Registos quase magnéticos sobre quase tudo, sem se dizer rigorosamente nada.
Nota: para todos aqueles que não comentem os posts, a tortura é serem obrigados a adquirir o livro "Desconstrutor de Neblinas", de Domingos Lobo, autografado pelo próprio.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

FUMAÇA DE BOLSO

Pão e Circo

José Sócrates fumou no avião e caiu o carmo e a trindade. A comunicação social fez primeiras páginas e aberturas de telejornal, como se não houvessem assuntos muito mais importantes do que a fumaça do primeiro ministro. É caso para dizer que José Sócrates, mal ou bem, anda sempre nas bocas do povo, e dar nas vistas é algo que sempre lhe agradou. De sorriso nos lábios aproveitou mais um tempinho de antena para falar ao coração dos portugueses com um pedido de desculpas a nível nacional e até para informar em primeira mão que vai deixar de fumar, como se nós nos importássemos muito com isso.

Se de facto a maior parte dos portugueses desconhecia que o primeiro ministro fumava (assim como a maior parte dos benfiquistas também não sabiam que o Rui Costa também tem esse vício), pois ele sempre cultivou junto das massas que era um homem exemplar de mente sã em corpo são e um desportista nato, o que a comunicação social acabou por fazer foi empolar a fumaça no avião sem nunca manchar muito a imagem de José Sócrates.
Apetece perguntar porque é que com tantos assuntos constrangedores para o país se vira a agulha para um assunto sem importância, enevoando o que de mais importante se passa em Portugal e que todos os dias toca fundo na carteira dos portugueses.
Dissecando a semana, acabamos por perceber que para o governo é muito mais importante manter as massas indignadas com a infracção à lei do tabaco por parte do primeiro ministro, do que com a visita deste à Venezuela de Chavez. Ou então para desviar a atenção de que as empresas portuguesas (e estão lá todas: BPI, BCP, CGD, Soares da Costa, Mota-Engil, Teixeira Duarte) se servem dos roubos obscenos da família de José Eduardo dos Santos ao povo Angolano e ao seu Estado, para aproveitar as oportunidades de negócio em Angola e que o governo fecha os olhos a isto em nome dos interesses nacionais. Ou ainda para dividir e amenizar a contestação à constante subida dos preços da gasolina e do gasóleo (chega a roçar a gozação) com grande parte desse aumento a reverter em imposto para o Estado e numa altura em que o Euro é mais forte que o Dólar.
No entanto a comunicação social acabou por não aprofundar devidamente qualquer um destes assuntos, preferindo focar insistentemente a fumaça de Sócrates num voo de Estado onde parece que a lei não se aplica, pois em casa de cada um de nós, um espaço privado portanto, somos livres de fumar sempre que nos apetecer.
De facto esta fumaça serviu e de que maneira a José Sócrates e ao governo, no entanto visto que os média andam tão interessados no incumprimento da lei do tabaco, valia a pena perguntar à ASAE porque é que nos estabelecimentos públicos não há vistorias de cumprimento da lei e porque é que a maior parte dos locais onde de início era proibido fumar por falta de condições de extracção, se voltou a fumar como dantes sem a realização qualquer tipo de obras. Fica o desafio.
Pedro

quinta-feira, 15 de maio de 2008

RECIBOS NO BOLSO

Causa e Efeito

Em Portugal a taxa de desemprego, em semelhança com o petróleo, vai atingindo níveis recorde quase todos os dias. José Sócrates prometeu 150.000 novos empregos nas últimas legislativas, mas até agora essa, como tantas outras promessas, ainda não foi cumprida. Ainda assim convém lembrar que em Portugal ter trabalho dá muito trabalho. Mas os que realmente precisam de trabalhar para sustentar as suas famílias acabam por sujeitar-se ao que há e é por isso que um milhão de portugueses trabalha a recibo verde.

Em rigor, o trabalhador a recibo verde trabalha como os outros, tem local de trabalho e cumpre ordens e horários. A diferença é que no final de cada mês passa um recibo verde para auferir o seu ordenado. Este milhão de portugueses, que por falta de alternativa se sujeita a este regime, trabalha sem subsídio de desemprego, sem assistência na saúde, sem licença de maternidade, sem subsídios de férias e natal e sem perspectiva de reforma.
A geração pós 25 de Abril é a mais qualificada de sempre, com um sem número de licenciados, pós-graduados, mestres e doutores. No entanto a revolução que permitiu este livre acesso à educação, não conseguiu ainda implementar o direito à protecção social para todos. Mas desengane-se quem pense que este é um problema de resolução fácil, que diz respeito apenas a uma única geração e que com ela acaba. É algo muito mais vasto do que isso e que se deve a uma dogmática protecção aos direitos adquiridos.
Numa linguagem muito particular e que não será totalmente desconhecida a José Sócrates, pode dizer-se que se o modelo laboral é rígido, o mercado adapta-se, logo (causa/efeito), os recibos verdes aumentam e a desigualdade social continua.
Os recibos verdes, um regime de excepção, são agora prática corrente num mercado de trabalho que não se guia por uma legislação laboral de igualdade. Com o seu constante aumento, os jovens que são “obrigados” a trabalhar com um regime que não lhes dá nenhuma segurança futura no seu posto de trabalho, acabam por não sair de casa dos pais, por não se casarem e por não terem filhos. Assim, o sistema de segurança social torna-se insustentável e, de futuro, não há reformas para ninguém. Nem para os que trabalham a recibo verde, nem para os outros.


Pedro

sábado, 3 de maio de 2008

TIROS NO BOLSO

Shots
A retirada de Menezes da presidência do PSD não apanhou ninguém de surpresa. Depois do erro de dimensão política em que se tornou, não se avistava outra solução. Foram seis meses de asneiras, de falta de rumo e de enorme impreparação política. São estes os senhores que se assumem como futuros governantes deste país, e nós deixamos! Resta esperar que o adeus de Menezes seja extensivo ao Cunha Vaz, ao Ribau Esteves, ao Rui Gomes da Silva e a todos os outros que faziam parte desta pandilha.

Jerónimo de Sousa, Secretário-geral do PCP, foi a Angola e depois de voltar, afirmou trazer com ele uma quase certeza de que o governo local e o MPLA estão muito empenhados na luta contra a corrupção. Uma vez Bernardino Soares também foi à Coreia do Norte e voltou convicto de que por lá o regime era democrático. Com toda a evolução positiva que o PCP teve a partir do momento em que Jerónimo de Sousa se tornou Secretário-geral, este tipo de afirmações mostram que afinal o PCP ainda não está no Século XXI.

Não seria bom que o Presidente da República portuguesa tivesse tido mais cuidado e sensibilidade política na visita que realizou à Madeira? Não seria bom que em vez de se juntar ao coro de elogios à “obra” de Jardim, tivesse enaltecido o sacrifício dos portugueses que trabalham e pagam impostos e que contribuíram e contribuem para que a “obra” pudesse e possa ser feita e para que o folião Jardim tenha sido sucessivamente reeleito à conta disso?

Em 2008 os portugueses têm esgotado as viagens para o Brasil. O endividamento das famílias mantém-se e vai alargando, até perto de 2043. Mas apesar disso o português continua a gastar dinheiro em belíssimos carros e em viagens de sonho. Durante a semana o português trabalha sempre o mais devagar possível, pois não lhe pagam o suficiente para se esforçar. No entanto assim que chega o fim-de-semana, o português “transforma-se” em dinamarquês, e até Domingo é non-stop sempre de carteira aberta.

Nos EUA, Bento XVI enfrentou a onda de indignação que o escândalo de pedofilia provocou na sempre muito puritana sociedade americana. Num acto raro nos dias que correm, não fugiu ao escândalo e deu o exemplo quando assumiu o erro e pediu desculpas.


Pedro