Registos quase magnéticos sobre quase tudo, sem se dizer rigorosamente nada.
Nota: para todos aqueles que não comentem os posts, a tortura é serem obrigados a adquirir o livro "Desconstrutor de Neblinas", de Domingos Lobo, autografado pelo próprio.

sexta-feira, 27 de abril de 2007

VOLTÁMOS, MAS COM O BOLSO ROTO

Já há mais de uma semana que isto por aqui está morto. Depois queremos que isto tenha mais que duas visitas por dia. Impossível! Mas, apesar de isto ter andado morto há uma semana, nem por isso o país tem deixado de fervilhar de polémicas. Todos os dias chovem novos temas. Um país tão pequeno, quem diria que por cá isto tem assim tantos assuntos.
Pois, isto tem estado mesmo morto, porque a malta tem andado ocupada e sem tempo para pensar no blog, mas, voltámos, e vimos cheios de força para o escárnio, para a paródia e para, enfim, para tudo quanto seja dizer mal do que não estiver bem. O outro, que já lá está coitado, cantava que tinha voltado de França, apesar de no dia anterior ainda por lá andar. Pois nós, por cá, não voltámos de França, mas voltámos ao normal e vamos continuar a dar porrada com força em tudo e todos.
Aguardem a próxima semana. Estamos a preparar a reentré, em sigilo, conspirando na sombra, para que o próximo tema que aqui aparecer seja, pelo menos, melhor que este que estou a escrever aqui à pressa só para que isto não fique quase 15 dias sem uma nova entrada. Por isso, perdoem qualquer coisinha, mas de facto, estas duas últimas semanas não foram fáceis, e dêem-nos uma nova oportunidade.

Pedro

quinta-feira, 19 de abril de 2007

VIOLÊNCIA DE BOLSO

No dia em que passam oito anos do massacre de Columbine (EUA), contamos apenas quatro dias sobre as mortes na Universidade da Virgínia (EUA). Se há oito anos, dois jovens decidiram comprar armas na Internet para atirar a tudo o que mexia, acabando por matar doze inocentes antes de se suicidarem, na segunda-feira, morreram trinta e uma pessoas às mãos de Cho Seung Hui.
São dois exemplos, claros, das graves perturbações que a sociedade de hoje provoca nas mentes mais desamparadas. A “Terra das Oportunidades” é pródiga em violência com armas de fogo, talvez porque a venda de armamento é tão liberal como comprar um chocolate, ou talvez por ser uma grande fonte de receitas para os cofres do estado americano. Em todo o caso, estes dois massacres em instituições de ensino, têm origem na facilidade com que hoje se tem acesso a seja o que for que interesse, bom ou mau.
Perturbações Mentais, sempre a mesma “roupagem” para actos irreflectidos e de grave calibre. Por outras palavras, são tontinhos, mas nunca lhes dá para baterem com as cabeças nas paredes (a malta que por cá ateia fogos sofre sempre do mesmo problema).
Ora, se este jovem sul coreano, chamou mártires aos “colegas de profissão” de Columbine, o que fez foi para lhes prestar homenagem? Conclusivamente, permito-me afirmar que a morte assentou bem tanto Eric e Dylan (os adolescentes de Columbine) como a Cho Seung Hui. Só foi pena, já que estavam tão descontentes com a vida, não se terem lembrado de mandarem uns balázios nas próprias cabeças, ao invés de matarem inocentes. Nunca lhes dá para aí.

Os vídeos e as fotografias enviadas para a cadeia de televisão americana NBC são de facto perturbadores, não por serem extrememente violentos, que não são, mas pelo facto de não se perceber o que se passava na cabeça de Cho Seung Hui, e isso é o que nos deixa confusos. Como se chega a um estado mental daqueles?

http://xl.sapo.pt/noticias.html

Pedro

sábado, 14 de abril de 2007

CANUDO FORA DO BOLSO

Algumas anotações curiosas, mas muito privadas.

O nosso primeiro não é engenheiro, ou afinal é, ou parece que é só técnico, ou se calhar é advogado. Bom, parece ser comum que quando alguém se forma em engenharia ganha um nome antes do que lhe foi registado pelos paizinhos. Seja como for, um engenheiro técnico também é engenheiro, ou não?
(primeira anotação privada: será que o Sócrates podia trabalhar na Soares da Costa?)

O homem que governa os destinos do nosso país, parece que terminou a última cadeira; de alvenaria; a um Domingo. As Universidades funcionam aos Domingos? Bom só se forem as privadas. Privadas significam que se tem de pagar altas propinas. O nosso primeiro também pagou para tirar o curso...
(segunda anotação privada: alguém que tenha um curso de engenharia é engenheiro ou licenciado em engenharia?)

Na verdade, a minha inspiração está de rastos. Quase não consigo juntar duas frases e sempre achei que era “bater mais no ceguinho” vir para aqui falar do curso do Sócrates. Mas andava pela net a ver coisas com piada e outras nem tanto e apareceu-me a imagem da t-shirt. Tinha de a colocar aqui e então decidi escrever estas patacoadas sem jeito e sem nexo, até porque sei que os leitores assíduos do conversas estão sempre à espera do meu escárnio.
(terceira anotação privada: a ideia de ler este blog pelo telemóvel aos amigo(a)s é excelente e só mostra que o pessoal que por aqui passa os olhos nos acha piada. Deixem é comentários para isto animar, ou será que não vale a pena?)

Voltando à UNI e ao seu mais aplicado aluno; que até faz exames ao Domingo; resta-me dizer que não considero que seja necessário saber o que é o
externocleidomastoideu para se ser político ou para se ocupar um cargo qualquer importante; o que é preciso, isso sim, é ser-se sério, honesto, trabalhador e colocar os interesses da nação acima dos pessoais.
(quarta e última anotação privada: se o Sócrates trabalhasse numa empresa de fabrico de papas, numa empresa de higiene e papel ou numa oficina de mecânica – seja ela automóvel ou de máquinas agrícolas - , qual seria o melhor cargo para ele ocupar?)

isto está tão fraco que até fico com remorsos em colocar aqui o meu nome, mas cá vai...

Pedro

sexta-feira, 13 de abril de 2007

BOLSO DE POESIA

José Carlos Ary dos Santos, Poeta de Abril

Conheci o Ary dias antes da publicação do seu “Liturgia do Sangue”. Ary tinha feito as últimas revisões e o livro sairia do prelo semanas depois. Nessa noite, uma dessas noites tristes e chuvosas da Lisboa de 1963, estivemos na Trindade a mordiscar cerveja, com a Natália Correia, o Diogo (irmão do Ary), o Vladimiro Franklin, o Dórdio Guimarães, e mais uns putos, como eu fascinados pela verve tumultuosa e o deslumbre de um talento sem freio, desse poeta desafiador de normas em pátria barricada de esquinas com ouvidos nas sombras e preconceitos lorpas. Lembro-me de termos passado pela Brasileira do Chiado e o Ary ter gritado para dentro do café “bichas de sacristia”, para provocar a ira dos pides que, enfastiados de vigília, fingiam reler o “Diário da Manhã” e “A Época”. Passámos na Sá da Costa a cumprimentar o Fernando Assis Pacheco, que perorava, com o ar mais desatento deste mundo, frente ao seu “Cuidar dos Vivos”, debruando o tempo até regressar à banca do nosso Diário de Lisboa.
Caramba! Todos mortos! A todos os acasos do andar pela vida tirou o tapete, deixando-os mergulhar em terra rasa muito antes do último round. Os deuses não perdoam aos poetas a palavra liberta e fecunda que estruma o nosso chão.
Desse grupo, ao tempo ainda sem palavras por dizer, resto eu. Isto, porque os anjos andam cegos e não me descobrem nestas veredas por onde ando a tentar desconstruir os signos, a acender, já sem ânimo, o fogo no lastro das palavras.
Nessa noite de 1963, Lisboa da modorra cinzenta e dos gritos fugazes, com guerra nas colónias e discursos do “botas” na televisão, dizíamos no Rossio, com os náufragos da noite por ouvintes espantados, o “Intróito”, o “In Memoriam”, “Ou Arcanjo ou Ladrão”: poemas? Claro, e belíssimos; hinos nossos seriam.
Depois, vieram os “Adereços, Endereços”, Aristóteles visita de casa de minha avó, “O Objecto”; há que dizer-se das coisas o somenos que elas são. Herança revisitada do humor mais sagaz da nossa língua, a morder a entretela do luso pasmo.
“Insofrimento In Sofrimento”, escrita madura, as raízes mais fundas de uma ternura a explodir em torrente lírica. “Fotos-Grafias”, retratos de deuses, companheiros nossos, gente da boémia, das letras, dos excessos, do sexo, das margens e da esturdia – da vida a trespassar os limites do corpo e da fala. “Resumo”, a assumir a poesia como arma de transformar o mundo, de abrir clareiras ao fechado entendimento de um povo sujeito a 50 anos de temores e silêncios prostrados. E, depois, esse grito maior do nosso contentamento: “As Portas que Abril Abriu”. E “O Sangue das Palavras”, o sarcasmo e a luta, a rebeldia, o desatino, a coragem. De novo uma pausa, a partitura maior de uma escrita sempre a deslumbrar-nos, “VIII Sonetos” de amor e reconhecimento/recolhimento, de lisura, de generosa dádiva.
Estamos ainda os dois no Rossio, a olhar a água chilra das fontes e da chuva. Eu, com dezassete anos tímidos e borbulhas parvas, tu, com muitos livros na barriga, prontos a parir, a partir pelo mundo, com o génio a arder no verbo rasante, na palavra demolidora ou serena, na garganta rouca de gritar as palavras urgentes, ou na suave melodia de um fado desta Lisboa nossa, a despertar: “É da terra sangrenta. Terra braço/terra encharcada em sangue e em suor/que o homem pouco a pouco passo a passo/tira a matéria-prima do amor”.
Até sempre, até breve companheiro. Camarada. Poeta maior de Abril. De Abril e Maio. De todo o tempo. Para sempre. Porque, como tu escreveste e nós sabemos “as entranhas da terra hão-de passar/o tempo da humana gestação/e parir como um rio a rebentar/o corpo imenso da Revolução”.

José

segunda-feira, 9 de abril de 2007

BOLSA DOS DEUSES

Deus e o Irracional Colectivo

A história das religiões está, para o bem e para o mal, intimamente ligada à história das civilizações e, consequentemente, à história da evolução da humanidade.
Não vivemos, por mais agnósticos ou ateus que nos assumamos, fora dos universos do sagrado. As religiões e os seus signos, ocupam papel determinante no imaginário criativo dos povos e é-nos impensável imaginar as diversas vertentes da criação artística alheias ao simbolismo dos referentes mitológicos do sagrado. Por muito que o tentemos contornar, a cultura judaico-cristã e islâmica que nos funda, aparece-nos no léxico mais vulgar, na arquitectura, na toponímica, nos comportamentos que o subconsciente absorveu e hoje integram a nossa cultura e as particularidades de ser e estar e olhar o mundo.
Séculos de convívio com as religiões, sobretudo num povo de diásporas como o nosso, foram-nos moldando o inconsciente colectivo, impregnaram-nos a linguagem, a música, a pintura, a escultura, a implementação sistémica das urbes – os símbolos religiosos e a sua prática são os nossos determinantes civilizacionais, mesmo quando os negamos. Somos o que fomos, herdeiros todos de universos alheios.
Salman Rushdie o autor de Versos Satânicos, entende que “Deus foi o maior erro da humanidade”, afirmando que Deus é uma invenção do espírito humano, um Deus abstruso “que nunca falou com os seres humanos”, uma abstracção, portanto. Mas, apesar de todos os racionalismos contemporâneos, nunca como hoje as questões religiosas foram motivo de debate e de reflexão. Trata-se de uma discussão contínua que poderá, ou não, ressalvar um novo paradigma: Deus e a Fé, deixaram de ser Dogmas, para se tornarem questões de debate e motivos questionáveis sobre os fundamentos da nossa civilização.
Deus, como invenção do Homem, e voltamos de novo às teses de Salman Rushdie, tornou-se no maior erro da humanidade, porque o indivíduo ao criar o Divino para “compreender melhor a sua origem e a razão da sua existência”, para não se achar no “vazio existencial” como refere Sartre, encontrou não a solução para as suas perplexidades mas um vasto campo conflitual. Ou seja, não encontrou solução mas uma pluralidade de problemas que têm servido ao longo dos séculos de caldo de cultura a constantes desaires históricos e para o definhar da humanidade, como hoje se verifica no Iraque. Deus não constrói a bomba, como diz Saramago, mas alguém em seu nome não coíbe de a utilizar.
Assim, Rushdie, como indiano que é por nascimento, defende que a solução futura estará no Politeísmo. Na Índia existem 300 milhões de deuses para mil milhões de habitantes. Percentagem razoável e democraticamente equilibrada, convenhamos. Mas essa pluralidade expurgará as lutas pelo poder hegemónico da crença que arregimente mais seguidores, processe sempre no fio das exclusões redutoras que está na génese das práticas religiosas e que, em extremo, conduz sempre à violência? Penso que nunca o saberemos. D. João III, enquanto principal responsável pela saída dos Judeus de Portugal, não esteve, com essa atitude extrema, na origem remota do nosso atraso cultural e económico? E a matança, em 1506, de 4000 Judeus e Cristãos Novos, a incitamento da Fradaria Dominicana, foi próprio de um povo de brandos costumes, ou apenas consequência do irracional colectivo que a todos os povos toca?

José

sábado, 7 de abril de 2007

SEM BOLSO

Assalto à mão armada numa estação de serviço de Benavente, terminou com a morte da funcionária da bomba de gasolina na última madrugada. Cinco assaltantes estão a monte e são procurados pelas forças da ordem. Segundo a GNR, o assalto, que ocorreu cerca das 21:00h de sexta-feira, foi protagonizado por três indivíduos do sexo masculino, que dispararam sobre a funcionária, atingindo-a mortalmente. Dois outros estavam dentro de uma carrinha, que depois serviu de meio de fuga.
Este foi o terceiro assalto à mesma bomba no espaço de três anos, mas nunca teve contornos tão dramáticos. A funcionária preparava-se para fechar a bomba quando foi abordada. Depois chegou a GNR e começou o tiroteio. Os assaltantes usaram a vítima como escudo humano e acabaram por conseguir escapar, utilizando uma carrinha preta que se encontrava nas traseiras da bomba. A filha da vítima também esteve em perigo, mas conseguiu fugir. (Fonte: Agência Lusa)

Duas notas:

1 – Perante tão infeliz notícia, passada na nossa terra, todos estamos de alguma forma chocados com o sucedido. De facto, Benavente não é pródiga, felizmente, em situações deste género, apesar da proximidade a Lisboa. Não creio que existam palavras para se poder descrever o sentimento e a situação. Gostava apenas de deixar por aqui algum apreço pelo trabalho que os Jornalistas, especialmente o da RTP, fez no directo do telejornal da hora do almoço, onde relatou os factos de forma fiel, sem entrar no campo do sensacional. Fez o seu trabalho sem abusar da dor da família, não os colocando à frente das câmaras nem dos microfones. Assim deviam ser todos...

2 –Telma, tens toda a razão quando dizes que este Blog não é um espaço para conversas pessoais de resposta e contra-resposta, mas sim, que aqui devem ser colocados temas dos mais variados. Eu e o José também já tínhamos pensado isso e hoje, infelizmente pelas piores razões, voltámos a página do que este Blog foi nas últimas duas semanas.

Pedro

sexta-feira, 6 de abril de 2007

INCUNÁBULO DE BOLSO

Caríssimo amigo Rui, vou dissecar o seu último comentário no conversas de algibeira, com uma tristeza grande depois de o ler. É que algumas das suas percepções da realidade, estão, completamente formatadas, e isso caro Rui, independentemente da cor política que o meu caro evoca em todos os seus comentários, é deveras assustador.
Para que no seu próximo comentário que por aqui aparecer, não torne a falar de politiquices, vou deixar por aqui alguns exemplos, palpáveis (como tanto gosta), para que o meu caro, estude e perceba, o que por aqui vou escrever.

1 - Um Jornalista, deve relatar fielmente os factos que constatar, de forma imparcial e sempre a pensar naqueles que o vão ver, escutar e/ou ler. Deve fazer o seu trabalho de forma limpa e nunca, mas nunca, desrespeitar o código deontológico pelo qual se rege. - Caro Rui, se tiver tempo, leia o código deontológico do jornalista e perceba o que significam as palavras Sensacionalismo e Liberdade de Imprensa. Conheça bem o significado das mesmas e compare-as para ver se são, pelo menos, semelhantes. A seguir ligue o noticiário da TVI e tente perceber, qual das duas noções é a mais utilizada.

2 – Como Jornalista e depois de ter trabalhado durante dois anos num dos órgão de comunicação social de maior referência do país, a TSF, deixe-me dizer-lhe que por várias vezes fui impedido de escrever e dizer em antena o que queria, sendo que o que queria relatar era o que na realidade se tinha passado. A Censura, caro Rui, está nas redacções, mas para passar despercebida, levou o nome de Linha Editorial. Nome pomposo, de facto, mas cuja designação no código deontológico da minha profissão, é deveras diferente. É que o Jornalista, que anda no terreno à chuva e ao sol, ao frio e ao calor, é ele que conhece o meio e ele é que sabe o que deve ser dito, ou não.

3 – Ainda para a Censura, já que aceitou o desafio de ler o Fernando Dacosta, procure por outro livro, o “Mein Kampf”. Talvez o meu caro não saiba quem o escreveu, mas nem eu lho vou dizer. Apenas lhe faço notar o seguinte, em 1997, dez anos portanto, saiu uma edição deste livro em Portugal. Duas semanas depois, foi imediatamente retirado do mercado. O que me chama a isto? Em todo o caso, antes de responder, aconselho-o a saber o conteúdo e o autor da obra.

4 – Caro Rui, pareceu-me que o meu caro não sabe o que é um Incunábulo. Ou será que, quando diz que temos bons incunábulos escritos por jornalistas, se confundiu com Literatura de Cordel? Em todo o caso vou elucidá-lo:

Incunábulos - Primeiros livros impressos, como principal sector da ideia das luzes. Julga-se que o primeiro incunábulo impresso data de 1500 em Salamanca.

Literatura de Cordel - Obras literárias populares, postas à venda pelos vendedores, penduradas por cordéis. Obras básicas, de escrita simples com preços de venda baratos.

Caro Rui, sabe o que dizia o Mário de Sá Carneiro acerca das citações? Dizia, por palavras dele, que as citações são a escrita de quem não tem assunto. Por isso, parafraseie, não cite!

Pedro

terça-feira, 3 de abril de 2007

HERÓIS DE BOLSO

Caro Rui, os heróis foram sempre ao longo da história, e não apenas da nossa, circunstanciais. A heroicidade não é uma qualidade intrínseca ao ser humano, é uma condição limite e circunstancial. O que fica, o que preenche e ramifica no imaginário dos povos, é o que sobre essas circunstâncias extraordinárias, ou autores, com o seu génio criativo e visionário, delas nos dizem. A carta de Pêro Vaz de Caminha, os Sermões de António Vieira, a revolução de 1383 de Fernão Lopes. Se estes testemunhos não tivessem chegado, como chegaram, aos nossos dias, o que saberíamos nós da viagem de Vasco da Gama, da colonização e evangelização do Brasil, e da luta heróica de um punhado de portugueses para se manterem livres do jugo espanhol? Por isso, meu caro, para haver notícia, é preciso haver mensageiro. Sem o mensageiro, não há notícia.
Meu caro Rui, atassalha-nos o facto de preferir o telejornal à telenovela, coisas que nem se deviam comparar tal a semelhança entre ambas. Hoje, meu caro, é preferível um bom livro, de ficção ou de factos históricos pintalgados com umas narrações desveladas pela ideia do autor. Os telejornais assemelham-se a novelas, de cordel, contadas por noveleiros que não sabem sequer o que é um incunábulo. Os telejornais, caro Rui, são cada vez mais números de circo, comandados por uma voz una e indivisível, que atrás do pano, grita cuidado, sempre que o share começa a descer, ou sempre que o sangue tão ansiado, começa a escassear, ou quando um assessor do primeiro ministro telefona para a redacção: a realidade, hoje, é virtual, ou seja, sem virtude nenhuma.
Caro Rui, leia mais, e não seja crente, demais, nesses noveleiros que dançam ao som da música que melhor lhes toca, comandados por administrações que também dançam, sempre que o poder muda.

Pedro e José

segunda-feira, 2 de abril de 2007

SORRISOS NO BOLSO


Hoje, porque estamos bem dispostos, só dizemos bem... Desculpem-nos os nossos leitores estas fraquezas: também somos humanos, que raio!

Marcelo Rebelo de Sousa, homem ecléctico e de talentos vários e reconhecidos, sendo um dos ícones da direita, tem pelo menos a hombridade de se expor e de assumir a sua condição. Ontem, na sua rubrica na RTP, de forma corajosa e lúcida, zurziu no senhor Presidente Cavaco, condenando-o pela visão mesquinha que impediu Mário Soares e outros obreiros políticos da nossa adesão à Comunidade, de estar presente nas cerimónias oficiais, por ele promovidas, dos 50 anos do Tratado de Roma.
Goste-se ou não de Mário Soares, tenhamos ou não contas a ajustar com a forma controversa (no mínimo) com que dirigiu os negócios da Nação enquanto Primeiro Ministro, o facto histórico, incontornável, é o de que se lhe deve a nossa adesão à CE e esse facto não pode, nem deve, ser escamoteado pelo actual inquilino de Belém. Cavaco, no poder, não pode, não deve, exercê-lo a seu belo prazer, de acordo com os seus gostos e ideais: em Belém representa o Estado, e em nome desse Estado, que somos todos nós, Mário Soares deveria ter sido convidado – afinal, ele foi o obreiro mais visível da nossa adesão.
Igualmente, Marcelo esteve bem, ao relativizar, de forma racional e brilhante, a eleição de Salazar, através de um concurso televisivo, como “melhor português de sempre”. De facto, os 30 mil portugueses que eventualmente terão votado em Salazar, não podem assustar a nossa, ainda que débil, democracia.

Caro Rui, o escritor indo-inglês, Salman Rushdie, foi um dos que beneficiou grandemente com a perseguição dos Ayatholahs. Não que seja um autor medíocre, mas não fora os “Versos Satânicos” e os ataques ao Islão, e nunca seria conhecido e reconhecido no Ocidente. Esqueçamos Salazar, portanto. Quanto aos Heróis, prefiro de longe a “Mensagem” do Pessoa e os “Lusíadas” do Camões, que ficcionaram de forma genial a nossa gesta, à sua componente histórica.

Cara Telma, parafraseando Sócrates (o filósofo), dir-lhe-emos que “Só sei que nada sei”. A vida, no seu sinuoso percurso, vai-nos ensinando muita coisa. Se estivermos atentos e abertos ao real que nos cerca, disponíveis para conversarmos e nos ouvirmos uns aos outros, as nossas mútuas experiências muito nos ensinarão.


(mais) José e (do que) Pedro