tag:blogger.com,1999:blog-39639798294608903412024-02-02T23:05:20.766+00:00Conversas de AlgibeiraRegistos quase magnéticos
sobre várias coisas, mas
acima de tudo, sobre nada,
que interesse pelo menos...
(Para os que lêm os artigos
deste blog e não deixam
comentários, a penalização é receberem pelo correio o livro "Desconstrutor de Neblinas"
do Domingos Lobo, autografado pelo autor).Pedro Lagareiro Santoshttp://www.blogger.com/profile/10306456341911576273noreply@blogger.comBlogger84125tag:blogger.com,1999:blog-3963979829460890341.post-61951126916861230452010-02-05T14:15:00.005+00:002010-02-05T14:41:08.921+00:00BOLSO MANCHADO<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRmeKM9kcEMvq-xBYn1r-tzXEFr5uVV3SArXkds75cG10DJrb9q01Yqu38h75k9GeFuOIFhHeEe_SIsFyHu-bNScckrIj1EMO2kwQhyN4I89ZeRr__Fwf6B2ocbTNdtUthNog3TcRRhQQ/s1600-h/alberto_chao_da_lagoa_toma.jpg"><img style="MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 182px; FLOAT: left; HEIGHT: 200px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5434769070106132930" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRmeKM9kcEMvq-xBYn1r-tzXEFr5uVV3SArXkds75cG10DJrb9q01Yqu38h75k9GeFuOIFhHeEe_SIsFyHu-bNScckrIj1EMO2kwQhyN4I89ZeRr__Fwf6B2ocbTNdtUthNog3TcRRhQQ/s200/alberto_chao_da_lagoa_toma.jpg" /></a><span style="font-family:verdana;font-size:85%;">Não me apetece falar sobre a Lei das Finanças Regionais. Sei que havia tanto para dizer, é um facto, mas não quero falar sobre isso. Tudo o que aqui escrevesse seria «common sense» sobre algo absolutamente «nonsense». Deixo para os nossos políticos, aqueles em quem em consciência votámos, a explicação do que se passa. É ouvir as notícias e ouvir o que dizem. Ficamos todos a perceber para que servem os nossos impostos.</span><br /><div><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;">Também não me apetece falar sobre o Mário Crespo. Também havia muito a dizer sobre a encapotada censura e sobre o jornalismo. Mas não me apetece. Fico com a música dos «Homens da Luta» e sorrio. "Dá-lhe Falâncio, pá!"</span></div><div><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;">Nego comentar o nosso país. Não me apraz ensaiar sobre um estado em que o anúncio de um banco (publicidade à custa do desporto rei) protagonizando a selecção de futebol tem como actor principal um brasileiro com pouco peso. Podia tagarelar à toa sobre isso, mas não estou muito para aí virado. A circulação de pessoas e bens livremente no espaço shengen podia trazer-me confusão.</span></div><div><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;">Fico-me por aqui. Um abraço a todos esses "bastardes do contenante" que vagueiam por aí!</span></div><br /><div><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;"></span></div><div><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;">Pedro</span></div>Pedro Lagareiro Santoshttp://www.blogger.com/profile/10306456341911576273noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3963979829460890341.post-80123734406614798912010-01-20T12:25:00.004+00:002010-01-20T14:07:08.311+00:00BOLSO SUJO<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqCHTcV0vYGO22iVqHtkKOj47RVBrdo_BMhPg6UpBJGSxaRg7SWjcGlCt4jHTnIcK1qRSeUnEsiFqwEvRO4GGcWbN4br15Q9Pxxs7Zo83IYQXOPm9LXFqq2VYN9_4aqvCuVXPsgrM2K10/s1600-h/indiozzzz.jpg"><img style="MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 200px; FLOAT: left; HEIGHT: 178px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5428822349716186338" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqCHTcV0vYGO22iVqHtkKOj47RVBrdo_BMhPg6UpBJGSxaRg7SWjcGlCt4jHTnIcK1qRSeUnEsiFqwEvRO4GGcWbN4br15Q9Pxxs7Zo83IYQXOPm9LXFqq2VYN9_4aqvCuVXPsgrM2K10/s200/indiozzzz.jpg" /></a><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;">Estava a ver a SIC Notícias quando para meu espanto aparece uma notícia sobre uns tipos que foram presos no Porto e que, ao que consta, estão à 10 dias sem tomar banho. Parece impossível que uns quantos tipos; boa gente decerto; que foram presos por andarem a traficar droga não sejam lavadinhos em banho de espuma.</span><br /><div><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;"></span></div><div><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;"></span></div><div><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;">A ironia adapta-se bem. É de facto triste que a Comunicação Social perca mais tempo de antena com os familiares descontentes por causa dos banhos dos cônjuges do que com o motivo que os levou a ficar detidos. É absolutamente ridículo. Os valores alteraram-se e ainda para mais a televisão dá cobertura as estas coisas. Convém pensar ou repensar os valores.</span></div><div><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;"></span></div><div><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;"></span></div><div><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;">E dar abertura a que a namorada ou esposa de um dos detidos tenha tempo de antena para dizer que "é uma vergonha" que o namorado ou marido esteja ali a ser maltratado sem tomar banho parece-me de facto anedótico. Então não será antes vergonhoso aquilo que o rapaz andava a fazer. A convicção extrema da moça é de bradar aos céus. Mas com ela estamos nós bem, pois sabemos de onde vem e para onde vai, agora que se lhe dê oportunidade para dizer bacoradas daquelas sobre um assunto que não tem assunto nenhum, é que me parece efectivamente fora dos cânones do tradicionalismo rapace. Vejam lá isso.</span></div><div><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;"></span></div><br /><div><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;">Pedro</span></div>Pedro Lagareiro Santoshttp://www.blogger.com/profile/10306456341911576273noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3963979829460890341.post-47983379794656286542010-01-12T19:46:00.006+00:002010-01-12T20:39:56.657+00:00BOLA DE BOLSO<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh8F2eR8n1s7usRs33cA9yDOdQYrKnfctZHQmoWE1hoyY9Ceab19QnjKqfm8Q8xI7K9LisiKBo-r0MCCQzDAgamuB97kGcq0-hTIGQzkdrnkwhySCnsDYE0xWOXxLurFY9qW6pg9E5U1I8/s1600-h/Pinto_da_Costa.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5425955162297869826" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 200px; CURSOR: hand; HEIGHT: 189px" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh8F2eR8n1s7usRs33cA9yDOdQYrKnfctZHQmoWE1hoyY9Ceab19QnjKqfm8Q8xI7K9LisiKBo-r0MCCQzDAgamuB97kGcq0-hTIGQzkdrnkwhySCnsDYE0xWOXxLurFY9qW6pg9E5U1I8/s200/Pinto_da_Costa.jpg" border="0" /></a><span style="font-family:verdana;"><span style="font-size:85%;">O Pinto da Costa anda muito incomodado com o Benfica. Não sei porque se tem esforçado tanto, nem é costume dele. Aliás, o que o tem feito ter sucesso à frente do FCP é preocupar-se com o clube que dirige e nada ou pouco com os outros clubes, daí que o FC Porto seja uma das melhores equipas da Europa. No entanto, o «<em>Senhor»</em>, tal qual José Mourinho lhe chamou no jornal Expresso, anda a perder as suas faculdades de escárnio e de "boladas" bem metidas. Agora virou-se por completo para atacar o Benfica. A verdade é que ninguém se tem metido com ele, nem tão pouco lhe têm respondido, mas ele lá continua a distribuir homilias em todas as direcções, ou não fosse conhecido como o Papa. Esta semana até canonizou o Bruno Alves, deu-lhe umas asas e uma auréola e tudo! Mas basta ver este </span><a href="http://www.youtube.com/watch?v=0OA8QvYvPAg"><span style="font-size:85%;">vídeo</span></a><span style="font-size:85%;"> para perceber que o Bruno Alves tem pouco de Santo. Caso este não chegue, podem sempre ver </span><a href="http://www.youtube.com/watch?v=odz_FonzVKQ&feature=PlayList&p=9F6C4E3B7B20E1C2&playnext=1&playnext_from=PL&index=5"><span style="font-size:85%;">outro</span></a><span style="font-size:85%;"> para ficarem mais elucidados. Ainda assim o Bruno Alves é o jogador com menos cartões da Liga Portuguesa. Fica a pergunta no ar: O que necessário para que o Bruno Alves leve um cartão amarelo na Liga, dar um tiro noutro?</span></span><br /><div><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;">Gostava que os leitores deste blog deixassem aqui algumas respostas, mas espero que o Jorge Nuno Pinto da Costa, se consultar este blog, também me responda a isto.</span></div><div><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;"></span></div><br /><div><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;">ps- Senhor Presidente, tenha cuidado pois a idade já não é a mesma e as suas faculdades já estão um bocadinho em decréscimo. Para bem do futebol português, continue a ser o que tem sido a té agora. Deixe lá o Benfica em paz.</span></div><div><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;"></span></div><br /><div><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;">Pedro</span></div>Pedro Lagareiro Santoshttp://www.blogger.com/profile/10306456341911576273noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3963979829460890341.post-43939833534283898082010-01-07T09:34:00.004+00:002010-01-07T10:03:49.797+00:00UM BOLSO CHEIO DE MERDA<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8PVU5GRo49a_42reKum9GNGjOBrQDZ2k5nYnp-dOJZTK4A9Kb44-HVKrFxW8bfdkK3syAMpStFwGh-TNWFPl8XB50jnTtIGV4-Q-az75Pp-279kfQ9TcS82xCFv_owYVSoNbJAZqoze4/s1600-h/bush_hero_flight_suit.jpg"><img style="MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 200px; FLOAT: left; HEIGHT: 140px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5423935858337922674" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8PVU5GRo49a_42reKum9GNGjOBrQDZ2k5nYnp-dOJZTK4A9Kb44-HVKrFxW8bfdkK3syAMpStFwGh-TNWFPl8XB50jnTtIGV4-Q-az75Pp-279kfQ9TcS82xCFv_owYVSoNbJAZqoze4/s200/bush_hero_flight_suit.jpg" /></a><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;">A primeira década do século XXI foi talvez a pior de toda a história do Homem. A unipolarização dos EUA, com o W. Bush à frente dos seus destinos, foi o maior desastre de que há memória. E hoje o mundo ressente-se disso. Da estupidez de W. Bush e daquilo que a sua estupidez o levou a fazer, como a guerra no Iraque à procura de armas de destruíção massiva. Um dos maiores embustes dos últimos 10 anos, a par da gripe a. A única coisa que a entrada das tropas americanas no Iraque nos trouxe foi o Bin Laden, que escondido numa caverna tem colocado todo o mundo em clima de medo, especialmente quando se anda de avião. A luta de Bin Laden é tão legítima como a dos americanos entrarem no Iraque para destituir Saddam.</span><br /><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;">Dizer mal dos americanos sabujos que andavam à volta de W. Bush e dizer mal do próprio W. Bush na questão do Iraque, e noutras, é absolutamente legítimo (lembro-me que quando andava na UAL, um professor que tive, um tal de Miguel Martins, editor do Expresso, barrou-me sempre a minha opinião num artigo que escrevi sobre o Iraque. Ele era todo pró-americano e defendia esta busca às armas de destruíção massiva [inexistentes, claro!]. Ó Miguel Martins, agora que por causa disso o Mundo está às avessas, ainda achas que tinhas razão?).</span><br /><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;">Resta-nos a esperança que a próxima década consiga superar os problemas que a que passou nos deixou nos braços.</span><br /><br /><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;"></span><br /><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;">Pedro</span>Pedro Lagareiro Santoshttp://www.blogger.com/profile/10306456341911576273noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3963979829460890341.post-16154294017067098782009-12-30T19:14:00.002+00:002009-12-30T19:25:03.777+00:00POCKET<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3dY6WQB2Z9I2sKpTg2LJ1LmSJH2xbRtpcfaa39GZIAag1nrzOYOU2FOeFVQAnNIZysFpmk0U4ko3gwNjlZkGAnq76S2n-C5wwOXxbAqnBa_pYQVIY2bnceq6vhVh4xxXdBdiBDm1p5uo/s1600-h/Tits.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5421111994154907986" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 200px; CURSOR: hand; HEIGHT: 160px" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3dY6WQB2Z9I2sKpTg2LJ1LmSJH2xbRtpcfaa39GZIAag1nrzOYOU2FOeFVQAnNIZysFpmk0U4ko3gwNjlZkGAnq76S2n-C5wwOXxbAqnBa_pYQVIY2bnceq6vhVh4xxXdBdiBDm1p5uo/s200/Tits.jpg" border="0" /></a><span style="font-family:verdana;font-size:85%;">This blog's handicap is the lack of comentary. This reality makes he's author, me, myself and i, working a complete monologue. Maybe in english someone posts here some shit. I don't know, but let's find it out. Like the portuguese musicians that renegate their mother language to sing with the vocabulary of our Metween friends, i'm gonna work this blog in english.</span><br /><div><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;">So, comment this!</span></div><div><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;"></span></div><br /><div><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;">Happy new year!! Suckers!</span></div><div><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;"></span> </div><div><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;"></span> </div><div><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;">Peter</span></div>Pedro Lagareiro Santoshttp://www.blogger.com/profile/10306456341911576273noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3963979829460890341.post-25679183764434503712009-12-21T11:43:00.003+00:002009-12-21T12:00:28.782+00:00BENFICA METEU O FCPORTO NO BOLSO<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4stzK-eLEKbAE_tDz-nkfwnaibyzwdycoafKumkMlEQlC65PVTSl5L9L0FOSez-UBwFVncQ0c_WnnRFeV1oqrs7wUtAqI4Hym6LT_8QJT6tc0LoYJO6ufv_70zl0OuXUCHAMYvje_wJw/s1600-h/wdiag.jpg"><img style="MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 146px; FLOAT: left; HEIGHT: 200px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5417654374551572706" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4stzK-eLEKbAE_tDz-nkfwnaibyzwdycoafKumkMlEQlC65PVTSl5L9L0FOSez-UBwFVncQ0c_WnnRFeV1oqrs7wUtAqI4Hym6LT_8QJT6tc0LoYJO6ufv_70zl0OuXUCHAMYvje_wJw/s200/wdiag.jpg" /></a> <span style="font-family:verdana;font-size:85%;">Esta capa do Jornal A Bola encheu-me as medidas. Um Benfica à Benfica foi o que se viu ontem no maltratado relvado da Luz. Mas o maltratado relvado e a chuva intensa foram condições madrastas para ambas as equipas. Daí não há desculpa. O que mais gostei foi do Jesualdo vir a terreiro, no flash interview da Sport TV, dizer que o FC Porto foi a melhor equipa e que dominou a toda a largura do terreno. Não vi esse jogo. Devo ter estado desatento. Em todo o caso note-se que em 96 minutos o FCP fez 4 remates à baliza encarnada. O Benfica fez uns meros 16. Mas se o Jesualdo diz que o FCP dominou e podia ter ganho, ele lá sabe o jogo que viu.</span><br /><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;">Que grande capa de jornal. E o Benfica ontem, foi de facto Gigante. Ridicularizou o FC Porto e mostrou que o Pedro Marques Lopes (no À Lei da Bola - SAPO) se equivocou.</span><br /><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;">Uma última nota para falar da arbitragem. Foi má, prejudicou o Benfica (os amarelos ao César Peixoto e ao David Luís começaram logo a condicionar o jogo defensivo encarnado) e nem falo na grande penalidade escandalosa nem na agressão do Cebola Rodríguez ao Javi Garcia. Em todo o caso, Jesualdo, estou contigo. O FC Porto bem que podia ter ganho o jogo. Não ontem, mas podia. (Come umas Felhoses que a azia passa).</span><br /><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;"></span><br /><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;">ps- apesar de algum facciosismo da minha parte, há nisto tudo um fundo de verdade, começando logo pelo facto de que o Benfica é Grande. Podemos não ser Campeões, mas este Benfica está bem e recomenda-se.</span><br /><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;"></span><br /><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;">ps 2 - Boas Festas. Até o Pai Natal é vermelho!</span><br /><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;"></span><br /><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;">Pedro</span>Pedro Lagareiro Santoshttp://www.blogger.com/profile/10306456341911576273noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3963979829460890341.post-15397092812140765152009-12-17T23:18:00.002+00:002009-12-17T23:30:37.218+00:00NATAL DE BOLSO<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEib2R4SYHSy1z31m9VorAxxGqCuVr8SHFfIJtxIMQrxOzr7568OoFflC9sDZWdM4-zFnvrkdrMznAFJ-f4xfj3Rcmoe7K3QpPThBsTX6BaYK7gldTuZDeTgSQHbmeyHjBCVxjZOR8duP5I/s1600-h/07-12-13_christmas-poem2.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5416351356227211762" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 200px; CURSOR: hand; HEIGHT: 125px" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEib2R4SYHSy1z31m9VorAxxGqCuVr8SHFfIJtxIMQrxOzr7568OoFflC9sDZWdM4-zFnvrkdrMznAFJ-f4xfj3Rcmoe7K3QpPThBsTX6BaYK7gldTuZDeTgSQHbmeyHjBCVxjZOR8duP5I/s200/07-12-13_christmas-poem2.jpg" border="0" /></a><span style="font-size:85%;"><span style="font-family:verdana;">Este</span> é um blog atípico. Ou se escreve duas ou três coisas seguidas, ou se está quase seis meses sem colocar posts. Se muitas vezes chateava o meu companheiro de blog para mandar para aqui uns bitaites, coisa em que ele é bom, a escrita dele muitas vezes falhava na hora H e lá ficava este blog sem postagem. Por isso e a partir de agora, o Lobo passa a ter a porta aberta para aqui escrever o que quiser, mas como convidado de honra. O blog, esse, reclamei-o para mim. Fica com o mesmo nome, mas bem que se podia chamar o blog do Lagareiro ou coisa que o valha. Não me comprometo a escrever para aqui trapalhadas todos os dias, nem mesmo todas as semanas, mas comprometo-me a dar mais actividade literária a este espaço de profusão da palavra. Mas para que isso se possa tornar mais que um monólogo de ideias sem fundamento, é preciso que os raros seguidores escrevam por cá qualquer coisa, nem que seja mandar-me para onde quer que entendam.</span><br /><div><span style="font-size:85%;"></span> </div><div><span style="font-size:85%;">Boas Festas.</span></div><div><span style="font-size:85%;"></span></div><br /><div><span style="font-size:85%;">Pedro</span></div>Pedro Lagareiro Santoshttp://www.blogger.com/profile/10306456341911576273noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3963979829460890341.post-77544135281404946352009-07-17T11:53:00.002+01:002009-07-17T11:56:44.529+01:00LARGADAS E TOIRADAS - SEMPRE NO NOSSO BOLSO<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiSehc7F-Zs2dOWUKQB9C7YqagkXw-fLl6_4oZ8bsVEVlmIRz0cJ6d81leKmn1ye_rmxvdelfgXvFG0krifkworseu7F-Zyx_ZVgCTYyX6wcqvWvtWURFcrjVT0581-i5b-P2Q6LbLVhTs/s1600-h/81603233_OW8f1gPw_Benavente0263.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5359381188057248450" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 200px; CURSOR: hand; HEIGHT: 140px" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiSehc7F-Zs2dOWUKQB9C7YqagkXw-fLl6_4oZ8bsVEVlmIRz0cJ6d81leKmn1ye_rmxvdelfgXvFG0krifkworseu7F-Zyx_ZVgCTYyX6wcqvWvtWURFcrjVT0581-i5b-P2Q6LbLVhTs/s200/81603233_OW8f1gPw_Benavente0263.jpg" border="0" /></a><span style="font-family:verdana;font-size:85%;"><strong>Vira o disco e toca o mesmo</strong></span> <div><div><div><span style="font-family:verdana;font-size:85%;"></span> </div><div><span style="font-family:verdana;font-size:85%;"></span> </div><div><span style="font-family:verdana;font-size:85%;">Numa altura em que as festas tradicionais, algumas de cariz mais popular que outras, acontecem semanalmente um pouco por todo o país, os defensores dos animais voltam à carga contra às touradas. É uma moda que só pega nos meses mais quentes e que tem uma solução praticamente imbatível: extinguem-se os toiros e acabam-se os “maus-tratos”. Remédio santo!<br /><br />Mas se os espectáculos de toiros; essa tradição secular e tão portuguesa que principalmente no Ribatejo faz fervilhar o sangue dos homens cada vez que o toiro sai “à rua”; são amplamente criticados, ninguém se lembra das condições aberrantes em que, por exemplo, os porcos são criados. Suiniculturas, a maior causa de poluição de rios e de outros recursos aquíferos, que pode até causar epidemias à escala mundial. E alguém se preocupa com isto?<br />Sintra e Cascais declaram-se como dois concelhos “livres de touradas”. Uma moda. Porque ao fim e ao cabo, Sintra tem suiniculturas do pior que existe no país e Cascais tem planos de urbanização e construção muito mais agressivos e selvagens do que as condições de vida e de dignidade que o toiros têm no campo. Mas o que preocupa estes dois concelhos é declararem-se “livres de touradas”. Está certo!<br />E ninguém está interessado em saber como se matam os porcos nas suiniculturas – talvez seja até melhor não saberem. Há mais interesse na barbárie da tradição da matança do porco na aldeia (graças à qual ainda se conseguem comer uns enchidos sem sabor a plástico), do que como se matam porcos nas “fábricas”.<br />O que querem é que deixemos de poder ver corridas e brincadeiras de toiros – já nos tiraram o Escudo acabando assim com uma das nossas identidades, querem acabar com mais uma! Eu gosto muito de ver corridas, esperas e brincadeiras de toiros, talvez porque sou Ribatejano, ou talvez porque até gosto do meu país e das suas tradições. Não sei o que seriam as festas no Ribatejo sem toiros nem tão pouco sei se fariam sentido. O que sei é que há tanta coisa para nos preocuparmos e andam por aí alguns “iluminados” a querer acabar com uma tradição tão nossa.<br />As manifestações e os argumentos dos “engomadinhos anti-touradas” são coisas que me fazem muita confusão, embora não me surpreendam.Em vez do chico-espertismo que por aí se vê sempre que as câmaras de televisão e os microfones das rádios lhes são apontados, deviam usar os tempos de antena concedidos para coisas mais úteis e bem mais chocantes que acontecem, não só pelo país, mas também por todo o mundo.</span></div><br /><div><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;">Pedro</span></div></div></div>Pedro Lagareiro Santoshttp://www.blogger.com/profile/10306456341911576273noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3963979829460890341.post-57582991272386918482009-06-04T09:53:00.002+01:002009-06-04T09:55:18.275+01:00NO BOLSO DOS OUTROS<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHqId7sioAvaRKbdMfsdefBCWbuhad8NHfBhT3zJri1F-k3K6hZvscPDYtng4fO-AWR_EQXdUNsX-QU6xE246zFi2EuT22olC42SSLByRzd5TN7dlXnxdRIGG7ggyBkcmgjk4W-fRJZO0/s1600-h/Capa_Territorio_Inimigo.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5343393180115028338" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 125px; CURSOR: hand; HEIGHT: 180px" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHqId7sioAvaRKbdMfsdefBCWbuhad8NHfBhT3zJri1F-k3K6hZvscPDYtng4fO-AWR_EQXdUNsX-QU6xE246zFi2EuT22olC42SSLByRzd5TN7dlXnxdRIGG7ggyBkcmgjk4W-fRJZO0/s200/Capa_Territorio_Inimigo.jpg" border="0" /></a><span style="font-family:verdana;font-size:85%;">"Editado no ano passado e quase completamente ignorado pela crítica jornaleira e programas literários diversos, recupero aqui o mais que recomendável livro de contos de Domingos Lobo, editado pela </span><a href="http://edicoescosmos.blogspot.com/2008/10/domingos-lobo.html" target="blank"><span style="font-family:verdana;font-size:85%;">Cosmos</span></a><span style="font-family:verdana;font-size:85%;">.O manifesto estético fica definido nos três relatos iniciais: a perfeição da escrita em Os gatos pardos e as chuvas de Janeiro, o humor corrosivo e acutilante de A estranha guerra do Largo do Intendente, e o murro no estômago de Pena capital. Há ainda espaço para um pequeno e sublime texto chamado A flauta, e para um título extraordinário: Monólogo do corcunda frente ao espelho quebrado das mil e uma noites.De humor corrosivo e murros no estômago se faz também Os navios negreiros não sobem o Cuando (ler um excerto </span><a href="http://ainutildeambulacaodaescrita.blogspot.com/2009/04/andancas-em-guerras-mansas.html" target="blank"><span style="font-family:verdana;font-size:85%;">aqui</span></a><span style="font-family:verdana;font-size:85%;">), romance do autor sobre a guerra colonial, em que os segundos se vão sobrepondo em crescendo ao primeiro, tirando-nos da cara o sorriso e substituindo-o, quase imperceptivelmente, pelo esgar da revolta e da impotência. Como apreciação comparativa, e sendo a temática idêntica, não fica nada atrás dos primeiros livros de Lobo Antunes, nomeadamente de Os cus de Judas. Nada mesmo. Antes pelo contrário."</span><br /><div><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;"></span></div><br /><div><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;">Retirado do Blog<em> A Escada de Penrose</em></span></div>Pedro Lagareiro Santoshttp://www.blogger.com/profile/10306456341911576273noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3963979829460890341.post-7322479843664796552009-04-14T14:58:00.001+01:002009-04-14T15:00:45.245+01:00O BOLSO DE DOMINGOS LOBO<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhUZo_uywlJIdK7raLIEwIPoX7Fxz3uwINnigm_iHMquMDkjJk_lMG8B90pN6j29EFqdG7eIDFS8fgul3mvT7AR3-xV44sNqLtoQFzmZrD7wHi3Fdn-wFy0EAwp6Sg5z9frPpPY-Yo_jKY/s1600-h/RomperOndas.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5324546538654093986" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 178px; CURSOR: hand; HEIGHT: 200px" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhUZo_uywlJIdK7raLIEwIPoX7Fxz3uwINnigm_iHMquMDkjJk_lMG8B90pN6j29EFqdG7eIDFS8fgul3mvT7AR3-xV44sNqLtoQFzmZrD7wHi3Fdn-wFy0EAwp6Sg5z9frPpPY-Yo_jKY/s200/RomperOndas.jpg" border="0" /></a><br /><div><span style="font-family:verdana;font-size:85%;"><strong>OUTROS MODOS DE CUMPRIR O SILÊNCIO<br />“O ROMPER DAS ONDAS”, de Rui Herbon</strong><br /><br />É provável que o poema de Sophia “Gritava Contra o Silêncio” diga mais deste novo romance de Rui Herbon, “O Romper das Ondas” (Prémio de Ficção de Almada/2008) do que as mais lúcidas lucubrações críticas: “Gritava como se estivesse só no mundo/como se tivesse ultrapassado/toda a companhia e toda a razão/e tivesse encontrado a pura solidão./Gritava contra as paredes, contra as pedras,/contra a sombra da noite.<br />Erguia a sua voz como se a arrancasse do chão,/como se o seu desespero e a sua dor/brotassem do próprio chão que a suportava./Erguia a sua voz como se quisesse atingir com ela/os confins do universo e aí,/tocar alguém, acordar alguém, obrigar alguém a responder./Gritava contra o silêncio.<br />A grande poesia explica, explica-nos, da maneira mais profunda; vai-nos às entranhas do ser em sua linguagem de signos: deixa-nos num êxtase de perplexidade, o interior do espelho que teimamos ver e nos está vedado; a poesia convoca-nos para os escombros do ser, para o enigmático, para os nossos mais escusos labirintos. É assim este livro de Rui Herbon, O Romper das Ondas.<br />Este livro começa por ser um corpo estranho no descolorido árido da actual ficção portuguesa. É um objecto lapidado até ao osso, um verbo límpido e seguro; a metáfora inesperada e sempre inventiva; a profunda ascese das palavras em seu inabitual rumor.<br />Tal como já acontecia no livro anterior Os Girassóis, igualmente este O Romper das Ondas é incómodo porque penetra, indelével, essa pele, esse cerco da nossa mais extensa e inominável solidão – a inquietação existencial, a impossibilidade de redenção (no sentido exódico), a incomunicabilidade como condição de absoluto.<br />Um texto moderno, assertivo porque se recusa à exibição; contemporâneo porque perplexo perante o seu tempo e a racional sensibilidade que o enforma. Exigente, porque arrisca, é insubmisso e vai contra a corrente; experimenta sem claudicar. Há neste romance uma voz grave, imperativa, feita de múltiplos diálogos, de um imaginário que toca Nick Cave e se sublima numa poética do ser, num hermetismo deslumbrado a lembrar Rui Nunes. Um livro que é um caso em sua exigente singularidade.<br />As estórias que O Romper das Ondas vai introduzindo na narrativa, proporcionais às entradas em cena das vozes (é um romance feito de vozes e de narradores, de onde os personagens estão ausentes ou serão aquilo que leitor inventar a partir de traços onde a subjectividade impera) que a preenchem, estão fora dos nossos referentes habituais e emotivos. A ambiguidade que este romance encena de forma magistral, elabora uma ficção alicerçada em referentes decadentistas, próximos de Bret Easton Ellis – mas sem a gratuitidade violenta deste, e o interiorismo avassalador e apocalíptico de William Burroughs.<br />Em O Romper das Ondas, as relações dos amantes são ecos de uma voz que se escoa e perde na voragem dos rumores íntimos, nesse esgotar dos sentidos: um acto espúrio. O romantismo, os resquícios que possam perdurar nos imaginários comportamentais hodiernos, está morto e enterrado. O amor é uma inutilidade, um simulacro, uma vibração de passagem – tão absurdo como a vida. Um abcesso, uma excrescência, uma etapa que se extingue vorazmente. Nesse amor, mesmo na abjecção, não há tragédia, mesmo quando os amantes encenam o suicídio – um acto de recusa, portanto.<br />A escrita de Rui Herbon é uma escrita feita de recusas: do fácil, do hiperbólico, do sonso ronronar barroco com que comparsas seus enfeitam o travejamento fabular. Rui Herbon apela a uma activa e permanente cumplicidade do leitor, não busca o olhar complacente de quem o lê, daí a provocação permanente, o jogo de quem tem os trunfos e os revela e oculta em permanente mutação. Uma escrita dentro da escrita, o seu abstracto e inquestionável percurso, eis o fulcro pelo qual se espraia o prosaísmo de Herbon. Este romance é um discurso “que fala por si”, ou seja, é o que quer dizer e o que esconde, um jogo de sombras em constante reverberação: o romance como representação.<br />O autor arrisca, confronta-se e reinventa-se permanentemente nesse frágil e orgânico corpo; rompe, com um sarcasmo acutilante e dúctil, com a modorra bem-pensante e bem-comportada que anda por aí a esponjar-se no lodo de uma literatura que finge uma existência que não é a sua, mesmo considerando a fatuidade que toda a obra de arte implica.<br />Este romance fala-nos da estranheza do vivido, de um compulsivo regresso aos campos escuros da memória e subjectivisa essa complexidade formal no sentido pessoano de “ontem/hoje”, utilizando a frase elíptica, a metáfora continuada (como acontece com Álvaro de Campos), a sinestesia que acompanha as falas e a narrativa, a forma modelar com que o romance percorre o seu corpus semântico para envolver um léxico ascético, maduro nas reverberações da fala, nos conflitos íntimos, no decadentismo que a enforma.<br />O Romper das Ondas é um romance que se “dissolve como um sonho ao romper do dia”, para utilizar uma frase de Óscar Lopes. Mas que, dissolvendo-se, permanece na angústia que transporta, na inquietação que suscita. É um romance solipsista, de estados de alma, com abúlicos e obsessivos momentos de descontinuidade, atravessados por uma poética despida, incisiva mas consciente da sua efemeridade. Há neste romance uma “consciência da consciência” como encontramos no Diário Íntimo de Henri-Fréderic Amiel, um radicalismo perceptivo de raiz bergsoneana.<br />O paradoxo existencial acontece em fragmentos de consciência, dir-se-ia de uma supralucidez que a narradora/personagem conceptualmente contém – mesmo quando a loucura parece marginar esta descida aos infernos do ser. De resto, é esta lucidez transversal que estrutura discursivamente o romance, que se vai adensando na 3ª. Parte, na qual o autor tenta deixar pista que componham o puzzle indistinto e dificilmente percepcionável pelo leitor comum. Desde Rui Nunes que o romance português não se aventurava por estas águas profundas, não arriscava um tão absorvente léxico para comunicar o incomunicável. Um romance que percorre a autoconsciência como sinal de continua perturbação, uma razão inescrutável na personagem principal deste romance que a faz deambular, psiquicamente, por unívocos universos; a inquietação, que é do domínio do consciente, em permanente interrogação; a absurda subjectividade do ser de Heidegger: o vazio, o nada. As perturbações do ser que encontramos no Livro do Desassossego de Bernardo Soares e, anteriormente, em Raul Brandão. “Antes, sabendo, ser nada, que ignorando: nada dentro de nada”, Ricardo Reis.<br />As sensações que a narrativa de Rui Herbon exprime (ou escamoteia) são de ordem subjectiva como em Alberto Caeiro, são reacções opositivas da sensibilidade. A protagonista sente de forma descontínua e por imposição abstratizante do narrador(a). Desse modo, o autor propõe-nos uma aventura sensorial, ao modo epigramático de Maria Gabriela Llansol, pelo interior sensitivo da personagem. E é essa viagem que é sedutora pelo inesperado, pela amálgama de sentidos que propõe. Daí esta viagem de interiores (pela casa, pela memória, pelas paixões, pelos companheiros de jornada; os que morreram (o ex-seminarista?); os que se perderam pelos caminhos da ficção – da vida?).<br />Esta escrita é, na sua singularidade, um jogo de aparências, de simulacros – a reinvenção permanente dos labirintos do absurdo no qual é difícil desvendar os códigos, mesmo quando nos aproximamos da luz. Daí o olhar, as várias derivas em que se inscreve, ser o mais palpável desta narrativa, o seu mais seguro chão. Mas um olhar que se nega a ver o pormenor, a descrevê-lo; apenas plana sobre os seres, as coisas, ou poucos lugares que nomeia: Nova Yorque, Paris, Rio de Janeiro, Elisa, Leonor, Butch – embora haja, para cada um, uma estória breve, quase sempre de recorte kafkeano ou herdada de Camus (de quem o autor nomeia uma passagem de O Estrangeiro). Assim, este olhar é um olhar sintético, loquaz, fenemenológico, afastando-se da lógica sincrética da narração comum: dir-se-ia entre o introspectivo de Rui Nunes e o abstratizante poético de Rodrigo Guedes de Carvalho – sem a fragmentária metástase de António Lobo Antunes.<br />Este jogo cromo-sintético radica num espaço interiorizado até à obsessão (a cama como espaço de desespero, de êxtase, de abandono – também do erotismo, do reencontro com um corpo que a protagonista procura e entra depurado pelos espelhos). O acto de ver é, assim, um acto inconsequente porque fechado em si: o olhar é um contínuo perceptível do real intraduzível, esse espaço entre “a imaginação e a nossa actividade intelectual”(1), de uma omnipresente sensação de vazio: nada é nada e a linguagem só produz novas formas de incomunicabilidade – a essência está algures, não é percepcionável.<br />Este modo existencial da protagonista – ou do narrador que denuncia esta íntima relação do corpo como um mundo onde todas as sensações coabitam, poderia caber inteiro nestes versos de Alberto Caeiro: “Fecho os olhos e a terra dura sobre que me deito/Tem uma realidade tão real que até as minhas costas a sentem./Não preciso de raciocínio onde tenho espáduas”. E esta paradoxal visão da vida e da sua ficção que O Romper das Ondas inscreve está ainda presente nestes versos de Caeiro: “Eu vejo a ausência de significação em todas as cousas”.<br />Há uma ascese elíptica neste modo de narrar que nos estremece, mesmo quando o hermetismo fragmentário desta fala torna, por vezes, intraduzível a substância – é a forma que prevalece e essa voz unívoca é, em si, um valor de sedução e apego do leitor.<br />Não já a realidade que de todos os lados assola o personagem de Os Girassóis, em O Romper das Ondas o real é extrínseco à narrativa, vive marginal a ela, fechada num tempo irrecuperável que se perdeu algures. Como para Caeiro, neste romance de Rui Herbon, “sentir é distrair-se” da vida, do seu húmus elementar, dessa seiva que alimenta os sentidos mas onde, paradoxalmente, nos perdemos.<br />As hipóstases que este romance suscita conduzem-nos à reflexão, são um desafio à nossa capacidade de entrar no jogo, de perceber que esse universo existe apenas na factualidade ficcional e que a realidade se esparsa dentro destes muros. O desconstrucionismo de Derrida (e de De Man) fala desta abordagem dos conflitos inorgânicos, da sua inocuidade representativa.A escrita de Rui Herbon aproxima-se destas sínteses cognitivas. Ou seja, este romance inscreve-se nas definições avançadas por Miguel Real no livro Geração de 90 – Romance e Sociedade no Portugal Contemporâneo: “ alia o objectivismo mais chão ao subjectivismo mais delirante”. Um texto onde se cruzam as linhas mais intensas da narrativa contemporânea: realismo, subjectivismo e desconstrucionismo.<br />Ao driblar as linhas de fuga, o romance O Romper das Ondas, inaugura um novo paradigma: não será mais possível falar do amor, das pulsões interiores, sem uma ruptura com a linguagem: há uma linguagem que inaugura um modo de dizer a solidão hodierna, os modos de dizer o silêncio e a incomunicabilidade, uma forma outra de no-lo dizer, de gritar contra o silêncio.<br /><br />(1) – Fernando Guimarães, A Poesia Portuguesa Contemporânea – Edições Quasi<br /><br />DOMINGOS</span></div>Pedro Lagareiro Santoshttp://www.blogger.com/profile/10306456341911576273noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3963979829460890341.post-79395937038069942952009-03-07T20:10:00.002+00:002009-03-07T20:13:54.177+00:00SALAZAR DE BOLSO<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh57nVVwmqf6K8rDsKsEMjiI432IJwZ66ahxD1UhBv25kqcsCCyVQlR6LjwQnAs2rTIm8AI6gDmqpYtrH9zPgl5dRAoCuqs4CBoM1OiGOvvtSBaTB5xDicmLushl6HoVzewpRsLQZn2V08/s1600-h/untitled.bmp"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5310541519923187890" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 200px; CURSOR: hand; HEIGHT: 200px" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh57nVVwmqf6K8rDsKsEMjiI432IJwZ66ahxD1UhBv25kqcsCCyVQlR6LjwQnAs2rTIm8AI6gDmqpYtrH9zPgl5dRAoCuqs4CBoM1OiGOvvtSBaTB5xDicmLushl6HoVzewpRsLQZn2V08/s200/untitled.bmp" border="0" /></a><span style="font-family:verdana;font-size:85%;"><strong>António de Oliveira Bond</strong></span><br /><div><span style="font-family:verdana;font-size:85%;"></span></div><br /><div><span style="font-family:verdana;font-size:85%;">A SIC mostrou aos portugueses, numa mini série de dois episódios, Salazar como nunca ninguém o viu. Uma alusão à vida íntima do homem que governou o país em ditadura durante quase quarenta anos. Um Salazar muito dado aos prazeres carnais com as mulheres, num mundo que, ao que a SIC fez constar, foi sempre encoberto pelo próprio e pelo regime que liderava.<br /><br />Foi com relativa atenção e curiosidade que segui os dois episódios que a estação de Carnaxide passou em horário nobre. Mas foi com grande espanto que, na versão SIC do “botas”, constatei que o homem era afinal um “Don Juan”. Aliás, para mim, que segui a versão SIC da vida íntima do ditador, o nome apropriado que me ocorreu chamar-lhe foi - Salazar, António de Oliveira Salazar – exactamente! O nosso James Bond! Até porque com a personificação do “botas de Santa Comba” feita pelo Diogo Morgado, o senhor ficou mais afável e com melhor aspecto (quem viu os dois episódios até ficou com pena do “troca tintas” ter morrido), daí que o seu “sex appeal” fosse assim tão apreciado pelas senhoras.<br />No entanto ficou a perceber-se porque é que o ex-presidente do conselho era tão amargo, ou não tivesse o “botas” ficado perdido de amores pela única mulher que não conseguiu, vá lá, acarinhar... Porque de resto, mais nenhuma escapou aos encantos do António de Oliveira, um verdadeiro Bond. Julgo até que Ian Fleming, um espião que esteve alguns tempos em Lisboa em missões durante a Segunda Guerra Mundial e foi na sua própria experiência que se baseou para criar James Bond, deve ter tido conhecimento da vida íntima do “botas” e adaptou-a ao agente secreto mais famoso do mundo. É uma analogia natural que faço, depois de ter visto a série da SIC. E por isso, de cada vez que assistir a filmes do Bond, vou tentar encontrar semelhanças com Salazar.<br />Num ano como o que atravessamos, com uma crise mundial sem precedentes, e mais internamente com eleições europeias, autárquicas e legislativas, aquilo que se pede é que haja discernimento para saber o que foi o Portugal de Salazar e o que é o Portugal de hoje, apesar da televisão já várias vezes ter passado uma mensagem contrária. Porque em tempos de crise, diz a história, o povo agarra-se a qualquer salvador que por aí apareça e isso nem sempre foi a melhor solução.<br /></div></span><br /><div><span style="font-family:verdana;font-size:85%;">Pedro</div></span>Pedro Lagareiro Santoshttp://www.blogger.com/profile/10306456341911576273noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3963979829460890341.post-7446197772698002862009-01-30T10:32:00.003+00:002009-01-30T10:37:00.463+00:00MEMÓRIAS DE BOLSO<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnpFS84LDmyFAoJutbZ3tBbplAcofkVbnQyUprHzUy_73O5hSkc_yz3YbTGdE9tDNUaHUWhUpS5spB_E0p6Rv2UTnqCDEAEQCZ7u-Cn8uCcQSwcFsakyawkIwu0Xu5TCw3clnx45sGBLg/s1600-h/untitled.bmp"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5297033653070803362" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 176px; CURSOR: hand; HEIGHT: 200px" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnpFS84LDmyFAoJutbZ3tBbplAcofkVbnQyUprHzUy_73O5hSkc_yz3YbTGdE9tDNUaHUWhUpS5spB_E0p6Rv2UTnqCDEAEQCZ7u-Cn8uCcQSwcFsakyawkIwu0Xu5TCw3clnx45sGBLg/s200/untitled.bmp" border="0" /></a><span style="font-family:verdana;"><span style="font-size:85%;"><strong>ABRIR AS PORTAS À VIDA E LEMBRAR JOSÉ CARLOS ARY<br />DOS SANTOS – PARA RASGAR O SILÊNCIO</strong></span><br /><br /><span style="font-size:85%;">Nem todas as limitações sentidas pelos criadores à difusão dos seus textos, dos seus filmes, do seu teatro – para nos limitarmos às artes que têm a palavra como modo privilegiado de transmissão de ideias, de emoções e de afectos (embora no cinema e em algum teatro contemporâneo a palavra possa ser apenas um meio subsidiário e não o veículo principal) – se abateram com a queda do fascismo. Se no período sequente à Revolução de Abril foi possível aos criadores divulgar as suas obras e se criaram mecanismos de abolição dos entraves censórios e, consequentemente, se desenvolveram meios de apoio à sua geral prática e difusão pública, após o golpe reaccionário de 25 de Novembro a burguesia, com o apoio de alguns agentes conservadores, reciclados democratas em Estado Novo, cuidaram de gerar as estratégias de cerco – não já ostensivamente censórias, com lápis azul e broncos coronéis que o caruncho e o medo haviam compulsivamente levado a desertar para uma estratégica reforma – de forma mais subtil mas não menos segregadora da criação literária e artística livre e de clara opção anticapitalista, ou de tentar silenciar as vozes que ousassem criticar a deriva neo-liberal, então já claramente esboçada.<br />Os bloqueios socioeconómicos e profissionais não se fizeram esperar com os media a serem invadidos pelo grande capital, numa lógica rapace de controlo da informação e das ideias e de permanente intoxicação da opinião pública, visando não apenas o lucro mas, sobretudo, o poder de difundir o pensamento único.<br />Ary foi uma das vozes que esses poderes tentaram silenciar. Eduardo Pitta, com o desassombro que lhe reconhecemos, num texto publicado no livro “Comenda de Fogo”, em 2001, punha a faca a jeito e cortava onde doía, revelando que por parte da crítica instalada existia o silêncio ensurdecedor – aquele que por completo obliterou o poeta das FOTOS-GRAFIAS, uma espécie de agentes ideológicos, prontos a devorar as vozes mais incómodas e irreverentes. Nada, portanto, que já não se soubesse e que o próprio poeta, ainda em vida, não sofresse com a mágoa/raiva que lhe era peculiar, embora, quando a isso instado, esboçasse aquele sorriso de criança rebelde, remetendo-nos para os versos do poema Queixa e Imprecações dum Condenado à Morte: Por existir me cegam,/Me estrangulam,/Me julgam,/Me condenam,/Me esfacelam./ Por me sonhar em vez de ser me insultam,/Por não dormir me culpam/E me dão o silêncio por carrasco/E a solidão por cela. (1)<br />As ideologias de direita nascem das contradições do sistema, ajustam-se pragmaticamente às circunstâncias históricas do momento, têm um sentido aglutinador e concentracionário, mesmo que fragmentado, principalmente quando a crise abala o seu território.<br />Lenine recusava a redução das ideologias a sistemas de ideias e Gramsci avançava que enquanto historicamente necessárias, as ideologias possuem uma validade que é psicológica, ou seja, organizam as massas, formam o terreno onde os homens se movem, onde adquirem consciência da sua condição. O neo-liberalismo serve-se da ideologia para criar o inconsciente cultural, que lhe permite o domínio e controlo dos imaginários que reflictam criticamente sobre o real, exercendo vigilância activa sobre os produtos culturais por forma a criar a necessidade psicológica da fuga ao sacrifício (ao real) para melhor estabelecer o seu domínio.<br />Foi, seguindo este método, que quiseram relegar o autor de O Sangue das Palavras, quando o escândalo do silêncio começava a desnudar o sujo da marosca, à qualidade “menor” de poeta de cantigas, como justificativo do cutelo segregador. Também por aí a coisa surtiu coxa. Estimáveis comparsas dessas luminárias, punham-se a jeito, sem disfarce, para que os cantores e cantadores da moda lhes trauteassem as medíocres letrinhas. A manobra, tresandando a elitismo pacóvio, não pegou. Melhor e mais eficaz, lhes pareceu relegar a voz incómoda de Ary dos Santos (como anteriormente haviam feito com Armindo Rodrigues, João José Cochofel, José Gomes Ferreira, Manuel da Fonseca, etc.) para o limbo dos ícones de Abril e ter a maçada de lhes limpar o pó uma vez por ano, sem alardes excessivos, até que o tempo passe e deles se esqueçam os</span> <span style="font-size:85%;">vindouros aos quais vão, subtilmente, sonegando a memória essencial.<br />A esta democracia, cada vez mais amarrada aos rumores de cavername do 28 de Maio, a palavra clara e firme de um poeta é-lhe insuportável, mesmo quando os seus versos transportam e afirmam os mais lídimos anseios do seu povo. A esta via sinuosa para o desastre, basta-lhe a birra suave e controlada de um poeta de voz cava e monocórdica que teima em afirmar, regianamente, que não vai por aí, mesmo que os ínvios caminhos escolhidos o reconduzam, como um Sísifo dos nossos dias, à praça onde paulatinamente os seus companheiros vão agrilhoando as canções e onde tentam fechar o vento que, pertinaz, vai transportando pelos ares o inconformado grito das vozes deste país.<br />José Carlos Ary dos Santos foi sempre um poeta de pé, de coragem, de afrontamento. De causas. Excessivo e claro, generoso até ao osso, sensível até ao desatar das lágrimas, um sátiro que usava com destreza e originalidade o verbo para despir na praça os hipócritas, os sabujos e deixar à mostra o cetim estiraçado da moral burguesa. Para desmontar e subverter, criar a desordem que lançasse por terra os valores anquilosados: A cabeça de vaca de minha tia refoga/nas lágrimas burguesas da família enlatada/cozinha-lhe a memória um viúvo de toga/descasca-lhe a cebola uma filha frustrada. (2)<br />Ary é, assim, como o afirmou Natália Correia “um dinamizador da matéria poética” mas, sobretudo, um exímio comunicador que sabia que as palavras têm peso, espessura, qualidades. Não quis nunca, mesmo nos primórdios, que os versos servissem para decorar a sala de visitas, ou entediar os serões da burguesia. Como Lorca, António Machado, Alberti, Neruda, ele sabia que a poesia era uma arma carregada de futuro (Gabriel Celaya), um caminho a desbravar, um instrumento mais para erguer a voz e cantar a justiça e a paz, para ajudar Abril a caminhar, acreditando que O que é preciso é termos confiança/se fizermos de Maio a nossa lança/isto vai meus amigos isto vai.<br />Por isso, por este verbo rasante e justo, sem concessões, José Carlos Ary não rejeitava o epíteto de “poeta popular”. Popular na mais ampla conexão etimológica; popular porque relacionado com o povo, com ele democraticamente solidário.</span> <span style="font-size:85%;">Poeta popular porque reconhecido pelas massas, sancionado pelo povo; popular como o foram os poetas do Cancioneiro, como Camões, Bocage, Guerra Junqueiro, João de Deus, Gomes Leal. Popular, porque o Povo lhe sabe as cantigas, as canta em coro: Os Putos; Lisboa Menina e Moça; O amarelo da carris; O Cauteleiro; O Fado do Campo Grande; Amêndoa Amarga; Meu amor, meu amor; Alfama; A Tourada; A Desfolhada; A Cidade e mais de seiscentas outras que mudaram radicalmente o modo de escrever os versos das cantigas, que transformaram o panorama da nossa música ligeira, ainda no limbo do nacional cançonetismo. Ao publicar (1975) uma narrativa em verso rimado intitulada As Portas que Abril Abriu, Ary dos Santos assume-se, isto é, interdita-se pela poética popular (nos seus traços exteriores) e pelo comprometimento na sua dimensão didáctica. (3)<br />Mas, igualmente, o poeta do verso intempestivo, ardente, onde perpassa uma matriz pré-surrealizante (Adereços, Endereços), e uma voz que mistura um Genêt carnal e físico, e o excessivo clamor de Rimbaud (A Liturgia do Sangue). É com Adereços, Endereços, que Ary afirma, no contexto das vozes reveladas nos anos 1960 e na poesia portuguesa contemporânea, a sua voz singular, a sua originalidade sintáctica, que disseca a modernidade, mas que a um tempo o afasta formalmente, pelo torrencial estilístico e inconformado rebelde dessa fala, de alguns poetas da Poesia 61, muito mais orgânicos e academizantes, embora lhe possamos assacar traços de familiaridade com o sarcasmo de Armando Silva Carvalho e no nebuloso surreal de Fernando Grade. De resto, Ary é um dos poetas presentes na antologia Poesia 71, organizada por Fiama Hasse Pais Brandão e Egito Gonçalves, com 2 retratos dedicados a Guerra Junqueiro e Camões, retirados do livro Fotos-Grafias, que o poeta havia publicado em 1970.<br />Independentemente de procurarmos saber que espaço ocupará a arte poética de Ary dos Santos na história da Literatura Portuguesa (o tempo se encarregará de separar trigo e joio), o poeta de VIII SONETOS (atenção ao magnífico estudo de Manuel Gusmão que acompanha a 1ª. edição deste livro) será sempre para os homens justos desta terra, um dos mais raros e fecundos cultores da palavra poética da segunda metade do século XX português. Frontal sempre, e sagaz e inquieto, construindo o poema com a textura precisa, moldável, com um ritmo substantivo e exacto para caber no poderoso fluxo da sua voz, essa voz que enche de colorações inusitadas, modelando as palavras e transfigurando-as, transmitindo-lhes reverberações que a leitura corrente, por mais atenta, não se atreve a descortinar – palavras que na sua voz ganham um fulgor novo e nos parecem quase inverosímeis de tão certeiras e urgentes. A voz, o poder épico dessa voz, arrasta consigo o âmago mais secreto das palavras, cobre-as de sentido. De sentidos: no sarcasmo, na sátira, na denúncia, na emotividade. Ainda hoje não conseguimos ler As Portas que Abril Abriu sem lhe seguirmos o ritmo, a força, o exuberante clangor da forma como Ary diz os versos finais: Agora, ninguém mais cerra/as portas que Abril abriu.<br />Mesmo nesse rumor fundo do silêncio detectado por Eduardo Pitta, as palavras de José Carlos Ary dos Santos continuarão a estar vivas, a ressoar como um alerta aos nossos ouvidos, a caminhar ao nosso lado. Porque, por muito que tentem calar, um poeta Nunca canta sozinho, dado que “É por dentro de um homem que se ouve/o tom mais alto que tiver a vida/a glória de cantar que tudo move/ a força de viver enraivecida.” (4)</span><br /><br /><br /><span style="font-size:85%;">José</span></span><br /><div><span style="font-family:verdana;"><span style="font-size:85%;"><br /><br />(1) – In “A Liturgia do Sangue” – Obra Poética – Ed. Avante<br />(2) – In “Insofrimento” - Obra Poética – Ed. Avante<br />(3) – in “10 Anos de Poesia em Portugal” de Manuel Frias Martins – Ed. Caminho<br />(4) – In “O Sangue das Palavras” – Obra Poética – Ed- Avante</span></span></div>Pedro Lagareiro Santoshttp://www.blogger.com/profile/10306456341911576273noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3963979829460890341.post-45903582939318100692009-01-14T09:50:00.007+00:002009-01-14T10:03:33.575+00:00O Nosso País é uma Fantochada (de bolso)<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh_8c6eKeripzfRCzk-XPXz18899zIRjJ3qx_MIvDl_9VF3dKUbwDcpGxBKsmsILNTRqFqZVEigPZbVfdhlKSuzGHvNcSN13kyVYMDhOQ-uxtBBUB7EEKBEZsaRr1Vf6_lYIroWT20qOlo/s1600-h/untitled.bmp"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5291087207883588274" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 195px; CURSOR: hand; HEIGHT: 127px" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh_8c6eKeripzfRCzk-XPXz18899zIRjJ3qx_MIvDl_9VF3dKUbwDcpGxBKsmsILNTRqFqZVEigPZbVfdhlKSuzGHvNcSN13kyVYMDhOQ-uxtBBUB7EEKBEZsaRr1Vf6_lYIroWT20qOlo/s200/untitled.bmp" border="0" /></a><br /><div><span style="font-family:verdana;font-size:85%;">Medina Carreira no programa "<em>Nós Por Cá</em>", da SIC, "rasga" o governo e todas as suas opções de propaganda.<br /><br /></span><a href="http://sic.aeiou.pt/online/video/informacao/Nos+Por+Ca/2009/1/istoeumafantochada.htm"><span style="font-family:verdana;font-size:85%;">É só clicar <em>aqui</em> e ver.</span></a></div>Pedro Lagareiro Santoshttp://www.blogger.com/profile/10306456341911576273noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3963979829460890341.post-521790902637248992008-09-26T09:12:00.002+01:002008-09-26T09:17:42.159+01:00MERDA NO BOLSO<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1w2Hn-lF5fkKp-ORcpx3xZj0I97D6r4O_SQoWyv3pZ4sD_PhYcld5i7Wc-zCBSOK4bT5TwHN5LY20VIfCcu8iKx6zot_AN7Qu_rqWQDJTauOxx1xqQUP54KAo2dyrl7NtU_ZIPuw4uYU/s1600-h/pt$sic.gif"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5250241208401383010" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1w2Hn-lF5fkKp-ORcpx3xZj0I97D6r4O_SQoWyv3pZ4sD_PhYcld5i7Wc-zCBSOK4bT5TwHN5LY20VIfCcu8iKx6zot_AN7Qu_rqWQDJTauOxx1xqQUP54KAo2dyrl7NtU_ZIPuw4uYU/s200/pt$sic.gif" border="0" /></a><span style="font-family:verdana;font-size:85%;"><strong>A Sic mascarou-se de Tvi</strong></span><br /><div><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;"></span></div><br /><div><span style="font-family:verdana;font-size:85%;">Quem não se lembra do Perdoa-me, do All You Need is Love, dos Acorrentados, do Bar da TV e de tantos outros “brindes” que a Sic ao longo da sua existência nos tem oferecido em canal aberto? Mas todos estes «momentos altos» da televisão portuguesa juntos com o famoso Big Brother, não conseguem atingir o «patamar cultural» da mais recente estreia da Sic, o Momento da Verdade. É a prova de que o impossível está sempre a acontecer e o pior está sempre à espreita, acabando mesmo, infelizmente, por chegar. Resta perguntar como é que o Nuno Santos se lembrou duma destas?<br /><br />O novo reality show da Sic(k) resume-se a enxovalhar o concorrente a troco de dinheiro. E há quem se preste a isto! A ideia é nunca mentir às perguntas colocadas para ganhar até 250 mil euros. As respostas são comparadas com outras feitas anteriormente num teste de polígrafo e se até à pergunta 21 o concorrente disser apenas a verdade e nada mais que a verdade, sai vencedor, mas de vida desfeita.<br />Na estreia, o novo “herói nacional” foi um cabo do exército que confessou logo na primeira pergunta que já tinha ido embriagado para o quartel. Mas a chacina televisiva continua. No estúdio estão também familiares do “concorrente” que, no meu entender, têm a espinhosa missão de servir de entretenimento adicional ao público da Sic, devido ao ar incrédulo que vão fazendo de cada vez que o “concorrente” responde às perguntas mais íntimas. E há quem se preste a isto!<br />As perguntas sucedem-se e os euros aumentam, isto se a verdade vier sempre ao de cima. Ao mesmo tempo, a auto-estima do “concorrente” e dos seus familiares vai batendo cada vez mais fundo, até que se esvai... Mas não há vítimas a lamentar, pois há quem se preste a isto! Gente que não percebeu a triste figura que ia fazer, só para aparecer na televisão e ganhar meia dúzia de euros, dinheiro que nunca compensará o ridículo e a invasão da privacidade de cada um.<br />Por dinheiro, quem se senta na cadeira em frente de Teresa Guilherme diz para a audiência da Sic; que saliva em frente ao televisor à espera de sangue; aquilo que nunca foi capaz de confessar a sós à esposa/marido, família e amigos.<br />E a televisão portuguesa continua a ser isto. Feita para o público que a vê, que somos nós. Resta descobrir de quem é a culpa.</span></div><br /><div><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;"></span></div><br /><div><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;">Pedro</span></div>Pedro Lagareiro Santoshttp://www.blogger.com/profile/10306456341911576273noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3963979829460890341.post-4252390245912784752008-09-11T10:35:00.002+01:002008-09-11T10:37:25.448+01:00OLÍMPICOS DE BOLSO<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYZJ26yKoYpZiibCEDLbEi8xdpWvBht7t10OqViAbqmatvC3xLcg3dHFLsrh3z8uRw9R2Oy7YR2ncKdP2LB06gfhgfHAtRgWzk4_Ax6vdiGrVZfQQLoLfUucFD8UbkhkzdSpQH41cnY_g/s1600-h/foto(927).jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5244695493856717570" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYZJ26yKoYpZiibCEDLbEi8xdpWvBht7t10OqViAbqmatvC3xLcg3dHFLsrh3z8uRw9R2Oy7YR2ncKdP2LB06gfhgfHAtRgWzk4_Ax6vdiGrVZfQQLoLfUucFD8UbkhkzdSpQH41cnY_g/s200/foto(927).jpg" border="0" /></a><span style="font-family:verdana;font-size:85%;"><strong>Mal-estar olímpico</strong></span><br /><div><span style="font-family:verdana;font-size:85%;"></span></div><br /><div><span style="font-family:verdana;font-size:85%;">Uma tremenda confusão. Assim se pode descrever a delegação olímpica portuguesa que esteve presente nos Jogos Olímpicos de Pequim. Em todo o caso, sabemos muito bem as dificuldades que os nossos atletas têm, num país que só passa cavaco ao futebol. Aliado a essas dificuldades acresce ainda o presidente do Comité Olímpico Português (COP), Vicente de Moura. Quando tudo parecia perdido, aproveitou para dizer que se ia embora. Ainda bem, pois já lá anda há tempo a mais. Mas o mais surpreendente foi ter voltado com a palavra atrás logo a seguir ao Nélson Évora ter conquistado uma Medalha de Ouro. Muito mau!<br /><br />Durante mais de uma semana, Portugal lamentou-se dos maus resultados olímpicos. Depois, Vanessa Fernandes conseguiu a Prata no Triatlo e, três dias depois, Nélson Évora conquistou o Ouro no Triplo Salto. Nesse momento Portugal passou a ter o melhor resultado de sempre nuns Jogos Olímpicos. Face a isto, a demissão do presidente do COP, as declarações de vários comentadores e os títulos de vários jornais deixaram de fazer sentido.<br />Se Nélson Évora não tivesse ganho o Ouro dedicaríamos centenas de horas a discutir o que está mal. Será que existe neste país lucidez suficiente para fazer o mesmo, mesmo depois das duas grandes prestações dos atletas do Benfica? É que apesar do Ouro e da Prata os problemas subsistem exactamente iguais.<br />Portugal até tem boas infra-estruturas desportivas e dá condições de competição superiores a uma grande parte dos países de igual dimensão, para não falar em apoios (apesar de insuficientes) aos atletas. Então o que falhou? A atitude? Decerto!<br />O que fez com que a participação portuguesa nos Jogos olímpicos fosse inadmissível não foram as derrotas, porque a essas todos os atletas estão sujeitos. O grande problema foi a atitude, ou a falta dela, uma tremenda falta de concentração e, por vezes, alguma falta de educação, tudo isto fruto da gritante falta de liderança do Comité Olímpico Português.<br />É necessário que, quem de direito, entenda que o desporto em Portugal não pode ser só futebol. É preciso trabalhar neste sentido e fazer os possíveis para que o nosso país esteja entre os melhores e sempre bem representado. Há muitos campeões em Portugal a lutar todos os dias para isso.</span></div><br /><div><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;"></span></div><div><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;">Pedro</span></div>Pedro Lagareiro Santoshttp://www.blogger.com/profile/10306456341911576273noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3963979829460890341.post-61775875431003767282008-09-01T10:56:00.002+01:002008-09-01T10:58:43.170+01:00MITOS DE BOLSO<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEid28uOy9o9YdZcE-bcjSeyR-tZZE2wt6QTQIYx7M5GQm9kKU_s7dVoiWDzApoj_i9r_Iqwy5tBQNr0o9MYC2N5RgM_injW7GBI7GZd1RT9tPhDodiqCOnsAQiMRdR5WnEuSsdBzCLS-O8/s1600-h/arie_primavera_torrente.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240990143686491986" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEid28uOy9o9YdZcE-bcjSeyR-tZZE2wt6QTQIYx7M5GQm9kKU_s7dVoiWDzApoj_i9r_Iqwy5tBQNr0o9MYC2N5RgM_injW7GBI7GZd1RT9tPhDodiqCOnsAQiMRdR5WnEuSsdBzCLS-O8/s200/arie_primavera_torrente.jpg" border="0" /></a><span style="font-family:verdana;font-size:85%;">A SAGRAÇÃO DA PRIMAVERA, DE AURÉLIO LOPES<br /><br />Pediu-me o Garrido que viesse hoje aqui perorar sobre o teu livro "A Sagração da Primavera". O certo é que não me apetece: estou em dia não, em crise de identidade, aziago à brava e não me apetece falar de primaveras quando o cinza invade tudo, semáforos, jardins, ruelas de fado vadio e penadas almas. O frio cacimbeiro deste Dezembro, entra-me pelas frechas do bestunto e o coitado, assim exposto às intempéries, às maleitas do solstício de Inverno, põe-se com rebeldias, vai-se ao tapete e nega-se à reflexão. Estou hoje como aquela personagem de uma peça do Tchekov a quem pediram para falar dos malefícios do tabaco e se pôs a falar da vidinha minguada e desinteressante, carregada de angústias existenciais sem o Sartre ainda saber da poda e ir lá pedir-lhe direitos de autor: nem o Pessoa, que andava por essas margens, mas se acomodava a beber aguardente e a construir duplos de si mesmo. E, depois, em Lisboa, minha pátria das memórias infantes a esboroar-se no desencanto de uma dívida grossa, não me apetece tecer loas ao Povo, aos seus ancestrais hábitos e costumes. Estou como a Rainha do Círculo de Giz Caucasiano, do Brecht, que gostava muito do Povo "mas o cheiro"…<br />Os teus livros, Aurélio, sobressaltam-nos, falam-nos das pedras, de bosta nos lajedos, casas de xisto e adobe, de bois mansos, de crenças e mezinhas, dos ciclos de fertilidade, de sementeiras e colheitas: estou noutra, meu. Os espanhóis, os holandeses e franceses que mourejem para nos encher as bancas dos supermercados, o resto são desvarios de antropólogo e nisso, por deformação profissional, não meto prego nem estopa. Quero-me manso, com ressaca suave que seja sequer a do Vasco Pulido Valente ao meio-dia, e para histórias de avoengos temos o Sousa Tavares que produz tijolos literários à velocidade do som e dá, ao que consta, de comer a muitos famintos portugueses desempregados e na penúria. Deixa-te de tretas Aurélio, essa das Maias não pega, a única Maya fértil que conheço é cartomante e serve-nos o ego à mesa com destino, dores de corno, sorte ao jogo e aos amores ilícitos, chave certa no Euromilhões e vem na "Pública" aos domingos de recato e modorra; é quanto basta para se ser feliz. Para o meu lado revolucionário e épico guardo as imagens do Maio/68; Paris a arder, o Povo aos gritos libertários com os poemas de Mao a tiracolo (não existem revoluções felizes, como sabes) e palavras de ordem descabeladas e urgentes escritas nas paredes da Sorbonne. E lembro outros Maios, estes primeiros, vividos no Rossio, fugindo ao trote das bestas da GNR - bestas tout court, é evidente. Está no currículo e serve para exibir nestas enrascadas.<br />Agora, falar das tuas Maias, é que não: terreno em que não me atrevo, sou doutro departamento; das claridades solares do Eugénio de Andrade, do estilo levado ao ínfimo do prodígio da língua do Herberto, do Ramos Rosa - deixo-te as cantigas de roda, os cantos e as danças que enchem os ciclos da vida, todos o sabemos, origens nossas é evidente, saberes e lúdico misturados, devoções e poderes com o espírito santo a velar por nós pecadores e eu, como o Mário Soares, agnóstico e republicano, a ler-te os calhamaços, bodo aos pobres, festas em louvor de crenças avoengas e tolhedoras da modernidade tecnocrática e consumista, diria o nosso primeiro se a tanto se atrevesse na liça tecnológica que nos vai desgastando o corpito e, pior, a dissoluta alma que penada anda. Nem com os teus caretos, face ao caos que antevemos, lá vamos, caro Aurélio. Nem com trinta dotes, concinados a morgado, por muito célebre que seja, do Casal do Ventoso. O Casal Ventoso que sabemos e nos dói à brava, traz o cavalo espetado na veia até ao estrebucho e já não vai lá com modinhas de roda. Estamos, neste istmo miserável da Europa, como os teus "judas": suspensos de cordas bamboleantes e moídos de dívidas e de défice.<br />Para antropologias bastam-me os romances do Aquilino. Não vou por aí, meu caro, como escrevia o Régio. Nessa teia não me envolvo, é chão demais para inseguros pés. Imagino-te, a penates, gravador a tiracolo, máquina fotográfica e livralhada congénere a calcorrear montes e vales, a ouvir velhas desdentadas cantando em agudo eslavo cantigas de crenças e de trabalho, que paciência de Job, meu caro, ou de chinês que está mais à mão e é mais em conta, armado em Giacometti, mas com estilo, convenhamos, no Covão do Coelho, na aldeia da Glória, nas faldas esquecidas de Trás-os-Montes, a broa e jeropiga, a perderes-te em solstícios e brumas, chás pró quebranto e mau-olhado, padre Fontes telúrico entre bruxas e lobisomens. Não dá com o nosso tempo, meu caro: somos da Baixa-Chiado, de torradinhas na Bénard, café na Brasileira, má-língua na Versailles, compras nas mercearias de engenheiro Belmiro e, para as folgas do intelecto, temos as Fnac que nos cheiram a Sena e Champ's Elisée. Os teus livros têm demasiado povo dentro, demasiado mundo nosso que queremos esquecer, como o Pessoa também queria. Mas tu não deixas, teimas em invadir o nosso espaço com os ritos ancestrais da subversão, com a tradição portuguesa, coisa em desuso como sabemos: a ASAE anda aí a fechar-nos a tradição por todas as esquinas, para que a nossa tripa não rebente de sebo, dobrada com feijão branco em tascas manhosas, gravanços com bacalhau, repolhuda com mão de vaca e ginjinha com elas. Enterramos as tradições como enterramos o Entrudo: sem lágrimas e sem revolta. Falta-nos o O'Neill para pôr isto a jeito e enterrado nos sábados do nosso descontentamento e do nosso caos colectivo e nem uma gaivota cega voa nos deserdados e esquecidos céus de Lisboa. Qual Primavera, meu velho, qual Sagração. A única que sabemos é a do Stravinsky, sentadinhos nas poltronas da Gulbenkian, ou do CCB, com o olhar vagamente enfastiado, tossindo à brava para disfarçar o desconforto, à procura de perceber aquilo, aquelas dissonâncias que levaram os broncos parisienses, em 1913, à pateada furiosa e agora nos amansam de reverência e prostração conformada, e as danças a que vamos são as da Pina Bausch, embora não percebamos patavina da simbologia implícita na desordem dos movimentos. Mais fácil ao nosso olhar vadio, porque nos rói no sangue, as danças do teu Rancho de Covão do Coelho, com seus pressupostos identitários, com o cântico da terra à ilharga, mas não dá status nem o terreiro serve para exibir o figurino. Às tuas metáforas do simbólico, do sagrado e do lúdico, contraponho a imaginação regressiva das minhas angústias púberes, de outros rios e gentes e queria ver-te, fatinho de caqui colonial, em busca de solstícios em "terra onde não há Primavera nem Outono, é tudo um sol em brasa", como escreveu o Carlos Tê, entrando em musseques, nas casas de zinco do bairro Samba, a falar quimbundo com as pretas, quimbundo aprendido nos livros do Luandino Vieira que só ele e o Zeferino Coelho entendem, e a quitandeira da esquina, ou no pretuguês do Mia Couto, e extraíres da rezinga crioula cantigas de louvor e fertilidade. Dessas andanças te safaste, por um triz; por lá andaram os da minha geração com o bornal à ilharga, forçados a inventar outros modos de sobreviver, face ao caos que para nós inventaram.<br />Do teu mundo, dessa magia que anda à solta em milhares de páginas dos teus livros, sei apenas dos meus tempos de férias nas beiras do botas, ali ao rés do Dão, região demarcada de ditadores pacóvios, vinho e pão de milho: regressava de lá com a boca carregada de esses beatos e os putos da Escola do Arco do Cego rebolavam-se de gozo. Sei das minhas passeatas pela Serra de Arada, entre aldeias abandonadas, uma das quais com ressonâncias bárbaras, Drave. Os homens haviam fugido a salto para França e só mulheres loucas restavam no meio do casario de xisto e sombras. Por lá ainda existem resquícios de altares pagãos, rusticidades urdidas no xisto e inscrições em lápides dos mortos eternos:"Que eu veja uma nova Terra e um novo Céu". Do fundo do vale ouvia-se o desvario dos gritos de mulheres alucinadas, misturados com o tinir dos chocalhos. Não eram gritos de aflição nem de chamamento, apenas gritos "Uuuuuuuhh!Uuuuuuuhh!. De repente, vinda do nada, uma mulher sozinha, que devia ter mais de 60 anos e os meus medos refluindo aos pés. Pensei, assustado, que fosse ela que gritava, mas não era. Perguntei-lhe que gritos eram aqueles e ela respondeu-me com a maior das naturalidades: "É uma pastora, está a gritar para manter os lobos afastados do seu rebanho". Agora, neste país, por muito que gritemos, os lobos não nos largam: ferram-no o dente até ao tutano – é a vida, como dizia o da Opus Dei.<br />Mundos nossos, Aurélio, que tu abarcas como poucos para tentares manter viva esta ideia perene de que o povo constrói a sua identidade a partir do seu mais fundo chão. Mas nós, nesta urgência suicida de escreviver, vamos à vidinha e, desapossados das ferramentas essenciais, tropeçamos na montra da nossa ignorância e vamos definhando sem honra nem glória.<br />A Snu Abecassis dizia, ou alguém por ela, que nós só sairíamos do retábulo do nosso século XVI, quando a Europa nos entrasse casa dentro. A Snu vinha da Europa loira e liofilizada, onde não se cospe no chão nem os homens apertam, de cinco em cinco minutos, as partes, receosos de que a virilidade se ausente para outras paragens; onde não há cantos de trabalho, nem procissões, nem bodo aos pobres, nem crenças no Espírito Santo e na Redenção. Pois é, a Europa está aí já, em força, e nós continuamos calaceiros, medrosos do futuro e Chico-espertos. Não saímos do retábulo fadista, desgraçado e nevoento do nosso século XVI. E a culpa é tua que teimas em atirar-nos à cara com a carga ancestral e luminosa das nossas raízes e nós, canhestros, não sabemos pegar nessa bagagem cultural única e intransmissível, para nos afirmarmos como Povo singular, engenhoso, orgulhoso e nobre. Tardamos, meu amigo. Tardamos.É verdade, não se esqueçam que o tabaco mata.</span><br /><div><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;"></span></div><br /><div><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;">José</span></div>Pedro Lagareiro Santoshttp://www.blogger.com/profile/10306456341911576273noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3963979829460890341.post-88414453079783468322008-08-16T11:42:00.004+01:002008-08-16T12:15:14.747+01:00MOITA FLORES, ÁGUAS DO RIBATEJO, O MIRANTE E A SIC... TUDO NO MESMO BOLSO<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxg0hl4uRSR2fJCBX1-bSjMRuUtq_DaO9fjHCzXjejGrKYdUqbLW4yB05PU9GmXP4Vm-MxYVn3zPJi5j4673NP06s4Ksk48yx6gr9yWIYAMDX6hS7H9-FBEkKmchSSXOFGa58NV95hTmQ/s1600-h/perig.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5235071417125262930" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxg0hl4uRSR2fJCBX1-bSjMRuUtq_DaO9fjHCzXjejGrKYdUqbLW4yB05PU9GmXP4Vm-MxYVn3zPJi5j4673NP06s4Ksk48yx6gr9yWIYAMDX6hS7H9-FBEkKmchSSXOFGa58NV95hTmQ/s200/perig.jpg" border="0" /></a><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;">O que têm em comum estes quatro? Simples, a premissa inicial. Moita Flores, o "apanha bandidos", está em todas, ou melhor, na Águas do Ribatejo já esteve e tem pena de não estar. Na SIC aparece todas as semanas como paineleiro de assuntos criminais, devido à experiência adquirida como <em>Homem da Judite</em>, ao mesmo tempo que promove a sua imagem... Pontos para as próximas autárquicas, pois a publicidade, seja boa ou má, é sempre publicidade e certamente que os munícipes <em>scalabitanos</em> se orgulham de ver o seu autarca na tv. Os problemas graves que a autarquia atravessa, alguns por culpa do jovem autarca, são ninharias. O que interessa é estar na tv a falar do vergonhoso caso Maddie ou seja do que for que assole o país. Santarém fica para segundo plano, mas o povo orgulha-se na mesma, porque o Presidente aparece na tv e sabe muitas coisas. É uma figura pública nacional e já tem sotaque ribatejano e tudo.</span><br /><div><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;">N' O Mirante marca presença todas as semanas, ora pois, mais publicidade gratuita para as próximas autárquicas. E quando não é Moita Flores a falar, falam outros por ele, pois <em>quem não aparece esquece</em>, já diz o povo, e deixar cair o homem que colocou em causa a CULT e as Águas do Ribatejo é sacrilégio, pois a polémica deve ser alimentada, até porque vende jornais, «e publicidade é sempre publicidade, seja boa ou má».</span></div><div><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;">O "apanha bandidos" está em todas, menos em Santarém (e na Águas do Ribatejo). E quando daqui saír leva com ele material suficiente para mais uma novela. Que seja breve, pois a capital ribatejana merece outro respeito.</span></div><div><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;"></span></div><br /><div><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;">Pedro</span></div>Pedro Lagareiro Santoshttp://www.blogger.com/profile/10306456341911576273noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3963979829460890341.post-71065773647034512382008-08-06T11:59:00.005+01:002008-08-06T12:07:57.985+01:00BOLSO DE MEMÓRIA<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRcNrtK0x1ARZfqmc4gJSTAtjryrb1P4sgQSEFagH81c-XGgmQCMjMngtGu-NNjhMV0WNe5bM4l0drRRn1f89kQEb6yGO5Jc90kGIoCQ4AkE6_I739mkd_WZbQ6MmP-Cbz0Pz7HCRtdMc/s1600-h/ferreira_castro.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5231359733562259346" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRcNrtK0x1ARZfqmc4gJSTAtjryrb1P4sgQSEFagH81c-XGgmQCMjMngtGu-NNjhMV0WNe5bM4l0drRRn1f89kQEb6yGO5Jc90kGIoCQ4AkE6_I739mkd_WZbQ6MmP-Cbz0Pz7HCRtdMc/s200/ferreira_castro.jpg" border="0" /></a><span style="font-family:verdana;font-size:85%;"><strong>A LITERATURA E O REALISMO SOCIAL – NOS 110 ANOS DO NASCIMENTO DE FERREIRA DE CASTRO</strong><br /><br />Desde Camilo que a nossa ficção se deixou seduzir (e, quanto a mim, bem) pela realidade portuguesa. A realidade que estava ao rés dos olhos, bastava para tanto fixar o olhar e ela entrava-nos pelos neurónios, a doer, atrelava-se à prosa como lapa à rocha em manhãs de vendaval. Com Camilo e com Júlio Diniz e, mais tarde, com Eça de Queirós, começávamos a saber pensar, literariamente, a realidade circundante, nossa e intransmissível – os seus mais obscuros linimentos.<br />Camilo, nos seus romances, nos interstícios da poeira romântica, convocava o Povo para o pôr a servir, para figura subalterna, passiva e serviçal. Eça, que pertenceu a uma geração que sonhava um projecto de transformação da sociedade portuguesa, de cariz progressista, influenciado por Hegel e, sobretudo, por Proudhon, limitou-se a uma crítica mordaz dos comportamentos da burguesia e da aristocracia endinheirada, de denúncia aos excessos lúbricos do clero, relegando, quase sempre, as classes trabalhadoras para um papel de observadores passivos ou de meros instrumentos ocasionais do jogo de intriga. Devemos-lhe, contudo, esse notável texto, lido nas Conferências do Casino, A Nova Literatura – O Realismo como nova expressão da Arte, a partir do qual a literatura portuguesa rompia, definitivamente, com os maneirismos barrocos e com o romantismo e assumia a crítica social, denunciando excessos e injustiças mais chocantes. Mas Eça e seus companheiros da Geração de 70, nunca chegaram, nos seus textos, a dar “verdadeiramente voz às camadas populares”(1)<br />A voz do Povo, enquanto sujeito da história, só aconteceria na nossa Literatura anos depois, através da pujante obra romanesca de Ferreira de Castro. Embora no romance naturalista O Amanhã, de Abel Botelho, publicado na última década do século XIX, o protagonista seja um tipógrafo anarquista, prenuncio já de algum inconformismo social, é através do romance Emigrantes, publicado em 1928, que Ferreira de Castro inaugura na nossa ficção o realismo social o qual antecipa, nos aspectos mais abrangentes e determinantes da denúncia da opressão do capital sobre o trabalho, o neo-realismo.<br />Ferreira de Castro, nasceu em Ossela, Oliveira de Azeméis, a 24 de Maio de 1898. Filho de camponeses pobres, emigra para o Brasil com 12 anos de idade. Em Portugal vivia-se ainda a aura romântica (muito camiliana) do “brasileiro-torna-viagem”, que buscava em Terras de Vera Cruz o seu El Dourado. Nada disso aconteceu com Ferreira de Castro: para o Brasil partiu com uma mão cheia de nada e de lá regressou com outra cheia de coisa nenhuma. Mas, para o jovem que já escrevia poemas na sua Ossela natal e aos dezoito escreve o seu primeiro romance, Criminoso Por Ambição, publicado em forma de folhetim, a experiência de quatro anos vividos no seringal Paraíso, em plena selva amazónica, haveria de constituir-se como determinante para a sua produção ficcional. O jovem emigrante recolheria na selva amazónica, através dos trabalhos mais duros e humilhantes, ao nível da semi-escravatura, mas igualmente em Belém do Pará, em S.Paulo e no Rio de Janeiro, elementos e vivências que lhe permitiram construir uma obra de 31 livros, entre romances, memórias de viagens e ensaio sobre arte, tornando-se o escritor português mais traduzido e conhecido do seu tempo e um dos mais prestigiados e universalmente estudados de toda a nossa Literatura.<br />É numa viagem a Manaus, logo após a publicação de Criminoso Por Ambição, que Ferreira de Castro, em contacto com outros compatriotas pobres, que no Brasil não encontram o paraíso prometido pelos engajadores, obterá os elementos que lhe permitiram a elaboração do livro Emigrantes, a sua primeira obra de fôlego, na qual se detecta já a estrutura novelesca, embora ainda com algumas fragilidades formais, que edificará o melhor da sua vasta obra. Manuel da Bouça, o protagonista de Emigrantes, camponês pobre e analfabeto, vai para o Brasil na esperança de conseguir fortuna para arranjar dote para a filha e poder comprar as leiras que fazem estrema com as suas. Mas o sonho desfaz-se e Manuel da Bouça regressa à pátria mais pobre do que partira e já desapossado das courelas que deixara como penhor do bilhete para a viagem. Só regressa, mesmo pobre e humilhado, por que os acasos da sorte o atiram para a confusão de uma revolta e ele consegue ficar com os anéis, a corrente e o relógio de um dos mortos na contenda. O profundo humanismo de Ferreira de Castro está patente na forma como olha para este homem desapossado, pela usura, dos resquícios de dignidade, como lhe percorre os sobressaltos das noites despovoadas, o acompanha, com solidário estremecimento, até à vergonha que o espera no seu regresso à aldeia. Aí chegado, é obrigado a mentir, a inventar um sucesso que não houve. Parte para Lisboa, expiando, na cidade grande, longe dos olhares dos seus conterrâneos, o fracasso e a mentira.<br />A sua obra-prima, a obra que o tornará conhecido internacionalmente é, sem dúvida, A Selva. Os seus anos de adolescente passados no seringal serviram-lhe para tornar verosímil esse inferno vivido pelos homens na floresta amazónica, para nos dar a dimensão da avareza, da tirania, da sujeição a que os trabalhadores são expostos por um sistema desumano e esclavagista. Em A Selva o personagem principal não é Alberto, o jovem monárquico fugido a uma revolução perdida, mas a selva amazónica, esse vasto espaço indomesticável, rude e impenetrável, perante a qual os homens que a habitam exibem os seus mais primitivos instintos: “Era um mundo à parte, terra embrionária, geradora de assombros e tirânica, tirânica! (…) Ali não existia mesmo a árvore. Existia o emaranhado vegetal, louco, desorientado, voraz, com alma e garras de fera esfomeada. (…) Os homens eram títeres manejados por aquela força oculta, que eles julgavam, ilusoriamente, ter vencido com a sua actividade, o seu sacrifício e a sua ambição.” (2)<br />O teórico alemão Wolfgang Kayser, refere, no ensaio Análise e Interpretação da Obra Literária, que A Selva “é nitidamente um romance de espaço”, de um “espaço geográfico e telúrico, em que se vem inscrever o espaço social”.<br />A arte literária de Ferreira de Castro é visionária, não só porque antecipa, brilhantemente, o humanismo neo-realista, mas por abrir à literatura outros horizontes geográficos e civilizacionais até então ausentes da ficção narrativa: a vida na selva amazónica, a emigração, as preocupações ecológicas.<br />Em O Instinto Supremo, Ferreira de Castro ergue a voz corajosa e solidária, para defender os índios do Brasil, as ameaças que pairam sobre o seu modo de vida, cultura e costumes, que a cupidez dos colonos vai fazendo desaparecer. É toda uma cultura ancestral, restos da civilização ameríndia, que máquinas infernais do capitalismo vão destruindo quilómetro a quilómetro. O Instinto Supremo antecipa em algumas décadas, (foi publicado em 1968) as nossas mais profundas preocupações ambientais, traz para o terreno da consciência colectiva universal, os problemas fulcrais da exploração sem freio que o capitalismo selvagem vem impondo aos recursos deste planeta que nos é comum, pondo em risco a sobrevivência das futuras gerações.<br />Ferreira de Castro foi um escritor profundamente comprometido com o seu tempo, corajoso, civicamente empenhado, denunciando nos jornais e através da sua obra, as injustiças, as perseguições a democratas, a opressão e a tirania do fascismo luso. O romance A Curva da Estrada é, pela sua crua lucidez, um dos textos em que essa vertente interventora de Ferreira de Castro mais claramente se assume.<br />O ensaio As Maravilhas Artísticas do Mundo, revela-nos um Ferreira de Castro cosmopolita, viajado, atento ao pulsar deste nosso mundo, sabedor e culto, escrevendo ou convivendo com os grandes vultos da arte e da cultura seus contemporâneos: Picasso, Gauguin, Matisse, Claude Monet.<br />O realismo social da obra de Ferreira de Castro é, nestes tempos dramáticos que nos querem obrigar a viver, obviamente incómodo. Para os poderes instalados é preciso, primeiro, denegrir e, subtilmente, tentar ignorar a obra ímpar do autor de A Lã e a Neve. A crítica instalada, impante, sempre serviçal, do alto do seu snob conservadorismo armado em modernaço, tenta passar-lhe ao lado: entretém-se com o Fernando Pessoa e com o baú das pepitas a haver, que talvez lhe garanta mesada grossa para pagar a renda – sobretudo, é preciso não irritar quem lhes paga a soldada. O ministro da cultura, a existir, andará certamente absorvido com outras transcendências, implorando aos deuses do seu exclusivo Olimpo que o não perturbemos com minudências, tentando ignorar que neste ano da graça de 2008 se cumprem 120 anos sobre a data de nascimento de um dos nomes cimeiros da Cultura Portuguesa do século XX.<br />Apesar de todo o silêncio (há silêncios ensurdecedores) “a obra romanesca de Ferreira de Castro, injustamente esquecida (…) merece uma atenta revisão, que, na actual conjuntura política em que o egoísmo prevalece ostensivamente sobre a solidariedade, possa iluminar os valores humanos que o seu realismo social exalta sem demagogia”. Justas e sábias palavras de Urbano Tavares Rodrigues.<br />A Obra de Ferreira de Castro está aí. Viva, a doer-nos, a mostrar-nos os lanhos que mais nos ferem e indignam. Uma escrita ainda actual e com futuro. Para o Futuro.<br /><br />(1) – Urbano Tavares Rodrigues – Ferreira de Castro, o realismo social e a dignidade humana<br />(2) – A Selva, de Ferreira de Castro</span> <div><div><span style="font-family:verdana;font-size:85%;"></span></div><br /><div><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;">José</span></div></div>Pedro Lagareiro Santoshttp://www.blogger.com/profile/10306456341911576273noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3963979829460890341.post-40200122170005938542008-07-24T09:57:00.002+01:002008-07-24T10:00:58.505+01:00BOLSO EM CRISE<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTEp0-0f1cUoIJaXW2QnV9IW_DNUvI3_F1gSztmsbfxlIlJqFXQ4QhIJhLltSbhBrv0zu1i8TPJdr1frMaiUfB_qFaky8D7UeE7SLM9yDNZ72CcdwkS11pLVCeyPjESS03QVpOm_jEsZU/s1600-h/crise.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5226502914616985826" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTEp0-0f1cUoIJaXW2QnV9IW_DNUvI3_F1gSztmsbfxlIlJqFXQ4QhIJhLltSbhBrv0zu1i8TPJdr1frMaiUfB_qFaky8D7UeE7SLM9yDNZ72CcdwkS11pLVCeyPjESS03QVpOm_jEsZU/s200/crise.jpg" border="0" /></a><span style="font-family:verdana;font-size:85%;"><strong>A Crise vem aí</strong></span><br /><div><span style="font-family:verdana;font-size:85%;"></span></div><br /><div><span style="font-family:verdana;font-size:85%;">Portugal, como todo o mundo ocidental, vive agora um grave momento de crise. Mais profunda por cá porque produzimos muito pouco daquilo que consumimos, e por isso não se vislumbram melhoras. A verdade é que não estamos no bom caminho nem tão pouco parecemos preparados para a enfrentar. Desde 2002 que a nossa taxa de crescimento está estagnada, com uma produção nacional debilitada e dependente, aumentando por isso cada vez mais a dívida externa.<br /><br />A crise financeira e a consequente travagem no investimento acaba por trazer a reboque o aumento dos combustíveis e dos bens alimentares. Perante isto, o que nos fica é a ausência de respostas por parte da União Europeia, nomeadamente do Banco Central Europeu, que parece desorientado no centro dos destinos financeiros de uma Europa cada vez mais fragilizada e sem soluções para resolver o problema do “desenvolvimento a duas velocidades” que ela própria criou.<br />No entanto também sabemos que apesar das alterações verificadas na produção e no consumo de petróleo, uma parte muito significativa do preço dos combustíveis é apenas especulação, existindo de facto grandes diferenças entre a procura real de petróleo e os números avançados pelas grandes instituições e pelas petrolíferas. Aliás, são hoje essas grandes instituições financeiras em conjunto com as petrolíferas, mesmo as de menor dimensão, que determinam o preço do “ouro negro”, e com grande opacidade.<br />Os resultados disto tudo são os constantes «crashes» nas bolsas, os investimentos em queda, o consumo em forte recessão, o desemprego em alta e para ficar, o aumento dos juros, o poder de compra cada vez mais reduzido. É este o estado da economia e das sociedades mundiais, onde cada vez mais a desigualdade social se irá notar e onde cada vez mais a insegurança será uma constante.<br />Por cá, parece que em 2009 o país irá atingir o pico de crise mais alto de sempre. Ainda assim, os portugueses continuam a recorrer ao crédito para pagar férias em “resorts” de luxo ou para garantir o primeiro «iphone» do mercado, lançado pela Apple. É caso para dizer que, de todo, não estamos preparados para o que aí vem. Resta apenas esperar para saber quais os efeitos nefastos que nos vão bater à porta, muitos deles consequência inequívoca dos erros do passado.</span></div><div><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;"></span></div><br /><div><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;">Pedro</span></div>Pedro Lagareiro Santoshttp://www.blogger.com/profile/10306456341911576273noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3963979829460890341.post-42852284302931155852008-07-14T11:15:00.002+01:002008-07-14T11:19:24.469+01:00TRADIÇÕES DE BOLSO<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvq64MTmTUU6go96FzwUbJcFH8RiBQYp5m8sXMEIr_4Kov_tlQXjJieGTbQDki6GQJMHc27j9S492mr3h_EF4cfvrO2VGOoz5AHqFR3wV86YxVbfjcW1TOR6drapxnafPB4dU2n_FTsZk/s1600-h/28.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5222811989189571938" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvq64MTmTUU6go96FzwUbJcFH8RiBQYp5m8sXMEIr_4Kov_tlQXjJieGTbQDki6GQJMHc27j9S492mr3h_EF4cfvrO2VGOoz5AHqFR3wV86YxVbfjcW1TOR6drapxnafPB4dU2n_FTsZk/s200/28.jpg" border="0" /></a> <div><span style="font-family:verdana;font-size:85%;"><em><strong>A Toirada dos Morangos com Açúcar</strong></em></span></div><div><span style="font-family:verdana;font-size:85%;"></span></div><br /><div><span style="font-family:verdana;font-size:85%;">O tempo de facto não perdoa. Já passam 15 dias desde a Festa da Sardinha Assada, o dia em que Benavente se veste de gala para acolher os milhares de visitantes que se deslocam a esta vila, para num ambiente tipicamente ribatejano confraternizarem em torno de um fogareiro, comendo as sardinhas, bebendo o vinho e descobrindo os toiros. Agora só para o ano, mas fica a saudade de três grandes dias e noites, onde a amizade é o mote principal desta festa ímpar no país.<br />Relembro a Festa da Amizade porque foi precisamente na primeira largada de toiros que escutei alguns desabafos pelo momento menos bom que a festa brava em Portugal atravessa. A RTP foi proibida de transmitir Corridas de Toiros antes da 22.30 horas e mesmo a essa hora tem de colocar a bolinha vermelha no canto superior do ecrã, catalogando o espectáculo de toiros como um programa capaz de ferir os mais susceptíveis. Isto mais parece uma tentativa descarada de acabar com as nossas mais antigas tradições.<br />Primeiro perdemos grande parte da nossa identidade quando mudámos do Escudo para o Euro. Se tal não acontecesse, diziam, perderíamos o combóio europeu. O que aconteceu foi um aumento do custo de vida dos portugueses, com tudo a ser arredondado ao euro (são 200 escudos!!). Lá se foi a identidade... e o dinheiro.<br />Depois criou-se a ASAE para punir severamente todos os que não cumprissem os requisitos mínimos de higiene e segurança nos estabelecimentos comerciais. Com isto até a Ginginha do Rossio e as Farturas da “Ti Alzira” foram obrigados a remodelar os seus espaços, senão fechavam permanentemente. Assim se aniquilam ícones importantes dos nossos costumes.<br />A seguir a entidade reguladora vem proibir a transmissão de espectáculos taurinos na televisão estatal antes das 22.30 horas e obrigar à colocação da bola vermelha no canto, quebrando uma tradição cultural com cinquenta anos, tantos como tem a RTP.<br />Portugal está a começar a perder-se e qualquer dia arriscamo-nos a ser um país sem história.<br />É evidente que, tal como tudo na vida, têm de existir os que são a favor e os que são contra a festa brava. É também verdade que o espectáculo dos toiros tem a sua base no castigo do animal. Só que uma corrida de toiros, uma espera de toiros ou a picaria à vara larga são tradições seculares e fazem parte da identidade cultural de um país e das suas gentes. Impedir a transmissão de espectáculos taurinos na televisão pública (que todos os portugueses pagam na factura da EDP) é um acto extremamente autoritário num país que se diz democrático.<br />Em vez de se querer acabar com a identidade de um país que cada vez mais começa a ficar bolorento, o melhor seria proibir a gerações mais jovens de assistir aos “Morangos com Açúcar” e ao Wrestling, isso sim verdadeiros programas que incitam à violência e ao bullying nas escolas.<br />Banir estes programas da televisão portuguesa, por aí é que é o caminho, para ver se se começa a dar mais valor ao que é verdadeiramente nosso.</span></div><br /><div><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;"></span></div><br /><div><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;">Pedro</span></div>Pedro Lagareiro Santoshttp://www.blogger.com/profile/10306456341911576273noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3963979829460890341.post-61912278155331248282008-06-16T10:53:00.003+01:002008-06-16T10:56:53.345+01:00PORTUGAL DE BOLSO<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg771jVErgh6jYeod_D2PtcXJ8spoZTVIgdrhqRzKvDgva9CqdKn-AxkcZNaiKZZSrFxAZw-uMRlUoe1TDv2-kcnlDKNfHpuqjeXoDYZM5CgY07sBqQiyx_UEn3WJyD2xbEWiSdo2yrJgA/s1600-h/portugal2.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5212416000815148306" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg771jVErgh6jYeod_D2PtcXJ8spoZTVIgdrhqRzKvDgva9CqdKn-AxkcZNaiKZZSrFxAZw-uMRlUoe1TDv2-kcnlDKNfHpuqjeXoDYZM5CgY07sBqQiyx_UEn3WJyD2xbEWiSdo2yrJgA/s200/portugal2.jpg" border="0" /></a><br /><div><span style="font-family:verdana;font-size:85%;"><strong>Ai Portugal Portugal…</strong></span></div><br /><div><span style="font-family:verdana;font-size:85%;"></span></div><br /><div><span style="font-family:verdana;font-size:85%;">A semana passada recebi um e-mail diferente. Não era um daqueles e-mails que recebemos às dezenas todos os dias com situações insólitas que nos costumam arrancar uns sorrisos. Este era apenas um e-mail simples de texto sobre aquilo em que se transformou o nosso país, depois de vários anos de governações had-hoc extremamente lesivas para Portugal e para os portugueses e cuja culminância foi agora atingida pelo governo liderado por José Sócrates. Apesar da simplicidade da escrita, percebe-se claramente um grande sentimento de revolta e descontentamento por parte do autor. Porque julgo que é importante perceber o que se anda a passar em Portugal numa altura em que as vitórias e os treinos da Selecção Nacional fazem esquecer o aumento dos combustíveis, as desigualdades sociais ou a fome no mundo, vou aqui partilhar algumas das coisas que estavam escritas no e-mail que recebi esperando que possam ter uma função consciencializadora.<br /><br />Em Portugal:<br />- uma adolescente com 16 anos pode fazer um aborto, mas não pode colocar um piercing ou tatuar-se;<br />- se um dos cônjuges se quiser separar, basta pedir;<br />- um professor pode ser agredido na escola por um aluno e nada pode fazer, pois a sua progressão na carreira está dependente da nota que der aos seus alunos;<br />- um jovem de 18 anos recebe 200€ do estado para não trabalhar e a reforma de um idoso é de 236€, depois de ter trabalhado toda uma vida;<br />- o fisco penhora indevidamente o salário de um trabalhador e demora 3 anos para corrigir o erro;<br />- o estado vai gastar centenas de milhar de euros com o novo aeroporto, com a nova ponte e com o TGV e não tem dinheiro para baixar os impostos;<br />- nas zonas mais problemáticas das áreas urbanas existe 1 polícia para cada 2.000 habitantes;<br />- o IVA das cadeiras para os automóveis para quem tem filhos até aos 12 anos, assim como das fraldas descartáveis, é de 21%;<br />- grande parte dos exames médicos têm o IVA taxado a 21%, enquanto que em Espanha são taxados a 7%. No entanto uma noitada no casino com jantar e espectáculo paga apenas 12%;<br />- o governo incentiva as pessoas a utilizarem energias alternativas, mas multa quem coloca óleo vegetal nos carros porque não paga ISP;<br />- um jovem com 14 anos mata uma pessoa mas não vai a tribunal porque não tem idade. Um pai dá uma estalada no filho e é violência doméstica.<br /><br />Como estes exemplos, muitos mais podiam ter sido aqui colocados, infelizmente, e é de facto preocupante aquilo em que o nosso país, mas também todo o mundo, se está a tornar.</span></div><div><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;"></span></div><div> </div><div><span style="font-family:verdana;font-size:85%;">Pedro</span></div>Pedro Lagareiro Santoshttp://www.blogger.com/profile/10306456341911576273noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3963979829460890341.post-88316823421522190062008-05-29T21:43:00.001+01:002008-05-29T21:45:29.640+01:00FUMAÇA DE BOLSO<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhlMDzb1BYylhG6qVTurONNPHbJ2JAagum8LMrbqBZFBzTG_AQfE478Qf33OOUGuE6nZNL1qjdLpIp01Rhu1YiKwUzwIq9iXhxXha8JesKdAGhOYyBlfyyxKUjHUu8UfmyvFU-ZZ829vq4/s1600-h/smoke.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5205903607485554130" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhlMDzb1BYylhG6qVTurONNPHbJ2JAagum8LMrbqBZFBzTG_AQfE478Qf33OOUGuE6nZNL1qjdLpIp01Rhu1YiKwUzwIq9iXhxXha8JesKdAGhOYyBlfyyxKUjHUu8UfmyvFU-ZZ829vq4/s200/smoke.jpg" border="0" /></a><span style="font-family:verdana;font-size:85%;"><strong>Pão e Circo</strong></span><br /><div><span style="font-family:verdana;font-size:85%;"></span></div><br /><div><span style="font-family:verdana;font-size:85%;">José Sócrates fumou no avião e caiu o carmo e a trindade. A comunicação social fez primeiras páginas e aberturas de telejornal, como se não houvessem assuntos muito mais importantes do que a fumaça do primeiro ministro. É caso para dizer que José Sócrates, mal ou bem, anda sempre nas bocas do povo, e dar nas vistas é algo que sempre lhe agradou. De sorriso nos lábios aproveitou mais um tempinho de antena para falar ao coração dos portugueses com um pedido de desculpas a nível nacional e até para informar em primeira mão que vai deixar de fumar, como se nós nos importássemos muito com isso.<br /><br />Se de facto a maior parte dos portugueses desconhecia que o primeiro ministro fumava (assim como a maior parte dos benfiquistas também não sabiam que o Rui Costa também tem esse vício), pois ele sempre cultivou junto das massas que era um homem exemplar de mente sã em corpo são e um desportista nato, o que a comunicação social acabou por fazer foi empolar a fumaça no avião sem nunca manchar muito a imagem de José Sócrates.<br />Apetece perguntar porque é que com tantos assuntos constrangedores para o país se vira a agulha para um assunto sem importância, enevoando o que de mais importante se passa em Portugal e que todos os dias toca fundo na carteira dos portugueses.<br />Dissecando a semana, acabamos por perceber que para o governo é muito mais importante manter as massas indignadas com a infracção à lei do tabaco por parte do primeiro ministro, do que com a visita deste à Venezuela de Chavez. Ou então para desviar a atenção de que as empresas portuguesas (e estão lá todas: BPI, BCP, CGD, Soares da Costa, Mota-Engil, Teixeira Duarte) se servem dos roubos obscenos da família de José Eduardo dos Santos ao povo Angolano e ao seu Estado, para aproveitar as oportunidades de negócio em Angola e que o governo fecha os olhos a isto em nome dos interesses nacionais. Ou ainda para dividir e amenizar a contestação à constante subida dos preços da gasolina e do gasóleo (chega a roçar a gozação) com grande parte desse aumento a reverter em imposto para o Estado e numa altura em que o Euro é mais forte que o Dólar.<br />No entanto a comunicação social acabou por não aprofundar devidamente qualquer um destes assuntos, preferindo focar insistentemente a fumaça de Sócrates num voo de Estado onde parece que a lei não se aplica, pois em casa de cada um de nós, um espaço privado portanto, somos livres de fumar sempre que nos apetecer.<br />De facto esta fumaça serviu e de que maneira a José Sócrates e ao governo, no entanto visto que os média andam tão interessados no incumprimento da lei do tabaco, valia a pena perguntar à ASAE porque é que nos estabelecimentos públicos não há vistorias de cumprimento da lei e porque é que a maior parte dos locais onde de início era proibido fumar por falta de condições de extracção, se voltou a fumar como dantes sem a realização qualquer tipo de obras. Fica o desafio.</span></div><div><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;"></span> </div><div><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;">Pedro</span></div>Pedro Lagareiro Santoshttp://www.blogger.com/profile/10306456341911576273noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3963979829460890341.post-40480923427449893342008-05-15T22:14:00.002+01:002008-05-15T22:17:18.479+01:00RECIBOS NO BOLSO<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5rZVFy81Gm32b0QfMFv5wD_Y2T8wi-xxwM45ylOt3H5vck6-IvsMJgcFkoNQnazHBng5914zFI9zOvCTzsoaxWBbu9dLj3TAA09fRaK4yZZcjAeVMuqQGnGamk4WmIlNZiqJ3a3n-H2s/s1600-h/precario1c[1].jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5200716665486792578" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5rZVFy81Gm32b0QfMFv5wD_Y2T8wi-xxwM45ylOt3H5vck6-IvsMJgcFkoNQnazHBng5914zFI9zOvCTzsoaxWBbu9dLj3TAA09fRaK4yZZcjAeVMuqQGnGamk4WmIlNZiqJ3a3n-H2s/s200/precario1c%5B1%5D.jpg" border="0" /></a><span style="font-family:verdana;font-size:85%;"><strong>Causa e Efeito</strong></span><br /><div><span style="font-family:verdana;font-size:85%;"></span></div><br /><div><span style="font-family:verdana;font-size:85%;">Em Portugal a taxa de desemprego, em semelhança com o petróleo, vai atingindo níveis recorde quase todos os dias. José Sócrates prometeu 150.000 novos empregos nas últimas legislativas, mas até agora essa, como tantas outras promessas, ainda não foi cumprida. Ainda assim convém lembrar que em Portugal ter trabalho dá muito trabalho. Mas os que realmente precisam de trabalhar para sustentar as suas famílias acabam por sujeitar-se ao que há e é por isso que um milhão de portugueses trabalha a recibo verde.<br /><br />Em rigor, o trabalhador a recibo verde trabalha como os outros, tem local de trabalho e cumpre ordens e horários. A diferença é que no final de cada mês passa um recibo verde para auferir o seu ordenado. Este milhão de portugueses, que por falta de alternativa se sujeita a este regime, trabalha sem subsídio de desemprego, sem assistência na saúde, sem licença de maternidade, sem subsídios de férias e natal e sem perspectiva de reforma.<br />A geração pós 25 de Abril é a mais qualificada de sempre, com um sem número de licenciados, pós-graduados, mestres e doutores. No entanto a revolução que permitiu este livre acesso à educação, não conseguiu ainda implementar o direito à protecção social para todos. Mas desengane-se quem pense que este é um problema de resolução fácil, que diz respeito apenas a uma única geração e que com ela acaba. É algo muito mais vasto do que isso e que se deve a uma dogmática protecção aos direitos adquiridos.<br />Numa linguagem muito particular e que não será totalmente desconhecida a José Sócrates, pode dizer-se que se o modelo laboral é rígido, o mercado adapta-se, logo (causa/efeito), os recibos verdes aumentam e a desigualdade social continua.<br />Os recibos verdes, um regime de excepção, são agora prática corrente num mercado de trabalho que não se guia por uma legislação laboral de igualdade. Com o seu constante aumento, os jovens que são “obrigados” a trabalhar com um regime que não lhes dá nenhuma segurança futura no seu posto de trabalho, acabam por não sair de casa dos pais, por não se casarem e por não terem filhos. Assim, o sistema de segurança social torna-se insustentável e, de futuro, não há reformas para ninguém. Nem para os que trabalham a recibo verde, nem para os outros.</span></div><br /><div><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;"></span></div><br /><div><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;">Pedro</span></div>Pedro Lagareiro Santoshttp://www.blogger.com/profile/10306456341911576273noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3963979829460890341.post-12498560717278450382008-05-03T23:23:00.002+01:002008-05-03T23:27:30.587+01:00TIROS NO BOLSO<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4ousI-6L4oiGTPypCKvshVLL6lpCSt39_P1hciKbJ_U_HqfJ8DNAP0XUMkWlcCN4DW3BggRCPkHq1RgLfkYkOaiP8XzLNKiGTFPxyVZ3NeQYDXCjCL66CD79sb5sJJ0iJrNR1f5tieeo/s1600-h/Danger_Girl_Body_Shots_3_800x600.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5196281722966476082" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4ousI-6L4oiGTPypCKvshVLL6lpCSt39_P1hciKbJ_U_HqfJ8DNAP0XUMkWlcCN4DW3BggRCPkHq1RgLfkYkOaiP8XzLNKiGTFPxyVZ3NeQYDXCjCL66CD79sb5sJJ0iJrNR1f5tieeo/s200/Danger_Girl_Body_Shots_3_800x600.jpg" border="0" /></a><strong><span style="font-family:verdana;font-size:85%;">Shots</span></strong><br /><div><span style="font-family:verdana;font-size:85%;"></span></div><div><span style="font-family:verdana;font-size:85%;">A retirada de Menezes da presidência do PSD não apanhou ninguém de surpresa. Depois do erro de dimensão política em que se tornou, não se avistava outra solução. Foram seis meses de asneiras, de falta de rumo e de enorme impreparação política. São estes os senhores que se assumem como futuros governantes deste país, e nós deixamos! Resta esperar que o adeus de Menezes seja extensivo ao Cunha Vaz, ao Ribau Esteves, ao Rui Gomes da Silva e a todos os outros que faziam parte desta pandilha.<br /><br />Jerónimo de Sousa, Secretário-geral do PCP, foi a Angola e depois de voltar, afirmou trazer com ele uma quase certeza de que o governo local e o MPLA estão muito empenhados na luta contra a corrupção. Uma vez Bernardino Soares também foi à Coreia do Norte e voltou convicto de que por lá o regime era democrático. Com toda a evolução positiva que o PCP teve a partir do momento em que Jerónimo de Sousa se tornou Secretário-geral, este tipo de afirmações mostram que afinal o PCP ainda não está no Século XXI.<br /><br />Não seria bom que o Presidente da República portuguesa tivesse tido mais cuidado e sensibilidade política na visita que realizou à Madeira? Não seria bom que em vez de se juntar ao coro de elogios à “obra” de Jardim, tivesse enaltecido o sacrifício dos portugueses que trabalham e pagam impostos e que contribuíram e contribuem para que a “obra” pudesse e possa ser feita e para que o folião Jardim tenha sido sucessivamente reeleito à conta disso?<br /><br />Em 2008 os portugueses têm esgotado as viagens para o Brasil. O endividamento das famílias mantém-se e vai alargando, até perto de 2043. Mas apesar disso o português continua a gastar dinheiro em belíssimos carros e em viagens de sonho. Durante a semana o português trabalha sempre o mais devagar possível, pois não lhe pagam o suficiente para se esforçar. No entanto assim que chega o fim-de-semana, o português “transforma-se” em dinamarquês, e até Domingo é non-stop sempre de carteira aberta.<br /><br />Nos EUA, Bento XVI enfrentou a onda de indignação que o escândalo de pedofilia provocou na sempre muito puritana sociedade americana. Num acto raro nos dias que correm, não fugiu ao escândalo e deu o exemplo quando assumiu o erro e pediu desculpas.</span></div><br /><div><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;"></span></div><br /><div><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;">Pedro</span></div>Pedro Lagareiro Santoshttp://www.blogger.com/profile/10306456341911576273noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3963979829460890341.post-14621113945173793082008-04-16T18:35:00.003+01:002008-04-16T18:40:27.471+01:00TELEMÓVEL DENTRO DO BOLSO<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2XKoJozydCvG-5MA9b7PitmpGHPXtcHexrbC8JD1glR2-1ao8uAiBm6TGEVSuK4fFDY0VjQoAwpJ_HlHWuxwSy0cDOgjL2DtjWzZTAI8IuXh0Frbz_Nx2pNloOr40uSop4NeDPuPNMW0/s1600-h/untitled.bmp"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5189899206625749954" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2XKoJozydCvG-5MA9b7PitmpGHPXtcHexrbC8JD1glR2-1ao8uAiBm6TGEVSuK4fFDY0VjQoAwpJ_HlHWuxwSy0cDOgjL2DtjWzZTAI8IuXh0Frbz_Nx2pNloOr40uSop4NeDPuPNMW0/s200/untitled.bmp" border="0" /></a><br /><div><span style="font-family:verdana;font-size:85%;"><strong>Todos somos culpados</strong></span></div><br /><div><span style="font-family:verdana;font-size:85%;"></span></div><br /><div><span style="font-family:verdana;font-size:85%;">Nos últimos quinze dias fomos obrigados a ver vezes sem conta (até à exaustão) a gravação, feita por um aluno “em camarote vip”, de uma disputa de telemóvel na sala de aula de uma escola secundária. Ao que parece, até ao aparecimento deste vídeo também ele gravado por telemóvel dentro de uma sala de aula, ninguém se tinha apercebido que a superproteção dos pais em relação aos seus filhos causa problemas de falta de autoridade e de educação nas escolas.<br /><br />A leviandade com que este assunto tem sido tratado na comunicação social não tem sido um grande exemplo de serenidade, e apesar da indignação, toda a gente se tem entretido com os vídeos que a televisão mostra, filmados por adolescentes em salas de aula, em clara falta de respeito pelas regras.<br />De mãos na cabeça, os pais de filhos adolescentes reprovam toda aquela cena, descarregando na jovem as frustrações, incompreensões e inseguranças que sentem em relação aos seus descendentes.<br />Os professores aproveitaram o tempo de antena para enfatizar ainda mais o seu calvário e num excelente exemplo de autoridade, afirmaram ter medo dos seus alunos. Acrescentaram também algumas linhas no seu caderno reivindicativo.<br />Com este episódio as escolas privadas autopromoveram-se, sem no entanto dizerem que sempre que têm problemas os atiram para o ensino público. Um bom exemplo de honestidade.<br />Com tantos actos quasi circenses, ainda houve tempo para ficarmos a saber que todos os que consultam o Youtube têm uma opinião tão ou mais válida sobre escola, adolescência e educação, como os psicólogos, sociólogos ou pedagogos de nomeada; excelente exemplo de respeito pelo conhecimento. Ficámos também a saber que já se pode “sacar da net” uma música do género hip-hop com as vozes da professora e da aluna. Também tivemos conhecimento que se vendem t-shirts com a frase “dá-me o telemóvel, já!”. E não será muito difícil descobrir que com tudo isto e muito mais, a autoridade dos professores está em pior estado do que há quinze dias.<br />Para já continua a “diversão”, todos os dias com novos casos ou com mais desenvolvimentos. É até se cansarem, ou até aparecer outra coisa que deixará de imediato o estado da disciplina nas nossas escolas para segundo plano. Até lá, o 9º C da escola secundária Carolina Michaelis é a turma mais famosa do país. Está em grande!</span></div><div><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;"></span> </div><div><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;">Pedro</span></div>Pedro Lagareiro Santoshttp://www.blogger.com/profile/10306456341911576273noreply@blogger.com1