Registos quase magnéticos sobre quase tudo, sem se dizer rigorosamente nada.
Nota: para todos aqueles que não comentem os posts, a tortura é serem obrigados a adquirir o livro "Desconstrutor de Neblinas", de Domingos Lobo, autografado pelo próprio.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

PELUCHE DE BOLSO

Muhammad, o Urso

O Sudão deve ser um país fascinante para se visitar ou mesmo para se viver. Apesar dos massacres às populações do Darfur, certamente pontuais e fruto de rivalidades clubísticas, os sudaneses mostram-se como um povo extremamente hospitaleiro, sempre prontos a acolher no seu regaço gente de outras culturas, com ideais e religiões diferentes das suas.
Daí que uma professora britânica, e o seu ursinho de pelúcia, tenha trocado as clássicas escolas Londrinas por um modesto colégio em Cartum. Qualquer um de nós o faria, até porque o tempo por lá é excelente e bem mais solarengo que em Inglaterra.
Mas esta aventura no Sudão não correu de feição à professora, tudo por culpa do seu urso de pelúcia. Na escola onde leccionava, decidiu levar o seu companheiro felpudo para a sala de aulas, onde pediu aos seus alunos que o baptizassem. Os alunos, que lhe podiam ter chamado “Teddy”, “Misha” ou “Abdull”, decidiram-se, depois de muito pensarem, chamar-lhe Muhammad. Deveras inovador.
Ora, o nome do Profeta dado a um urso, valeu à professora a saída da escola sob escolta (no Sudão os estrangeiros têm grandes mordomias). Da escola seguiu para uma cadeia local, onde a esperava uma multidão enlouquecida que se prontificava a linchá-la. O julgamento a que foi sujeita valeu-lhe uma condenação de quinze dias de cadeia, isto apesar do ministro da justiça, de seu nome Muhammad (não tem qualquer grau de parentesco com o boneco) ter pedido três anos de prisão e dezenas de chicotadas, para castigar a senhora por incitamento à rebelião.
Neste Islão pacífico é considerada blasfémia grave qualquer representação ou alusão ao Profeta. O simples facto de se dar o nome mais comum entre os muçulmanos a um simples boneco de peluche, quase que significou para a professora britânica uma punição violenta que se podia facilmente transformar em morte. Só que neste mesmo Islão pacífico, não parece ser blasfémia grave que a maioria dos terroristas ostente na sua graça o nome mais sagrado que por lá existe. É certo que entre baptizar um inocente boneco ou massacrar e chacinar centenas de inocentes, o crime do boneco seja incomparavelmente mais grave.
Daí que se o seu destino de férias for o Sudão e quiser levar um urso ou outro boneco qualquer na viagem, para que não tenha problemas com as autoridades sudanesas chame-lhe por exemplo José, que nem lá, nem tão pouco cá, é uma graça considerada sagrada.

Pedro