como indiano que é por nascimento, defende que a solução futura estará no Politeísmo. Na Índia existem 300 milhões de deuses para mil milhões de habitantes. Percentagem razoável e democraticamente equilibrada, convenhamos. Mas essa pluralidade expurgará as lutas pelo poder hegemónico da crença que arregimente mais seguidores, processe sempre no fio das exclusões redutoras que está na génese das práticas religiosas e que, em extremo, conduz sempre à violência? Penso que nunca o saberemos. D. João III, enquanto principal responsável pela saída dos Judeus de Portugal, não esteve, com essa atitude extrema, na origem remota do nosso atraso cultural e económico? E a matança, em 1506, de 4000 Judeus e Cristãos Novos, a incitamento da Fradaria Dominicana, foi próprio de um povo de brandos costumes, ou apenas consequência do irracional colectivo que a todos os povos toca?

José

sábado, 7 de abril de 2007

SEM BOLSO

Assalto à mão armada numa estação de serviço de Benavente, terminou com a morte da funcionária da bomba de gasolina na última madrugada. Cinco assaltantes estão a monte e são procurados pelas forças da ordem. Segundo a GNR, o assalto, que ocorreu cerca das 21:00h de sexta-feira, foi protagonizado por três indivíduos do sexo masculino, que dispararam sobre a funcionária, atingindo-a mortalmente. Dois outros estavam dentro de uma carrinha, que depois serviu de meio de fuga.
Este foi o terceiro assalto à mesma bomba no espaço de três anos, mas nunca teve contornos tão dramáticos. A funcionária preparava-se para fechar a bomba quando foi abordada. Depois chegou a GNR e começou o tiroteio. Os assaltantes usaram a vítima como escudo humano e acabaram por conseguir escapar, utilizando uma carrinha preta que se encontrava nas traseiras da bomba. A filha da vítima também esteve em perigo, mas conseguiu fugir. (Fonte: Agência Lusa)

Duas notas:

1 – Perante tão infeliz notícia, passada na nossa terra, todos estamos de alguma forma chocados com o sucedido. De facto, Benavente não é pródiga, felizmente, em situações deste género, apesar da proximidade a Lisboa. Não creio que existam palavras para se poder descrever o sentimento e a situação. Gostava apenas de deixar por aqui algum apreço pelo trabalho que os Jornalistas, especialmente o da RTP, fez no directo do telejornal da hora do almoço, onde relatou os factos de forma fiel, sem entrar no campo do sensacional. Fez o seu trabalho sem abusar da dor da família, não os colocando à frente das câmaras nem dos microfones. Assim deviam ser todos...

2 –Telma, tens toda a razão quando dizes que este Blog não é um espaço para conversas pessoais de resposta e contra-resposta, mas sim, que aqui devem ser colocados temas dos mais variados. Eu e o José também já tínhamos pensado isso e hoje, infelizmente pelas piores razões, voltámos a página do que este Blog foi nas últimas duas semanas.

Pedro

sexta-feira, 6 de abril de 2007

INCUNÁBULO DE BOLSO

Caríssimo amigo Rui, vou dissecar o seu último comentário no conversas de algibeira, com uma tristeza grande depois de o ler. É que algumas das suas percepções da realidade, estão, completamente formatadas, e isso caro Rui, independentemente da cor política que o meu caro evoca em todos os seus comentários, é deveras assustador.
Para que no seu próximo comentário que por aqui aparecer, não torne a falar de politiquices, vou deixar por aqui alguns exemplos, palpáveis (como tanto gosta), para que o meu caro, estude e perceba, o que por aqui vou escrever.

1 - Um Jornalista, deve relatar fielmente os factos que constatar, de forma imparcial e sempre a pensar naqueles que o vão ver, escutar e/ou ler. Deve fazer o seu trabalho de forma limpa e nunca, mas nunca, desrespeitar o código deontológico pelo qual se rege. - Caro Rui, se tiver tempo, leia o código deontológico do jornalista e perceba o que significam as palavras Sensacionalismo e Liberdade de Imprensa. Conheça bem o significado das mesmas e compare-as para ver se são, pelo menos, semelhantes. A seguir ligue o noticiário da TVI e tente perceber, qual das duas noções é a mais utilizada.

2 – Como Jornalista e depois de ter trabalhado durante dois anos num dos órgão de comunicação social de maior referência do país, a TSF, deixe-me dizer-lhe que por várias vezes fui impedido de escrever e dizer em antena o que queria, sendo que o que queria relatar era o que na realidade se tinha passado. A Censura, caro Rui, está nas redacções, mas para passar despercebida, levou o nome de Linha Editorial. Nome pomposo, de facto, mas cuja designação no código deontológico da minha profissão, é deveras diferente. É que o Jornalista, que anda no terreno à chuva e ao sol, ao frio e ao calor, é ele que conhece o meio e ele é que sabe o que deve ser dito, ou não.

3 – Ainda para a Censura, já que aceitou o desafio de ler o Fernando Dacosta, procure por outro livro, o “Mein Kampf”. Talvez o meu caro não saiba quem o escreveu, mas nem eu lho vou dizer. Apenas lhe faço notar o seguinte, em 1997, dez anos portanto, saiu uma edição deste livro em Portugal. Duas semanas depois, foi imediatamente retirado do mercado. O que me chama a isto? Em todo o caso, antes de responder, aconselho-o a saber o conteúdo e o autor da obra.

4 – Caro Rui, pareceu-me que o meu caro não sabe o que é um Incunábulo. Ou será que, quando diz que temos bons incunábulos escritos por jornalistas, se confundiu com Literatura de Cordel? Em todo o caso vou elucidá-lo:

Incunábulos - Primeiros livros impressos, como principal sector da ideia das luzes. Julga-se que o primeiro incunábulo impresso data de 1500 em Salamanca.

Literatura de Cordel - Obras literárias populares, postas à venda pelos vendedores, penduradas por cordéis. Obras básicas, de escrita simples com preços de venda baratos.

Caro Rui, sabe o que dizia o Mário de Sá Carneiro acerca das citações? Dizia, por palavras dele, que as citações são a escrita de quem não tem assunto. Por isso, parafraseie, não cite!

Pedro

terça-feira, 3 de abril de 2007

HERÓIS DE BOLSO

Caro Rui, os heróis foram sempre ao longo da história, e não apenas da nossa, circunstanciais. A heroicidade não é uma qualidade intrínseca ao ser humano, é uma condição limite e circunstancial. O que fica, o que preenche e ramifica no imaginário dos povos, é o que sobre essas circunstâncias extraordinárias, ou autores, com o seu génio criativo e visionário, delas nos dizem. A carta de Pêro Vaz de Caminha, os Sermões de António Vieira, a revolução de 1383 de Fernão Lopes. Se estes testemunhos não tivessem chegado, como chegaram, aos nossos dias, o que saberíamos nós da viagem de Vasco da Gama, da colonização e evangelização do Brasil, e da luta heróica de um punhado de portugueses para se manterem livres do jugo espanhol? Por isso, meu caro, para haver notícia, é preciso haver mensageiro. Sem o mensageiro, não há notícia.
Meu caro Rui, atassalha-nos o facto de preferir o telejornal à telenovela, coisas que nem se deviam comparar tal a semelhança entre ambas. Hoje, meu caro, é preferível um bom livro, de ficção ou de factos históricos pintalgados com umas narrações desveladas pela ideia do autor. Os telejornais assemelham-se a novelas, de cordel, contadas por noveleiros que não sabem sequer o que é um incunábulo. Os telejornais, caro Rui, são cada vez mais números de circo, comandados por uma voz una e indivisível, que atrás do pano, grita cuidado, sempre que o share começa a descer, ou sempre que o sangue tão ansiado, começa a escassear, ou quando um assessor do primeiro ministro telefona para a redacção: a realidade, hoje, é virtual, ou seja, sem virtude nenhuma.
Caro Rui, leia mais, e não seja crente, demais, nesses noveleiros que dançam ao som da música que melhor lhes toca, comandados por administrações que também dançam, sempre que o poder muda.

Pedro e José

segunda-feira, 2 de abril de 2007

SORRISOS NO BOLSO


Hoje, porque estamos bem dispostos, só dizemos bem... Desculpem-nos os nossos leitores estas fraquezas: também somos humanos, que raio!

Marcelo Rebelo de Sousa, homem ecléctico e de talentos vários e reconhecidos, sendo um dos ícones da direita, tem pelo menos a hombridade de se expor e de assumir a sua condição. Ontem, na sua rubrica na RTP, de forma corajosa e lúcida, zurziu no senhor Presidente Cavaco, condenando-o pela visão mesquinha que impediu Mário Soares e outros obreiros políticos da nossa adesão à Comunidade, de estar presente nas cerimónias oficiais, por ele promovidas, dos 50 anos do Tratado de Roma.
Goste-se ou não de Mário Soares, tenhamos ou não contas a ajustar com a forma controversa (no mínimo) com que dirigiu os negócios da Nação enquanto Primeiro Ministro, o facto histórico, incontornável, é o de que se lhe deve a nossa adesão à CE e esse facto não pode, nem deve, ser escamoteado pelo actual inquilino de Belém. Cavaco, no poder, não pode, não deve, exercê-lo a seu belo prazer, de acordo com os seus gostos e ideais: em Belém representa o Estado, e em nome desse Estado, que somos todos nós, Mário Soares deveria ter sido convidado – afinal, ele foi o obreiro mais visível da nossa adesão.
Igualmente, Marcelo esteve bem, ao relativizar, de forma racional e brilhante, a eleição de Salazar, através de um concurso televisivo, como “melhor português de sempre”. De facto, os 30 mil portugueses que eventualmente terão votado em Salazar, não podem assustar a nossa, ainda que débil, democracia.

Caro Rui, o escritor indo-inglês, Salman Rushdie, foi um dos que beneficiou grandemente com a perseguição dos Ayatholahs. Não que seja um autor medíocre, mas não fora os “Versos Satânicos” e os ataques ao Islão, e nunca seria conhecido e reconhecido no Ocidente. Esqueçamos Salazar, portanto. Quanto aos Heróis, prefiro de longe a “Mensagem” do Pessoa e os “Lusíadas” do Camões, que ficcionaram de forma genial a nossa gesta, à sua componente histórica.

Cara Telma, parafraseando Sócrates (o filósofo), dir-lhe-emos que “Só sei que nada sei”. A vida, no seu sinuoso percurso, vai-nos ensinando muita coisa. Se estivermos atentos e abertos ao real que nos cerca, disponíveis para conversarmos e nos ouvirmos uns aos outros, as nossas mútuas experiências muito nos ensinarão.


(mais) José e (do que) Pedro

sábado, 31 de março de 2007

RAPIDINHA NO BOLSO

Mais abaixo no “Amizade de Bolso”, um terceiro comentário merece, e passe o pleonasmo, ser comentado.

Cara Telma, de facto, e é cada vez mais a sensação que tenho, tirar uma licenciatura é fácil, nem por vezes rápido, mas até certo ponto, possível para os filhos cujos pais tenham bolsas semi-recheadas (até o Engenheiro Sócrates tem uma... o homem sempre é engenheiro não é?). Tirar uma licenciatura é para muitos o culminar da maior “moinice” possível, de bebedeira e paródia, para que, durante os vários anos que por lá habitam a tirar lugar a outros, não estejam a trabalhar, coisa que é bem mais durinha.
O canudo, cara Telma, não é sinónimo de inteligência e em muitos casos (é desta que me prendem), é apenas para cumprir com o desejo dos pais, pois os cursos são como os chapéus, há muitos! Ora, por exemplo um destes novos: Comunicação Cultural. Sim, pois caso não saiba, saem das universidades todos os anos, anjinhos com esta inenarrável licenciatura. Isto serve para quê? É que a cultura, como se sabe, não abunda. A comunicação, no seu sentido mais lato, pertence aos jornalistas e de alguma forma aos autores de vários tipos de obras. Então, que raio de lugar tem um licenciado em Comunicação Cultural na sociedade e no mundo do trabalho? Como é a sua “graça académica”? Alguém que tem uma licenciatura em Jornalismo, é Jornalista. Alguém que tenha uma qualquer licenciatura em Engenharia, como a caríssima, é Engenheiro(a); e por aí fora. Mas quem tem um licenciatura em Comunicação Cultural é o quê? Não sei, talvez devido às minhas limitações. No entanto resta-me dizer; pois esta rapidinha já se está a tornar longa; que cursos destes que não levam ninguém a lado nenhum, são infelizmente cada vez mais e agora qualquer um pode ser Dr. (por extenso tem que tirar o Doutoramento e ter média de 16) num prazo de 3 anos com o escandaloso, na minha humilde visão, Processo de Bolonha...
Tirar uma licenciatura é fácil, basta marrar, decorar e fazer cábulas. Ser inteligente, já não é para todos; digo eu; pois tal como a caríssima bem disse, há que cultivar o intelecto e estudar todos os dias um bocadinho e isso dá trabalho mental; chatice! Pensar custa muito a muita gente e é mais fácil adquirir o que já está pensado por outros para nós. Lutemos contra a incultura que muitos desejam, e o ar por este país ficaria mais respirável.

Bom fim de semana a todos. Voltaremos implacáveis na segunda-feira.

Pedro (o futuro anfitrião de uma noitada cultural e pedagógica)

quinta-feira, 29 de março de 2007

BOLSO RESTANTE


Caro Rui, em duas ou três coisas estamos, também os três de acordo. Primeiro: ninguém desiste do país onde nasceu, mesmo que os marinheiros que foram à descoberta fugissem, sobretudo, da fome e essa deriva não tivesse motivações mais amplas e, quiçá, de difusão da fé ou outras tretas do humanismo ocidental. Era a fome, e pronto! Como os nossos emigrantes que nos anos 50 do século XX partiram a salto para Franças e araganças, o fizeram igualmente acossados pela miséria. Somos, desde o século XV, uma pátria de errâncias, que sempre viveu de costas para o seu rectângulo natal. No entanto, masoquistas que somos, gostamos disto. Quanto mais não seja, para nele morrermos.
Segundo: em relação a Salazar e ao seu património político, recomendamos-lhe a leitura de um livro interessante e incontornável, sobre o personagem – “As máscaras de Salazar” de Fernando Dacosta. Terceiro: estamos de acordo consigo quanto à OTA. A coisa cheira realmente a esturro e parece-nos um pântano em que o país se vai, mais uma vez, deixar afundar. Pergunta-se, que obscuros interesses levarão Sócrates e companhia a defender, mesmo perante alguns estudos que anunciam a catástrofe, com unhas, dentes e o nosso dinheirinho, tal opção. Tal como Sócrates nos escondeu durante todos estes anos as suas aptidões académicas, será que a OTA não fará parte de um processo idêntico de escamoteação e vergonhosa fraude? Se calhar, só depois da obra concluída e dos milhões enterrados no projecto é que ficaremos a saber. Até lá, esperemos que o Sócrates caia, não é preciso ser da cadeira, como o outro, mas só assim o rumo dos aviões pode levar outro corredor aéreo.
Ainda sobre Salazar, recomendamos-lhe a leitura das “cartas ao director”, no jornal Público de hoje, 29 de Março.

post scriptum – sei que a luta de dois para um lhe é considerada injusta, mas não há nada a fazer. Somos um coro!

Um abraço

José e Pedro

quarta-feira, 28 de março de 2007

RESPOSTA DE BOLSO


Eu sou português, aqui...

Caro Rui, sempre que nos zangamos com a pátria que nos viu nascer, temos tendência a exorbitar. De certo que não levou à letra a boutade de querermos ser espanhóis. Como sabe, e está nos textos, limitámo-nos a transcrever uma passagem de um texto de Almada Negreiros, sobre o escritor Júlio Dantas. É evidente, que um país que vota maioritariamente num ditador que nos deixou, face à Europa, com os atrasos estruturais e culturais conhecidos; que ainda hoje são bem visíveis e nos causam engulhos e constrangimentos de variadíssima ordem face aos nossos parceiros comunitários; não nos poderia merecer outra reacção que não a do desejo, mais que natural, da fuga imediata para espaços mais arejados.
A rejeição, como bem o entendeu Eduardo Lourenço, nasce do sentido de justiça que cada cidadão tem em relação ao rumo que a sua pátria exibe. E, no caso concreto do “botas” de Santa Comba, a reacção de rejeição não é só desse modelo autoritário de fazer política, mas de tudo o que ele consubstanciou: o atraso cultural e económico, o obscurantismo e a miséria generalizadas.
Caro Rui, acaso pensou que se não tivéssemos a desdita de dois ditadores a governar-nos durante perto de 50 anos (uma vida, portanto) se ao invés de Salazar/Caetano tivéssemos outro tipo de gente mais limpa e decente a governar-nos, o país hoje seria outro e, assaz, diferente? Para juntar alguns números, que são sempre indicadores importantes nestas coisas, sempre lhe diremos, que até 1950, só metade dos portugueses tinham a quarta classe e que no espaço que habitamos (o Ribatejo), existiam, em todo o distrito de Santarém, apenas três escolas secundárias públicas. E hoje meu caro Rui, existe pelo menos uma em cada concelho. Significativo, não lhe parece?
Para terminar, sempre lhe diremos, que consideramos muito estimulante que nos leia e dessa leitura, nos dê o seu parecer. A conjugação dos contrários, é dialéctica e estimulante para uma sociedade democrática e progressista, como a que se conquistou há 33 anos atrás. Democracia que permitiu, a um ditador que nunca foi a votos, ser eleito “o melhor português”. A história, por vezes, tem destas ironias.

Abraços

Pedro e José

terça-feira, 27 de março de 2007

ESTRUMEIRA DE BOLSO

José Manuel Fernandes, que no tempo do PREC andava pelas extremas (esquerda? direita?) cedo se converteu encostado ao patrão Belmiro, às delícias do capitalismo rapace e ultramontano. Feitios!
JMF é dos que têm faro para a coisa, ou seja, sabe de que lado é que o pão tem a manteiga. E lambuza-se! Ninguém acredita num escriba que, servidor atento e agradecido do patrão Belmiro (ainda se lembram dos editoriais sabujos que este cavalheiro debitou sobre a OPA da PT?) vem incensar o “botas” de Santa Comba Dão?
Isto não pode ser, e não é, verdade. JMF disfarça a sua costela de facho (só a costela?) tal como disfarçava o seu anticomunismo primário, nos tempos em que era um jovem cão de fila do MRPP.
JMF esquece um dado essencial: nós andamos por cá há muito tempo, conhecemos os peralvilhos da sua espécie e sabemos muito bem de que lado o escriba do capital mais rançoso deste país (e não é pelo Belmiro ser o rei dos merceeiros que o ranço aqui se inclui) está!
Incensar Salazar é um disfarce para poder bater à vontade na dignidade que Álvaro Cunhal representa. Método velho e com barbas.
Agora que Álvaro Cunhal foi um dos portugueses mais dignos, corajosos e honestos (pouca coisa, a honestidade, não é JMF?) do século XX português e que tentou com a sua luta, fazer deste país um espaço asseado (sem JMF, naturalmente) uma pátria onde pudéssemos “sentar a honra à mesa”, disso não temos dúvidas!
Mário Soares, então e a CIA e Carlucci, não contam? Ó homem, nós sabemos que o seu herói é o Bush, mas às vezes convém não abusar tanto. Onde é que você andou estes anos todos, em que estrumeira, política e cultural, habita?

(texto relacionado com o editorial de José Manuel Fernandes na edição de 27 de Março de 07 no jornal Público)

José

segunda-feira, 26 de março de 2007

AMIZADE NO BOLSO

No passado Sábado tive um noitada daquelas que não se esquecem e que não é comum existirem. Em casa de amigos e rodeado deles, o bar ficou para segundo plano e as conversas foram surgindo desde as dez da noite até às madrugadoras seis. Tal como as cerejas, falou-se de muita coisa e acima de tudo, discutiu-se de forma sã o sexo dos anjos, visto dos diferentes pontos de vista de cada um, sempre com a garganta bem molhada pelas fresquinhas sagres... quem ficou com o stock nas lonas foi o anfitrião!
Uns do contra, outros a favor, foi especialmente o nível das conversas e o saber comulativo de todos que fez aquele serão parecer tão curto. A cultura do povo anda pelas sarjetas, mas todos os que participaram naquele debate sem hemiciclo, estão a navegar muito ao largo do comum e buçal. Ainda há esperança para este país de merda! (e vou utilizar a palavra merda ainda mais vezes, sem piedade!)
Do muito que se falou, abordou-se o péssimo programa grandes portugueses e tudo estava de acordo que era mau. No Domingo, como de costume, não vi o programa de merda dos portugueses, também para não ver a apresentadora de merda que puseram à frente do programa de merda. Em todo o caso, hoje soube da merda da votação e fiquei com a sensação de merda que o povo que votou naquela figura é também uma merda. Ora o Salazar, que deixou o povo na merda, leva com a maioria para ser um grande português? A RTP também já está armada em televisão de merda? Ao menos que adulterassem a votação e que ganhasse o Sebastião José de Carvalho e Melo. Se eu fosse director de programas da RTP, esfregava a minha cara com merda se deixasse que naquele programa de merda, apresentado por uma apresentadora de merda, o merdas do Salazar fosse o maior português de sempre. O povo é soberano e votou no Salazar, que nunca os deixou votar em merda nenhuma (é tão irónico isto). O merdas do António de Oliveira impediu o povo der ser culto durante quase 50 anos, para que não fizesse frente à merda do regime. A cultura é inimiga do poder, sempre foi! Não temos o Salazar nem o Marcelo, já lá vão 33 anos da Revolução dos Cravos e mesmo assim o povo vota com uma consciência de merda. Grandes Portugueses somos todos, porque ao contrário do ditado, a história também reza dos fracos, pois são eles que pagam os seus impostos para manter de pé este país de merda. É uma vergonha o nível de merda da cultura que existe por este Portugal fora. Valha-nos Deus!
Da jornada dupla de descanso a que chamamos fim de semana, valeu a grande noite de cultura geral e de conversas inteligentes que aconteceu na casa do Rui e da Telma. Para além do esplanado, todos aprendemos muita coisa também. Malta, obrigado! Espero que possamos repetir, pois valeu a pena.


Pedro

CEMITÉRIO DE BOLSO

Isto cheira a mortos

Um ditador fascista, que ao longo dos 48 anos em que desgovernou este país, nunca permitiu que o povo português votasse em eleições livres e dignas desse nome, acaba, por ironia dos condicionalismos históricos que vivemos e pela imposição do marketing televisivo, votado e considerado, com maioria esmagadora, o maior “português”.
Dando de barato que o Portugal das trevas, cinzento e conservador, vivendo ainda no obscurantismo lorpa que o fascismo santacombandense nos impôs durante 5 décadas, se quis mostrar, fazer brilharete, ufano e trauliteiro (já exibiu as garras a favor de um museu – altar do ditador), pela voz tonitruante de Jaime Silva Pinto (sim, sim, o digníssimo esposo da senhora que levou uns bananos numa cena de boxe promovida por uma agremiação de bétinhos chamada CDS – PP) e que esse mostrar-se é toque de finados por ruim defunto e sequazes, não deixa de ser preocupante que das brumas ressurja essa sinistra figura, erigida agora em grande “Português”.
Fernando Pessoa escreveu algures que a LIBERDADE começa no momento em que deixamos de ser “súbditos de nós – mesmos”. Um povo que gosta de ter amos, que tem medo da sua liberdade, de conduzir e delinear o seu próprio destino autónoma e livremente, sem precisar de chefes, patronos, nem salvadores da pátria, que precisa desenterrar das brumas mais ingentes da nossa memória colectiva os seu próprios fantasmas, é um povo sem rumo, sem dignidade, sem futuro. É um povo que merece esta penumbra, esta mediocridade, este pesadelo que se chamou Salazar e que hoje, 33 anos volvidos sobre uma manhã libertadora de Abril, regressa como herói mediático.
Maria Elisa, Jaime Nogueira Pinto, Sócrates, e a TV do Estado, que todos nós pagamos, rejubilam: finalmente conseguiram continuar a tarefa que o ditador nos impôs durante 50 anos – deseducar-nos, obscurecer-nos, torpedear-nos. E essa tristeza vil começa, e eles sabem-no, quando nos deseducam a memória.
Parafraseando Almada Negreiros, sempre te direi Pedro, que se o Salazar é português (e o maior!!!!!!!!!) eu quero ser espanhol ou galego, tanto faz. Fujamos, este lugar mal frequentado tresanda a necrotério!

José

sexta-feira, 23 de março de 2007

PAPEIRA NO BOLSO


Back from the grave

Após mais de 10 dias de interregno em que os mais cépticos já esfregavam as mãos de contentamento pela não actualização do blog, voltámos fresquinhos que nem alfaces, para continuar a infernizar a net com os nossos comentários absolutamente radicais, que rasgam, de fininho, os mais incautos. Para os que já estavam habituados a consultar o “conversas”, saibam que esta falta de comentários se deveu ao facto de eu ter estado com papeira, a doença dos putos... Como o Zé não percebe a ponta de corno de internet, o blog ficou à deriva, dado que o Luís anda fugido, mas tem a PJ atrás dele. E eu em casa com a minha carinha laroca inchada. Mas voltei da pseudo – hibernação e agora o conversas de algibeira vai voltar a bombar, esperemos.
No entanto cumpre informar que: apesar dos comentários sarcásticos e contundentes terem estado afastados deste espaço de registos (quase) magnéticos, eles continuaram a existir em espaços de diálogo próprios aos mesmos... quanto a mim, continuei a também a fazer alguns, mas apenas dentro das 4 paredes de minha casa, não fosse a papeira descer da cara para outro sítio...
Pedro