Registos quase magnéticos sobre quase tudo, sem se dizer rigorosamente nada.
Nota: para todos aqueles que não comentem os posts, a tortura é serem obrigados a adquirir o livro "Desconstrutor de Neblinas", de Domingos Lobo, autografado pelo próprio.

segunda-feira, 9 de abril de 2007

BOLSA DOS DEUSES

Deus e o Irracional Colectivo

A história das religiões está, para o bem e para o mal, intimamente ligada à história das civilizações e, consequentemente, à história da evolução da humanidade.
Não vivemos, por mais agnósticos ou ateus que nos assumamos, fora dos universos do sagrado. As religiões e os seus signos, ocupam papel determinante no imaginário criativo dos povos e é-nos impensável imaginar as diversas vertentes da criação artística alheias ao simbolismo dos referentes mitológicos do sagrado. Por muito que o tentemos contornar, a cultura judaico-cristã e islâmica que nos funda, aparece-nos no léxico mais vulgar, na arquitectura, na toponímica, nos comportamentos que o subconsciente absorveu e hoje integram a nossa cultura e as particularidades de ser e estar e olhar o mundo.
Séculos de convívio com as religiões, sobretudo num povo de diásporas como o nosso, foram-nos moldando o inconsciente colectivo, impregnaram-nos a linguagem, a música, a pintura, a escultura, a implementação sistémica das urbes – os símbolos religiosos e a sua prática são os nossos determinantes civilizacionais, mesmo quando os negamos. Somos o que fomos, herdeiros todos de universos alheios.
Salman Rushdie o autor de Versos Satânicos, entende que “Deus foi o maior erro da humanidade”, afirmando que Deus é uma invenção do espírito humano, um Deus abstruso “que nunca falou com os seres humanos”, uma abstracção, portanto. Mas, apesar de todos os racionalismos contemporâneos, nunca como hoje as questões religiosas foram motivo de debate e de reflexão. Trata-se de uma discussão contínua que poderá, ou não, ressalvar um novo paradigma: Deus e a Fé, deixaram de ser Dogmas, para se tornarem questões de debate e motivos questionáveis sobre os fundamentos da nossa civilização.
Deus, como invenção do Homem, e voltamos de novo às teses de Salman Rushdie, tornou-se no maior erro da humanidade, porque o indivíduo ao criar o Divino para “compreender melhor a sua origem e a razão da sua existência”, para não se achar no “vazio existencial” como refere Sartre, encontrou não a solução para as suas perplexidades mas um vasto campo conflitual. Ou seja, não encontrou solução mas uma pluralidade de problemas que têm servido ao longo dos séculos de caldo de cultura a constantes desaires históricos e para o definhar da humanidade, como hoje se verifica no Iraque. Deus não constrói a bomba, como diz Saramago, mas alguém em seu nome não coíbe de a utilizar.
Assim, Rushdie, como indiano que é por nascimento, defende que a solução futura estará no Politeísmo. Na Índia existem 300 milhões de deuses para mil milhões de habitantes. Percentagem razoável e democraticamente equilibrada, convenhamos. Mas essa pluralidade expurgará as lutas pelo poder hegemónico da crença que arregimente mais seguidores, processe sempre no fio das exclusões redutoras que está na génese das práticas religiosas e que, em extremo, conduz sempre à violência? Penso que nunca o saberemos. D. João III, enquanto principal responsável pela saída dos Judeus de Portugal, não esteve, com essa atitude extrema, na origem remota do nosso atraso cultural e económico? E a matança, em 1506, de 4000 Judeus e Cristãos Novos, a incitamento da Fradaria Dominicana, foi próprio de um povo de brandos costumes, ou apenas consequência do irracional colectivo que a todos os povos toca?

José

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