Registos quase magnéticos sobre quase tudo, sem se dizer rigorosamente nada.
Nota: para todos aqueles que não comentem os posts, a tortura é serem obrigados a adquirir o livro "Desconstrutor de Neblinas", de Domingos Lobo, autografado pelo próprio.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

BOLSO EM CRISE

A Crise vem aí

Portugal, como todo o mundo ocidental, vive agora um grave momento de crise. Mais profunda por cá porque produzimos muito pouco daquilo que consumimos, e por isso não se vislumbram melhoras. A verdade é que não estamos no bom caminho nem tão pouco parecemos preparados para a enfrentar. Desde 2002 que a nossa taxa de crescimento está estagnada, com uma produção nacional debilitada e dependente, aumentando por isso cada vez mais a dívida externa.

A crise financeira e a consequente travagem no investimento acaba por trazer a reboque o aumento dos combustíveis e dos bens alimentares. Perante isto, o que nos fica é a ausência de respostas por parte da União Europeia, nomeadamente do Banco Central Europeu, que parece desorientado no centro dos destinos financeiros de uma Europa cada vez mais fragilizada e sem soluções para resolver o problema do “desenvolvimento a duas velocidades” que ela própria criou.
No entanto também sabemos que apesar das alterações verificadas na produção e no consumo de petróleo, uma parte muito significativa do preço dos combustíveis é apenas especulação, existindo de facto grandes diferenças entre a procura real de petróleo e os números avançados pelas grandes instituições e pelas petrolíferas. Aliás, são hoje essas grandes instituições financeiras em conjunto com as petrolíferas, mesmo as de menor dimensão, que determinam o preço do “ouro negro”, e com grande opacidade.
Os resultados disto tudo são os constantes «crashes» nas bolsas, os investimentos em queda, o consumo em forte recessão, o desemprego em alta e para ficar, o aumento dos juros, o poder de compra cada vez mais reduzido. É este o estado da economia e das sociedades mundiais, onde cada vez mais a desigualdade social se irá notar e onde cada vez mais a insegurança será uma constante.
Por cá, parece que em 2009 o país irá atingir o pico de crise mais alto de sempre. Ainda assim, os portugueses continuam a recorrer ao crédito para pagar férias em “resorts” de luxo ou para garantir o primeiro «iphone» do mercado, lançado pela Apple. É caso para dizer que, de todo, não estamos preparados para o que aí vem. Resta apenas esperar para saber quais os efeitos nefastos que nos vão bater à porta, muitos deles consequência inequívoca dos erros do passado.

Pedro

segunda-feira, 14 de julho de 2008

TRADIÇÕES DE BOLSO

A Toirada dos Morangos com Açúcar

O tempo de facto não perdoa. Já passam 15 dias desde a Festa da Sardinha Assada, o dia em que Benavente se veste de gala para acolher os milhares de visitantes que se deslocam a esta vila, para num ambiente tipicamente ribatejano confraternizarem em torno de um fogareiro, comendo as sardinhas, bebendo o vinho e descobrindo os toiros. Agora só para o ano, mas fica a saudade de três grandes dias e noites, onde a amizade é o mote principal desta festa ímpar no país.
Relembro a Festa da Amizade porque foi precisamente na primeira largada de toiros que escutei alguns desabafos pelo momento menos bom que a festa brava em Portugal atravessa. A RTP foi proibida de transmitir Corridas de Toiros antes da 22.30 horas e mesmo a essa hora tem de colocar a bolinha vermelha no canto superior do ecrã, catalogando o espectáculo de toiros como um programa capaz de ferir os mais susceptíveis. Isto mais parece uma tentativa descarada de acabar com as nossas mais antigas tradições.
Primeiro perdemos grande parte da nossa identidade quando mudámos do Escudo para o Euro. Se tal não acontecesse, diziam, perderíamos o combóio europeu. O que aconteceu foi um aumento do custo de vida dos portugueses, com tudo a ser arredondado ao euro (são 200 escudos!!). Lá se foi a identidade... e o dinheiro.
Depois criou-se a ASAE para punir severamente todos os que não cumprissem os requisitos mínimos de higiene e segurança nos estabelecimentos comerciais. Com isto até a Ginginha do Rossio e as Farturas da “Ti Alzira” foram obrigados a remodelar os seus espaços, senão fechavam permanentemente. Assim se aniquilam ícones importantes dos nossos costumes.
A seguir a entidade reguladora vem proibir a transmissão de espectáculos taurinos na televisão estatal antes das 22.30 horas e obrigar à colocação da bola vermelha no canto, quebrando uma tradição cultural com cinquenta anos, tantos como tem a RTP.
Portugal está a começar a perder-se e qualquer dia arriscamo-nos a ser um país sem história.
É evidente que, tal como tudo na vida, têm de existir os que são a favor e os que são contra a festa brava. É também verdade que o espectáculo dos toiros tem a sua base no castigo do animal. Só que uma corrida de toiros, uma espera de toiros ou a picaria à vara larga são tradições seculares e fazem parte da identidade cultural de um país e das suas gentes. Impedir a transmissão de espectáculos taurinos na televisão pública (que todos os portugueses pagam na factura da EDP) é um acto extremamente autoritário num país que se diz democrático.
Em vez de se querer acabar com a identidade de um país que cada vez mais começa a ficar bolorento, o melhor seria proibir a gerações mais jovens de assistir aos “Morangos com Açúcar” e ao Wrestling, isso sim verdadeiros programas que incitam à violência e ao bullying nas escolas.
Banir estes programas da televisão portuguesa, por aí é que é o caminho, para ver se se começa a dar mais valor ao que é verdadeiramente nosso.


Pedro