Registos quase magnéticos sobre quase tudo, sem se dizer rigorosamente nada.
Nota: para todos aqueles que não comentem os posts, a tortura é serem obrigados a adquirir o livro "Desconstrutor de Neblinas", de Domingos Lobo, autografado pelo próprio.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

BOLSA CULTURAL



Águas de Agosto

ESTADO DE (DES)GRAÇA


Vivemos tempos perniciosos, confusos, perturbadores. Começamos, porque a globalização capitalista nos exige, a aprender novas línguas, inglesismos rafeiros quase desde o berço, porque a concorrência, o mercado, o Sócrates exigem. Vivemos realidades novas e bárbaras que aceleram, quase até ao absurdo, a nossa desumanização. O capital precisa de máquinas acéfalas não de massa crítica: para isso existem as elites, os berardos (não se riam), o mota, os belmiro, a Ópus Die e toda a tralha seguidista e bajolante.
Não nos basta já que as máquinas nos devolvam, fria e despudoradamente, a noção trágica da nossa pequenez, da nossa insignificância intelectual, que as máquinas nos reduzam a meros artífices de uma realidade tecnológica que nos ultrapassa e, tal como no Admirável Mundo Novo, nos controlará num futuro cada vez mais próximo e assustador: os pequenos títeres deste nosso estreito e misérrimo país, começam também a querer controlar-nos a vidinha, a vigiá-la para melhor nos dominarem. Começam a filmar-nos em lojecas, bancos e nas avenidas das nossas desesperadas cidades (com o pretexto de nos protegerem e quiçá, nos salvarem) para mais facilmente nos apanharem se, por acaso, nos rebelarmos contra o sistema mais do que ele, em sua generosidade democrática, permite.
Vivemos hoje o efémero, o precário, o desabitar dos hábitos, das culturas que nos fundam e das convicções morais e cívicas. Vivemos um tempo de fugas, de instintos cegos e selvagens, do salve-se quem puder, de quotidianos cinzentos, desapossados de sonhos e de esperança regeneradora. Nesta voragem, todos os atropelos são, aparentemente, legítimos, toda a dignidade ultrapassável, toda a ideologia uma utopia de ingénuos, “restos do marxismo que apodrecem no meio de nós”, como o designa esse “fóssil” da direita mais rafeira e ressabiada que é Vasco Pulido Valente.
O romantismo (que com este nosso século conviveu até tarde, pelo menos até aos alvores do “modernismo marineteano”) era a perenidade dos sentimentos e das acções apaixonadas. Amava-se com o corpo a pulsar inteiro, sonhava-se o devir, o homem novo e liberto, um mundo sem senhores nem escravos – livre de exploradores e explorados, pois claro. Utopias, ranço marxista, dirá o “lúcido” ideólogo Pulido. No entanto, tempos generosos, ingénuos talvez, mais sentidos do que pensados (mas os anti-decarteanos não defendem que toda a acção é sentido antes de ser pensada?) mas de avanços iniludíveis para o homem e a sua condição.
Depois dos muros que tombaram, os sentimentos passaram a ser esdrúxulos, os movimentos e as ideias deixaram de ser “sequer a sombra do romantismo ao meio-dia”, como diria o Pessoa. Chegaram os Busch e acólitos, a História, dizem, esboroou-se no estertor das “torres gémeas”, as ideologias passaram a velharias de pataco. Ficamos sós, entregues à voragem dos Financial Times, do PSI 20, do Diário Económico, do Pentágono, dos critérios nominais, da moeda única, do pensamento único. O yupismo saloio, apressado e redutor do cavaquismo, caiu sem dor aparente, desmoronando-se sem dor nem glória face ao serôdio guterrismo, velho à nascença, que durou um Verão e nos deixou nos braços rapaces da direita folclórica e espertota, a servir de mordomo e tapete ao imperialismo e a desembarcar ufano nos salões de Bruxelas. Depois das santanices anedóticas de passagem, eis-nos chegados, como de resto merecíamos, esplendor do xuxialismo socrático. E é bem feito. Um Estado de (des)Graça que os deuses, sempre atentos a este cadinho de mar com terra à vista, nos destinaram para expiação de inenarráveis pecados: é bem feito!



UM LIVRO

ALEXANDRE O’NEIIL – UMA BIOGRAFIA LITERÁRIA


Maria Antónia Oliveira traça, nesta biografia do grande poeta de No Reino da Dinamarca, o retrato impressivo de um tempo português singular e das gerações literárias, artísticas e da esturdia de uma Lisboa remansada mas viva, que o sentiram e, mesmo agrilhoados, o imaginaram e mitificaram.
Lê-se de um fôlego, como se de um romance se tratasse. Um grande livro





UM POEMA

Caixadòclos


- Patriazinha iletrada, que sabes tu de mim?
- Que és o esticalarica que se vê.

- Público em geral, acaso o meu nome...

- Vaio mas é vender banha de cobra!

- Lisboa, meu berço, tu que me conheces...

- Este é dos que fal sozinhos na rua...

- Campdórique, então, não dizes nada?

- Ai tão silvatávares que ele vem hoje!

- Rua do Jasmim, anda, diz que sim!

- É o do terceiro, nunca tem dinheiro...

- Ó Gaspar Simões, conte-lhe Você...

- Dos dois ou três nomes que o surrealismo...

- Ah, agora sim, fazem justiça!

- Olha o caixadóclos todo satisfeito

A ler as notícias...

Alexandre O’Neill – FEIRA CABISBAIXA, 1965



UM FILME

CORAÇÃO BRANCO, CORAÇÃO NEGRO, de Clint Eastwood


Eastewood é John Wilson, um cineasta inteligente e inspirado – baseado na figuar do lendário John Huston – que está decidido a transformar o seu próximo filme, a ser rodado em África, numa aventura pessoal; uma caça ao elefante. Jeff Fahey, Marisa Berenson e George Dzundza encarnam algumas das personagens que o acompanham nesta atribulada e excitante aventura ao coração continente negro. Uma história memorável com um guião da co-autoria de Peter Viertel, que colaborou intimamente com Houston na rodagem de “A Rainha Africana”, em 1950.
José

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