Registos quase magnéticos sobre quase tudo, sem se dizer rigorosamente nada.
Nota: para todos aqueles que não comentem os posts, a tortura é serem obrigados a adquirir o livro "Desconstrutor de Neblinas", de Domingos Lobo, autografado pelo próprio.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

RECIBOS NO BOLSO

Causa e Efeito

Em Portugal a taxa de desemprego, em semelhança com o petróleo, vai atingindo níveis recorde quase todos os dias. José Sócrates prometeu 150.000 novos empregos nas últimas legislativas, mas até agora essa, como tantas outras promessas, ainda não foi cumprida. Ainda assim convém lembrar que em Portugal ter trabalho dá muito trabalho. Mas os que realmente precisam de trabalhar para sustentar as suas famílias acabam por sujeitar-se ao que há e é por isso que um milhão de portugueses trabalha a recibo verde.

Em rigor, o trabalhador a recibo verde trabalha como os outros, tem local de trabalho e cumpre ordens e horários. A diferença é que no final de cada mês passa um recibo verde para auferir o seu ordenado. Este milhão de portugueses, que por falta de alternativa se sujeita a este regime, trabalha sem subsídio de desemprego, sem assistência na saúde, sem licença de maternidade, sem subsídios de férias e natal e sem perspectiva de reforma.
A geração pós 25 de Abril é a mais qualificada de sempre, com um sem número de licenciados, pós-graduados, mestres e doutores. No entanto a revolução que permitiu este livre acesso à educação, não conseguiu ainda implementar o direito à protecção social para todos. Mas desengane-se quem pense que este é um problema de resolução fácil, que diz respeito apenas a uma única geração e que com ela acaba. É algo muito mais vasto do que isso e que se deve a uma dogmática protecção aos direitos adquiridos.
Numa linguagem muito particular e que não será totalmente desconhecida a José Sócrates, pode dizer-se que se o modelo laboral é rígido, o mercado adapta-se, logo (causa/efeito), os recibos verdes aumentam e a desigualdade social continua.
Os recibos verdes, um regime de excepção, são agora prática corrente num mercado de trabalho que não se guia por uma legislação laboral de igualdade. Com o seu constante aumento, os jovens que são “obrigados” a trabalhar com um regime que não lhes dá nenhuma segurança futura no seu posto de trabalho, acabam por não sair de casa dos pais, por não se casarem e por não terem filhos. Assim, o sistema de segurança social torna-se insustentável e, de futuro, não há reformas para ninguém. Nem para os que trabalham a recibo verde, nem para os outros.


Pedro

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